ATENTO AO FLUXO
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ATENTO AO FLUXO

ATENTO AO FLUXO

 

Ao entardecer, aparece o lusco-fusco, um degradê plasmado de cores que cortinam o horizonte.

Nessa transição temporal, o meu sentido da visão se perde, de forma momentânea, e faz despertar o sentido da audição. Ouço com maior brevidade a frequência e a vibração de sons das palavras reverberadas.

Assim, a audição me deixa a par das mensagens proferidas pela boca da noite. Essa mensagem pode parecer um pouco confusa, com aquela voz sussurrante, que pouco se distingue.

Para diminuir a distância entre aquela voz e para se chegar mais rápido ao destino, tomo emprestado as botas do pé da serra. Longas passadas são empreendidas para encurtar as delongas e para chegar na hora certa.

Olho as horas no relógio do braço do mar. Como precaução, uso a lente infravermelho do olho do sol e assim, chego na hora e no local certos em que estão sendo ditas as palavras daquela boca.

Custam-me tempo e esforço, mas vale mais a pena do que pegar carona nas versões distorcidas veiculadas pelos blá-blá-blás das bocas dos rios, que são só espumas.

Vitória da Conquista, 20/12/23.

Ricardo Gonçalves Farias