Festival Suíça Bahiana conclui 9ª edição como exemplo de música autoral, organização e segurança
Cultura Dia a Dia

Festival Suíça Bahiana conclui 9ª edição como exemplo de música autoral, organização e segurança

O segundo e último dia do Festival Suíça Bahiana, neste domingo (15), manteve a estrutura de shows inéditos, canções autorais, encontros inesperados entre artistas de diferentes estilos, e tudo isso entremeado por apresentações de DJ’s. A organização, que envolveu o Coletivo Suíça Bahiana e a Prefeitura de Vitória da Conquista, foi um dos pontos elogiados pelo público, além da qualidade da programação musical e da valorização de temas como a acessibilidade e a preservação do meio ambiente.

“É um evento que se consolidou. Que vem acontecendo desde 2010 e é lei municipal. Então, não pode mais ficar fora da agenda cultural de Vitória da Conquista”, avaliou Gilmar Dantas, técnico em Assuntos Culturais da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sectel) e responsável pela curadoria do Suíça Bahiana.

Passaram pela Concha Acústica do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima o Duo Finlândia, com a participação de Gabriela Mello; Africania, que dividiu o palco com Lerry; Supremo, tendo como convidada a cantora Eulá; e a headliner do evento, Rachel Reis. Entre um show e outro, o público dançou e apreciou o som dos DJ’s Paulinha Chernobyl e Lerry.

Em sua participação como convidada do Duo Finlândia, a violoncelista, cantora e professora de música Gabriela Mello cantou e tocou em duas canções da dupla de anfitriões: “Nandhara” e “Cariri Junino”. Entre ambas, incluiu um intermezzo com a citação de um trecho da música “Amarração”, composta pelo cantador Elomar Figueira – que, aliás, é avô de Gabriela, filha do maestro João Omar Mello.

Duo Finlândia, com Gabriela Mello (ao centro)

Assim, o cancioneiro elomariano, com suas evocações do universo local da caatinga, mesclou-se à mistura de sons eletrônicos com referências musicais do Brasil e da Argentina, trazidas pelo Duo Finlândia. Segundo Gabriela, a escolha de “Amarração”, a título de contribuição sua ao show para o qual foi convidada, não foi por acaso. “É a maneira como eu me identifico como pessoa, não só como artista. É o que me move, a nossa tradição”, explicou. “Rubem Alves falava que a gente é o que a gente ama. E eu amo isso, não teria como eu não trazer um pouco disso”.

Gabriela incluiu no show um trecho de “Amarração”, de Elomar Figueira

Conquistense como Gabriela Mello, a cantora Eulá também participou do Suíça Bahiana como convidada. Esteve no show de Supremo, onde cantou três músicas: “Diamantes”, “Chances” e “Mundo Imaterial” – as quais, segundo ela, exemplificam a diversidade que marca a programação do Suíça Bahiana.

“Além de ser de extrema importância, é uma necessidade. Eu sempre digo que o mínimo a se fazer é entregar a diversidade. E, também, artisticamente falando, me colocar em versões e perfis diferentes do que o público talvez já esteja acostumado”, observou a cantora, que, em 2021, foi uma das concorrentes do programa The Voice, exibido pela Rede Globo.

A cantora Eulá, que cantou no show de Supremo

Organização e boas atrações

A última atração, Rachel Reis, subiu ao palco por volta das 21h. Baiana de Feira de Santana, e já tendo no currículo o EP “Encosta”, lançado em 2021, e o álbum “Meu Esquema”, de 2022, a artista está entre os indicados ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa”.

A premiação do Grammy será anunciada no dia 16 de novembro, em Sevilha, Espanha. E, enquanto isso não ocorre, Rachel Reis segue com sua agenda de shows pelo Brasil, arregimentando novos admiradores – entre eles, a auxiliar de logística Claudinéia Pires, que, ao reservar seu ingresso para o Suíça Bahiana, tinha como principais objetivos ver duas atrações, uma em cada dia: “O que me atraiu foi a banda Maglore e Rachel Reis”, disse.

