Bolsonaristas organizam protestos neste domingo contra o Supremo Tribunal Federal e em defesa do deputado Daniel Silveira; presidente ainda não confirmou presença nos atos e tem sido orientado a não participar
Ao discursar neste sábado, 30, em um evento oficial em Uberaba (MG), o presidente Jair Bolsonaro (PL) incentivou apoiadores que vão participar dos atos marcados para este domingo, 1º, em protesto contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e em defesa do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ). “Quero dizer a todos vocês que, por ventura, forem às ruas amanhã, não para protestar, mas para dizer que o Brasil está no caminho certo, que o Brasil quer que todos joguem dentro das quatro linhas da Constituição, e dizer que não abrimos mão da nossa liberdade”, disse.
Bolsonaro ainda não confirmou presença nos protestos deste domingo. Para o entorno do presidente, o melhor seria ele não ir à manifestação. Aliados dizem, contudo, que Bolsonaro é muito imprevisível e que é difícil saber qual decisão ele vai tomar. A avaliação é de que o chefe do Executivo teve ganhos políticos ao confrontar o Supremo no caso Silveira, que recebeu o perdão após ser condenado pela Corte, e agora é preciso baixar a temperatura da crise.
“Amanhã, não será um dia de protestos, será um dia de união do nosso povo para um futuro cada vez melhor a todos nós”, afirmou o presidente, durante cerimônia de abertura da ExpoZebu, maior feira de gado zebu do mundo. Os atos foram convocados em meio a uma nova escalada de enfrentamento aos ministros do STF e à Justiça Eleitoral.
Em um ato dentro do Palácio do Planalto, na quarta-feira, 27, Bolsonaro criticou a condenação imposta a Silveira pelo STF e colocou novamente em suspeição a lisura das eleições e das urnas eletrônicas. Na ocasião, o presidente sugeriu uma contagem de votos pelas Forças Armadas.
Daniel Silveira, que recebeu perdão de Bolsonaro no último dia 21 após ser condenado a 8 anos e 9 meses de prisão por incitar agressões a ministros e atentar contra a democracia ao defender, em vídeos, o fechamento da Corte, é esperado em eventos no Rio e em São Paulo amanhã.
Um dos que defendem que Bolsonaro não vá aos atos é o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente nacional do PL. “Não sei se vale a pena ficar remoendo o mesmo fato. A opinião popular já está satisfeita. (O Daniel Silveira) foi inocentado, teve a graça, o Supremo não contestou, ficou na dele. Não há por que se manifestar agora”, afirmou ao Estadão/Broadcast Político.
Como mostrou o Estadão, as cúpulas do Congresso e do STF temem um agravamento da tensão em atos de 1.º de Maio convocados pelos bolsonaristas.
Nesta sexta-feira, ministros do Supremo deram, em ocasiões distintas, declarações públicas em defesa da Constituição e da lisura do processo eleitoral brasileiro, colocado em xeque por Bolsonaro. Trataram do tema quatro dos 11 integrantes da Corte.
Alexandre de Moraes, que assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto, defendeu a Constituição e garantiu a posse de todos os eleitos em outubro: “Não Importa quem”. Edson Fachin, atual presidente do TSE, disse que a Justiça Eleitoral não está aberta a intervenção. Luís Roberto Barroso afirmou que a democracia “só não tem lugar para quem quer destruí-la”. Já Ricardo Lewandowski minimizou a crise e afirmou que não há grupo político com poder de desestabilizar as instituições.
As declarações dos ministros do STF em defesa do processo eleitoral ocorrem um dia depois de manifestações públicas dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), no mesmo sentido.
No evento deste sábado, Bolsonaro usou o palanque da feira para colocar em destaque o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e cotado para ser seu vice na chapa pela reeleição em outubro. “Tem coração maior do que o meu Brasil”, afirmou o presidente ao apresentar Braga Netto ao público que compareceu à abertura da ExpoZebu.
Ato em Brasília
Caso Bolsonaro decida participar da manifestação marcada para Brasília, que será em frente ao Congresso Nacional, terá à sua disposição um trio elétrico para discursar. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou que a Esplanada dos Ministérios será fechada neste domingo, em razão do ato. Em São Paulo, onde também haverá manifestação a favor de Silveira, é esperado que Bolsonaro participe por vídeo.
De acordo com o empresário João Sales, um dos organizadores do ato em Brasília, a manifestação contará com quatro trios ao todo. “O meu é o principal, que está à disposição do presidente. É possível sim a ida dele. Terá uma equipe de prontidão o aguardando”, disse Sales ao Broadcast Político.
Foi em um carro de som na Avenida Paulista, em São Paulo, que Bolsonaro xingou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, nas manifestações de 7 de setembro do ano passado, e disse que não obedeceria mais a decisões do magistrado. A crise institucional só arrefeceu após o presidente divulgar uma carta, escrita pelo ex-presidente Michel Temer, na qual baixou o tom contra o Supremo.
Desta vez, Bolsonaro recusou o conselho de Temer de revogar o perdão a Silveira. No entanto, nesta sexta-feira, 29, o presidente negou que a ação a favor do parlamentar fosse uma vontade de “peitar” o STF. Ele admitiu que o aliado falou “coisas absurdas”, mas reclamou da pena imposta ao parlamentar bolsonarista. “Não quero peitar o Supremo, dizer que sou mais importante, tenho mais coragem, longe disso. Eu duvido que no fundo, não vou dizer todos, a grande maioria dos ministros não entenda que houve um excesso (na condenação de Silveira)”, disse o presidente, em entrevista a uma rádio de Mato Grosso.
Fonte: Estadão | Foto: Alan Santos/PR