PARA FAZER A COISA CERTA
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PARA FAZER A COISA CERTA

Estou como a andorinha da fábula: levando a gota d’água no bico como contribuição para apagar o incêndio da floresta.
A semana terminou agitada com a demissão do Ministro Moro e a reação do Presidente em pronunciamento à Nação. É difícil fazer análises factuais no calor das notícias que se sucedem nos meios de comunicação. No momento, as opiniões lastreiam-se mais nas preferências por um ou outro personagem. Nestas crônicas procuramos estar com os olhos abertos e não nos deixarmos arrastar para posições que não estejam lastreadas em fatos. Sobre a questão Moro, vou deixar a poeira baixar e comentar no próximo domingo.
Para hoje, economia.
A tônica do governo, até recentemente, tinha sido perseguir o equilíbrio das contas públicas por entender que esse parâmetro é o principal indicador de economia sadia. Por ele, os Estados Unidos não estariam incluídos no rol desses privilegiados. O risco de a economia governamental de qualquer nação colapsar representa perigo endêmico, que pode arrastar seu sistema econômico-financeiro ao desastre. Foi o que se procurou evitar por aqui, após uma década de irresponsabilidade fiscal. Naquelas circunstâncias, tudo OK, apesar de passado um ano os resultados terem sido tímidos.
A busca do decantado equilíbrio terá que ser postergada, tendo em vista as despesas com o combate à pandemia. Passada a crise, o país deverá buscar o crescimento puxando-se para cima por seus próprios cabelos. Vamos ter que esquecer a economia de papéis, o tal “mercado” e partir para a economia real, a do empreendimento, a da ousadia, a das obras. Os investidores querem realidades e não especulação no mercado secundário, isso já acontecia antes do vírus, daí os PIBinhos.
Causa estranheza que em plena crise que leva a consequências econômicas impensáveis, autoridades da área econômica não tenham percebido que as circunstâncias mudaram e continuem com o discurso de subserviência ao “mercado”, e tentem desmontar o Sistema S e desacreditar o funcionalismo que estrutura o que há de melhor e permanente no serviço público do país, entre outras crendices ditas liberais.
Vai aqui um convite ao ministro Guedes. Escolha algumas horas para relaxar e fazer uma pesquisa de campo. Pode ser hoje no almoço. Se estiver em Brasília, vá ao Senado, ou ao Ministério Público, ou ao Ministério da Justiça, e desfrute de um dos restaurantes-escola administrados pelo SENAC.
Mas se preferir, em qualquer local do Brasil, vá à cozinha do melhor restaurante e pergunte, do cozinheiro ao garçom, onde eles aprenderam suas profissões. Faça o mesmo com o marceneiro que está fazendo o armário da sua casa, ao mecânico do seu carro, a enfermeira que colhe seu sangue para exame. Sua esposa deve saber as resposta da cabelereira e da manicure que a atende. Faça essa pergunta nos hospitais, nas fábricas, nos escritórios, nos laboratórios. A resposta será: numa escola do Sistema S.
O pessoal de atividade intermediária é formado pelo Sistema S. Não há outra instituição fazendo isso. Nosso sistema educacional forma doutores, o oficial está falido, o particular é um negócio. Há que considerar o SESI e o SESC que prestam serviços sociais aos trabalhadores e suas famílias.
Como engenheiro, sei bem o que é contar com colaboradores oriundos do SENAI. Tremo em pensar que se pode estar cogitando acabar com esse patrimônio, porque alguns empresários, sem visão de economia, querem economizar quirelas incidentes nas folhas de pagamento. Não entre nessa, Ministro.
Se existem problemas nas federações controladoras do Sistema S, resolva isso pela legislação. Cure a doença, não mate o doente!
Outra questão é a perseguição injustificada ao funcionalismo. Só vi algo parecido quando FHC chamou os aposentados de vagabundos, o que marcou o início do fracasso do seu segundo mandato.
Funcionários públicos chegam aos postos que ocupam por concorridos concursos públicos e disso se orgulham. São vencedores. Não cabe desmerecê-los. Desvios devem ser corrigidos. A maioria ocorre em cargos de confiança indicados por políticos. O funcionalismo é de altíssimo nível. Se a estrutura do serviço público é emperrada, cabe aos administradores, como V.Exa. cuidarem de azeitá-la, antes de colarem rótulos de aproveitadores em trabalhadores sérios.
Só para lembrar. Militares também são servidores públicos, mas para mexer aí é preciso coragem, né?
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Abr. 2020