Rachel Reis, a headliner do FSB 2023 // Foto: Rafael Flores

“Eu já tinha curtido Maglore antes, em Salvador. Aí, curti ontem, aqui em Vitória da Conquista”, contou Claudinéia, que aprovou também o ambiente do evento: “Foi uma edição muito organizada. As atrações foram muito boas, e a galera também foi super tranquila”.

Claudinéia Pires

Resistência

Claudinéia não foi a única a elogiar a tranquilidade que predominou durante os dois dias do evento. A publicitária Letícia Soares, que frequenta o Suíça Bahiana desde 2017, garantiu que a sensação de acolhimento está entre as qualidades do festival. “Como sempre, muito bem organizado. Tem esse cuidado. É uma galera que preza uns pelos outros, que se cuida. A gente não sente medo de estar aqui”, analisou, ressaltando: “Para a gente, enquanto LGBT, também é importante se sentir seguro neste lugar”.

Letícia integra o Coletivo POC, um movimento voltado para a comunidade LGBTQIAPN+, cujo propósito é promover atividades artísticas, como cinema, teatro e artes visuais, e estabelecer discussões sobre afetividades. O presidente do coletivo é seu amigo, o coordenador pedagógico Jonathan Soares (a igualdade nos sobrenomes é coincidência, pois os dois não são parentes, mas “irmãos de coração”, como frisou a publicitária).

Jonathan e Letícia Soares, do Coletivo POC

Para Jonathan, que esteve em quase todas as edições e também já pode se considerar um habitué, o ato de participar do evento transcende os limites da música. “É um lugar de reencontro, e isso me abraça. Também é um lugar de conhecimento, pois acabo conhecendo novas bandas. E é um lugar político. A gente conhece e encontra pessoas que participam dos mesmos movimentos e acreditam nas mesmas lutas que a gente. É um festival necessário. Para além das bandas e de qualquer outra coisa, é uma resistência dentro da cidade”, observou.

Marx Eduardo Sá

“Festival imperdível”

O músico Marx Eduardo Sá tocou em diferentes edições do Suíça Bahiana com sua banda, Os Barcos, na qual era vocalista e baixista. Desta vez, integrou a plateia do festival, com o qual mantém uma afinidade que já dura anos. Afinal, a primeira edição foi em 2010, mesmo ano em que Os Barcos iniciaram suas atividades. “Minha história se confunde com o surgimento do Suíça Bahiana”, relatou Marx, que lamentou não ter sido possível comparecer ao primeiro dia, no sábado (14). “Queria muito ter vindo, pelo som e pelos amigos. Mas hoje, o que me moveu é justamente porque o Suíça Bahiana é um festival imperdível”, comentou o artista.

Samira Costa, Wallace Sousa, Warley Silva e Jussara Oliveira, do Mãos que Reciclam

Mãos que Reciclam

Durante os dois dias do Suíça Bahiana, enquanto o público desfrutava da programação musical, uma equipe trabalhou na coleta de materiais recicláveis, recolhendo latas de bebida e refrigerante, além de garrafas e copos plásticos. O grupo faz parte da Acres, uma associação que reúne mais de 500 catadores de materiais recicláveis em Vitória da Conquista. A entidade é vinculada ao programa Mãos que Reciclam, desenvolvido pela Defensoria Pública da Bahia.

O Mãos que Reciclam foi um dos parceiros na organização do festival Suíça Bahiana. No sábado, a equipe recolheu aproximadamente 30 quilos de materiais. E, no domingo, a coleta rendeu entre 70 e 80 quilos. “Para nós, é um prazer imenso saber que estamos contribuindo para retirar o material reciclável do espaço. E sabendo, também, que estamos contribuindo, principalmente, com a preservação do meio ambiente”, disse o presidente da Acres, Wallace Sousa.

Wallace trabalhou ao lado dos colegas Jussara Oliveira e Warley Silva. O grupo foi reforçado pela estudante Samira Costa, 12 anos, que participou da atividade para cumprir uma atividade pedagógica da Escola Municipal Cláudio Manuel da Costa, onde cursa o 6º Ano do Ensino Fundamental. “O nosso trabalho é muito importante”, afirmou a garota.

 

 

Fonte: PMVC | Foto: PMVC