Autor: Fpress | Foto: Divulgação
Pelo segundo mês seguido, a Amazônia bateu o recorde recente de desmatamento, segundo dados do Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Foi também o pior abril da série histórica atual, que tem início em 2015 –os dados anteriores eram menos precisos.
Em abril, os alertas de desmatamento do Deter totalizaram mais de 580 km² de destruição na floresta, um aumento de quase 43% na devastação em relação ao mesmo mês em 2020, que registrou cerca de 406 km² de desmate. Os números de abril deste ano ainda devem crescer, considerando que os dados de desmate apresentados vão até o dia 29.
O recorde anterior para o mês pertencia a 2018, com 489 km² desmatados. O ano viu uma significativa explosão no desmate.
Março recente já tinha registrado recorde, com mais de 367 km² de desmatamento.
Os meses a seguir costumam ter níveis de desmate superiores, por causa do início do período seco na floresta, que facilita a derrubada de árvores e as queimadas.
Os dados do Deter têm a função de ajudar órgãos de fiscalização ambiental em ações de combate a crimes ambientes, mas também podem ser usados para observar o avanço do desmatamento no bioma. No último ano, as taxas totais medidas pelo Deter ficaram relativamente próximas aos dados do Prodes, que dá o número consolidado de desmatamento no ano.
O crescimento no desmate têm ocorrido apesar da presença militares na Amazônia pela Operação Verde Brasil 2, destinada especificamente a combate a crimes ambientais e que terminou no fim de abril. O uso do Exército dessa forma, principal aposta do governo Jair Bolsonaro (sem partido) para lidar com o desmate, é contestada por especialistas da área.
Desde 2018, há crescimentos constantes do desmatamento na Amazônia. O processo, porém, acentuou-se sob Bolsonaro. No primeiro ano de governo do atual presidente, a devastação da floresta cresceu 34%. No segundo, 9,5%. Os valores anuais de desmate já passam dos 11 mil km², segundo dados do Prodes, projeto também sob a responsabilidade do Inpe.
Poucas ações efetivas do governo têm sido colocadas em prática para conter a destruição. Bolsonaro e ministros do seu governo, ainda em 2019, quando o desmate e as queimadas começaram a aumentar acentuadamente, minimizaram e questionaram publicamente os dados e o órgão que os produz, o Inpe.
Ao mesmo tempo, internacionalmente há preocupação com a situação da Amazônia. Mercados estrangeiros que compram do país têm constantemente cobrado ações para conter o desmatamento.
Pesquisas e investigações já demonstraram que a pecuária é um dos principais vetores de desmatamento. O desmate –junto à pecuária– é a principal fonte de emissão de gases-estufa no Brasil. Com o mundo olhando cada vez mais atentamente para as emissões e para ferramentas de contenção delas, o Brasil, mesmo não sendo um dos grandes países emissores, já começou a sofrer financeiramente por causa do desmatamento.
Recentemente, Noruega e Alemanha cortaram recursos para que iriam para a Amazônia devido ao aumento do desmate –além da paralisação do bilionário Fundo Amazônia.
Durante a Cúpula do Clima, convocada pelo presidente americano Joe Biden, foi anunciado uma iniciativa internacional, com participação da iniciativa privada, de pagamento pela conservação das florestas (a partir dos mecanismos de REDD+). A possibilidade de conseguir esses recursos, porém, está atrelada a um histórico de redução de desmatamento nos últimos anos, o que deve bloquear tentativas brasileiras de ter acesso ao dinheiro.
Conforme a cúpula se aproximava, autoridades do Brasil esperavam verbas de países desenvolvidos para conter o desmate. O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) tem defendido a ideia que o Brasil precisa ter acesso a esse dinheiro internacional para então começar a reduzir o desmate.
Salles, porém, foi um dos responsáveis por bloquear o Fundo Amazônia, que fornecia verbas inclusive para os programas de combate a queimadas na Amazônia.