Autor: Jade Coelho, Bahia Noticias | Foto: Reprodução/Pixabay
São otimistas as previsões de que a Bahia já estaria chegando ao pico da pandemia. Na verdade, o estado ainda não está se aproximando do início do declínio da curva de contágio. A conclusão é de um estudo do Grupo Internacional de Engenharia de Controle para Enfrentamento do Covid-19. Os modelos matemáticos indicam que o pico da pandemia na Bahia não deve acontecer no mês de junho, como era esperado, e ainda que existe baixa probabilidade de que ele ocorra em agosto.
Um dos pesquisadores do grupo, o professor Marcus Americano, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica que esse fato “não é mal sinal”. “Significa que [o estado] está empurrando curva para frente”, disse.
Participam do estudo também os especialistas Igor Pataro da Universidade de Almería na Espanha, e Marcelo Menezes Morato e Julio E. Normey Rico da Universidade Federal de Santa Catarina.
A intenção do estudo é gerar modelos epidemiológicos e sistemas computacionais que possibilitem previsões e tomadas de decisão para o controle da Covid-19. Para isso, os especialistas levam em consideração informações disponibilizadas pelos órgãos oficiais, como o número de infectados acumulados, casos letais e recuperados. Todos esses dados alimentam modelos para a descrição, em linguagem matemática, de expectativas de números da pandemia. A partir dessas informações, são elaboradas as previsões. Em entrevista ao Bahia Notícias, o professor Marcus Americano destacou que o grupo só trabalha com dados notificados e que as previsões são feitas em uma realidade sem vacina, uma vez que a imunização contra a Covid-19 ainda está em fase de testes.
Um exemplo de como o cenário pode mudar foi sinalizado pelo professor ao citar a queda no isolamento social notado no São João. Como cenários são feitos a partir de tendências de comportamento, o que estava previsto na semana anterior a data, que foi marcada por episódios de quebra da quarentena, e que possivelmente vão refletir no cenário nas próximas semanas.
Os modelos epidemiológicos gerados pelo sistema com base nos dados divulgados diariamente pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) indicam um crescimento nas últimas semanas do número de reprodução, que mede a velocidade de contágio do vírus e consequentemente interfere na dinâmica do sistema da curva de transmissão. O professor Marcus Americano identificou que há duas semanas o número de reprodução estava em 1.29, e nesta semana passou a 1.42.
Claro que previsão não é precisão. A taxa de erro do sistema é em média em torno de 5%. O modelo matemático usa dados passados, e as previsões estão sujeitas a erros. Elas são tendência, e mudam à medida que o tempo passa e o comportamento das pessoas é alterado. “A gente está trabalhando com o comportamento humano, e o ser humano é um ser imprevisível”, ponderou o especialista em Engenharia de Controle.
O ramo das ciências exatas que estuda sistemas e procura maneiras de controlar o meio através da interferência nesses sistemas. No cenário atual, de uma pandemia, isso significa que através dos modelos epidemiológicos elaborados pelos engenheiros de controle, os profissionais calculam, por exemplo, as intensidades e planejamento de isolamento social considerando o melhor balanceamento entre saúde e economia para a sociedade.
Apesar da intenção do grupo de gerar previsões e auxiliar no planejamento e tomada de decisões em relação à pandemia, o professor lamenta a falta de diálogo entre as gestões e a academia. Marcus sinaliza que essa não é uma realidade apenas na Bahia, mas que a sociedade acaba perdendo, uma vez que as universidades se empenham em muitos sentidos e temas para criar soluções para problemas.
O artigo do Grupo Internacional de Engenharia de Controle para Enfrentamento do Covid-19 foi submetido a revisão por entidades internacionais em um congresso, e tmabém foi publicado na The IFAC-CSS Corona Control Community.