Crônicas da Madrugada
Autor: Danilo Sili Borges
A Feirinha a que me refiro nesta crônica é mesmo aquela situada na QI 13. O fato é risível e nos remete a grotesca polarização em que vivemos. O título original era “A feirinha da 13”. Aos sábados cedo, encaminho o texto, a alguns periódicos que me dão a honra de publicá-los aos domingos e ao longo da semana.
O primeiro a quem mandei reportou-me, desculpando-se e comunicando que nesta semana não me iria publicar, justificando que seu veículo tem objetivos culturais, não pretendendo tomar parte em questões políticas. Demorei segundos para entender. Ao ver o número 13 o editor, logo o associou ao partido que utiliza esse número nas eleições e sem mais pensar descartou meu artigo.
Percebi que a leitura equivocada seria feita por muitos outros leitores. Preferi errar a localização da feirinha por umas dezenas de metros do que contribuir com a indignação de alguns ou dos aplausos de outros nesta época de um Brasil insensato.
Que me perdoem os promotores e “feirantes” daquele agradável encontro sabatino. Estou certo de que ninguém deixará de visitá-los pelo meu proposital erro geográfico. Meu intuito é bem outro, o de conclamar meus vizinhos, moradores do Lago Sul, a prestigiarem a Feirinha. O comércio local terá a ganhar com o maior afluxo de pessoas na Praça, que lhe é contígua, divulguem-na em cada loja.
Tudo teria sido mais fácil se a praça maior que abriga a Feirinha tivesse o nome grafado numa grande placa azul com letras brancas, fincadas em local estratégico, mas por aqui não é assim. As denominações foram dadas sobre os mapas. Quando indispensável a população cria e adapta: Eixão Sul, Eixinho de Cima, Rua da Igrejinha, Rua das Elétricas, Praça do Relógio.
Em Brasília os logradouros e equipamentos urbanos não costumam receber denominações de seus mortos ilustres. Claro, existem exceções como a Ponte JK. A denominação de outra ponte sobre o Lago Paranoá, que também homenageia ex-presidente, tem sido motivo de disputa política e judicial. Neste caso é a tentativa inútil de apagar a História. Caso agudo de miopia ideológica.
Minha curiosidade se aguçou e fui ao Waze, aplicativo de localização para os celulares. Na versão que tenho não consta a praça. Recorri então ao detalhado Google Maps, muitas fotos do ambiente e a denominação apenas localizada da Praça do Tenis, abrigada no espaço maior, sem nome, referindo-se a quadra desse esporte, disponibilizada ao público, com iluminação e movimentadas partidas, onde um dos atletas seniors é meu niteroiense amigo Francisco Lacerda Neto.
Aos leitores de fora do DF, esclareço: Em Brasília e nas cidades do Distrito Federal existem grandes feiras algumas com funcionamento permanente. Feira dos Importados, antiga Feira do Paraguai, denominação que persiste; Feira do Guará, que veste boa fração da população.
Feirinhas específicas em que artistas e artesãos apresentam e comercializam seus produtos são comuns tal como em todos as cidades. Pequenas e agradáveis, pontos de encontro e de socialização. Temos algumas tradicionais que comercializam orgânicos, outras com artesanato. A Feira da Torre de TV, grande e tradicional é a mãe de todas, ponto turístico imperdível, síntese do Brasil, do artesanato, de sabores e de falares, como é a própria Brasília. “Cidade Síntese” na visão de JK.
No Lago Norte há muito anos o poder público, por sugestão da comunidade, criou um espaço denominado Quituarte, permanente, que reúne expositores de artesanato e arte. Referência em gastronomia. Tem a cara do bairro, sofisticado e descontraído.
No sombreado das árvores muitas atividades se desenvolvem naquele espaço da Praça 13, denominação popular que está pegando. Pela manhã, mães e babás levam crianças para as atividades matinais ao sol e nos brinquedos disponíveis em áreas cobertas de areia e principalmente para a socialização com os amiguinhos.
Às terças, a partir das 9h, senhoras – e alguns senhores – todos em alegres trajes esportivos reúnem-se para sob a liderança da Adelaide praticarem ginástica de origem oriental. A partir da atividade, o grupo senhoril cresceu e com frequência os participantes promovem encontros com outras finalidades.
Há aproximadamente 2 anos, nesse logradouro acolhedor, com interessantes equipamentos públicos, aos sábados, pouco mais que 20 “feirantes” se reúnem entre frondosas paineiras e expõem e comercializam variadíssimos produtos.
Talvez por minha origem carioca, sou fascinado por feiras. Esta tem pouco a ver com aquelas em que ia buscar os hortifrutis enquanto morador do Rio, mas o clima, a oportunidade de estabelecer contatos e conhecimentos são os mesmos.
Vou aos sábados a feirinha, por prazer e para prestigiar os artesãos que vão expor suas habilidades, mais até que para o comércio. Encanto-me com os queijos artesanais; os bread rools coloridos; com as empanadas argentinas produzidas por autêntico jovem portenho;, com os defumados, hobby semanal de um funcionário público; com os pães da senhorinha, certamente avó de adolescentes, que passou a noite os assando na sua mansão vizinha à feira; aprender sobre saúde com a produtora de iogurte sem conservantes; a cerveja artesanal; com o café especial que a neta, nos seus 18 anos, vem propagandear, deixando de aproveitar o sábado no clube, para divulgar o arábica que o avô aposentado planta, colhe, trata e embala em quantidade pequena, só para apreciadores.
Na manhã dos sábados, na Feirinha da Praça 13, Lago Sul, viva uma experiência humana encantadora!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Jun.2022
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O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA