Os radialistas Humberto Pinheiro e ‘Doutor’ Whashington Rodrigues, da rádio Clube FM de Vitória da Conquista, protagonizaram na tarde desta terça-feira (22) uma entrevista no mínimo constrangedora, tanto para as pessoas de bom senso, que esperam se informar, quanto para os jornalistas do rádio local, que estão caindo em credibilidade. A transmissão foi ao vivo, para dezenas de cidades da Bahia e Minas Gerais, além da internet.
As convidadas do programa foram Elenilda Ramos, presidente do SIMMP – Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista e Greissy Reis, vice presidente da entidade.
Já no início da entrevista, um dos decanos do jornalismo do rádio baiano, Humberto Pinheiro, definiu que o tema seria a Portaria que estabelece o novo piso salarial dos professores da educação básica, de R$ 3.845,63, calculado com base na comparação do valor aluno-ano do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) dos dois últimos anos.
A entrevista começou normal cordial nos primeiros minutos, até que Elenilda Ramos, presidente do SIMMP, disse que apesar de “animar a gente”, esse repasse, com o atraso de 03 anos, não foi feito porque o presidente Bolsonaro seja “bonzinho”. Pronto. Depois dessa frase, foi despertada a ira de Humberto Pinheiro, bolsonarista convicto, que a interrompeu, acusando-a de não ser justa, desiquilibrada e ‘politizar’ sua liberdade de expressão. A partir daí, os ‘donos da casa’, tomaram posse dos microfones e a cortesia e bom senso foram jogados dentro da lixeira da paixão política dos “jornalistas”.
Confira aqui o que ocorreu a partir da intervenção dos apresentadores:
A partir deste momento, uma das cenas mais vergonhosas da história do jornalismo do rádio de Vitória da Conquista foi ouvida. Os donos da casa, impediram a mulher de concluir sua explanação e se opuseram a que esta ousasse falar qualquer opinião contra o presidente Bolsonaro.
“O senhor me faz uma pergunta, me faz explanar sobre o assunto e me interrompe, não me deixa falar”, protestou a sindilcalista Elenilda.
A partir daí, o ‘Doutor’ Whashington interferiu pedindo ordem, mas ao mesmo tempo, menosprezando o incompleto raciocínio da professora e pedindo para que a mesma colocasse a ‘realidade’, dando a entender que a mesma falava mentiras. O mesmo ‘Doutor’ Whashington impediu a fala da professora, completamente alterado, por uma ira inaceitável a quem se propõe ser jornalista.
“Entre outras agressões pessoais, ambos apresentadores começaram citar fatos da vida particular da professora presidente do sindicato.
Posteriormente, durante a entrevista, os apresentadores revelaram ainda que foram ‘ameaçados’ pelas sindicalistas, que teriam prometido colocar um carro de som na porta da rádio, para rebater as constantes acusações que os radialistas fazem à categoria.
Quando uma das sindicalistas argumentou que a rádio Clube demoniza as paralizações dos professores, que ocorrem quando eles acham que o governo está ‘errado’, o senhor Humberto Pinheiro voltou a interrompê-la, dizendo que a o poder público só está errado ‘na ótica da professora. A partir daí os “jornalistas” perderam o equilíbrio e partiram para agressões verbais, citando inclusive fatos da vida particular das entrevistadas e com diversas acusações e gritos de “sai daqui, saia daqui” apontando o braço em direção do rosto da mulher.
O apresentador partiu pra cima da presidente do SIMMP com gestos bruscos e a expulsou do estúdio, sob gritos e ofensas, precisando inclusive ser contido pelo colega Whashigton Rodrigues.
Nós pedimos um posicionamento da direção da Clube FM, mas até o momento não fomos atendidos.
Comunicadores repudiaram a ação dos radialistas
O radialista e historiador Elton Becker classificou o episódio como crime de infração do artigo 221, inciso III da Constituição da República Federativa do Brasil,que determina que a programação e a produção de televisão, assim como a de rádio, devem atender ao critério jornalístico, que envolve primar pela informação e o respeito às diversas opiniões.
“O rádio não pode se instrumento de agressão, de bordoada ou de hostilidade. Desde sempre, o veículo exerce múltiplas funções em nossas vidas, seja de informação, seja de entretenimento ou de companhia para todas as horas do dia. Então, como alguém pode usar o microfone como investida, sobretudo contra duas mulheres? Como se não bastasse, educadoras?”, questionou Becker
A apresentador da Brasil FM instou que os apresentadores “se encham de vergonha e se retratem” e que “parem de infamar, de macular, a história do rádio de Conquista”
Para o Psicólogo, Ativista de Direitos Humanos, Comunicador e graduando em jornalismo, Ricardo Alves, a lamentável página da bela história do rádio conquistense foi escrita com discurso de ódio e chamou os apresentadores de psicopatas.
“A liberdade de expressão é um direito inegociável na democracia. Mas imprensa livre não quer dizer liberdade para cometer crimes de ódio e pistolagem moral. Os psicopatas do meio dia, há tempos vem usando os microfones da rádio clube para atacar movimentos sociais, mulheres e qualquer outro pensamento divergente da linha editorial do seu programa|”, afirmou em um texto divulgado nos grupos de whatsapp.
Ricardo podera que o fato foi “um claro episódio de misoginia (…) é necessário que entidades civis e de classe como sindicatos e associações de jornalistas se manifestem e exijam que tal ato não fique impune”. O ativista pediu ainda que a “Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, hoje chefiada por uma mulher, também se manifestem pois, tais radialistas se apresentam com clara vinculação de defesa editorial da gestão”
O jornalista e radialista Caique Santos, com 32 anos de experiência de rádio e que criou a concepção do programa ”Sudoeste Agora”, quando era Diretor de Jornalimo da emissora, também lamentou a triste página, que mancha a história de uma rádio que entre outros feitos, projetou o saudoso prefeito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão.
“Quando eu comandei o jornalismo da emissora, não era essa a tônica da linha editorial proposta e aceita pela diretora da rádio, Dra Maria LuizA. A intenção era fazer um jornalismo factual, profissional e imparcial, com entrevistas e quadros com informações de utilidade pública, dando voz às demandas da sociedade e acima de tudo, exemplo de como fazer um jornalismo pautado na objetividade, com o mínimo possível de imposição de opiniões radicais,muito menos com ataques a qualquer grupo ou pessoa”, comentou o radialista, que foi convidado a se retirar da rádio, por não se adequar ao atual estilo que aí está.
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Fonte: Blog do Caique Santos | Foto: Reprodução