A nova oportunidade do Palmeiras
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A nova oportunidade do Palmeiras

Autor: Luiz Henrique Borges | Foto: Divulgação

Na terça-feira, dia 08, o representante brasileiro no Mundial de Clubes, o Palmeiras, derrotou com autoridade o clube egípcio Al Ahly. Após a frustrante participação no  Mundial de Clubes anterior, referente ao ano de 2020, quando o alviverde terminou na quarta posição, sem vencer ou marcar um único gol, a equipe ganhou experiência e, ao meu ver, também se encontra, hoje, mais forte técnica, física e taticamente.

A vitória palmeirense precisa ser comemorada. Nos acostumamos, em virtude da história que construímos no futebol, em outro contexto, a menosprezar os adversários menos tradicionais. Não aprendemos com as derrotas do Internacional para o Mazembe, da República Democrática do Congo; do Atlético Mineiro para o marroquino Raja Casablanca e do próprio Palmeiras que em 2020 perdeu para o Tigres do México e, na disputa pela terceira colocação, empatou em 0X0 e foi derrotado nos pênaltis pelo próprio Al Ahly. Meu amigo leitor, veja que sequer estou preocupado em falar do River Plate ou do Atlético Nacional da Colômbia que também não conseguiram chegar a grande final da competição.

No futebol, como em boa parte das atividades humanas, os resultados estão vinculados de forma estreita ao recursos financeiros. As equipes europeias, por exemplo, passaram a dominar a competição na mesma proporção que podem despejar milhões e milhões de dólares na aquisição dos melhores valores de todo o planeta e na montagem de fantásticos centros de treinamentos.

Apesar do Palmeiras possuir, segundo o site Transfer Market, um elenco 5,7 vezes mais valioso do que o do Al Ahly, os orçamentos dos dois clubes são muito semelhantes. A equipe egípcia, a mais popular do país e uma das potências do futebol africano, contou, em 2021, com 852 milhões de reais. O Palmeiras, contando com os investimentos da Crefisa e com os títulos conquistados ao longo de 2021, faturou um pouco mais de 900 milhões de reais. Percebe-se que, financeiramente, Al Ahly e Palmeiras possuem grandezas semelhantes.

Sabemos que os campeonatos disputados na América do Sul possuem um nível de exigência e de técnica mais elevados do que os disputados no Egito, no Oriente Médio e na Ásia. Além disso, o Brasil ainda é um celeiro de craques o que eleva o nível do futebol local, no entanto, os nossos talentos são, cada vez mais cedo, drenados para a Europa. Enfim, ao sermos privados dos nossos principais atletas, sejam eles já consagrados ou ainda jovens e acrescido de maior equilíbrio financeiro, como é o caso de Palmeiras e Al Ahly, é de se esperar por confrontos cada vez mais equilibrados e difíceis entre sul-americanos e países de outros continentes, exceto, é lógico, a Europa. Sendo assim, as vitórias precisam ser comemoradas.

O adversário do clube brasileiro nesta tarde, quando você, caro leitor, estiver de posse dessa crônica, será o Chelsea. O time londrino, como é bastante comum acontecer com os clubes europeus que disputam a competição, jogou com o freio de mão puxado e venceu pelo placar mínimo e sem brilho o Al Hilal. Após dominar o primeiro tempo, a equipe europeia caiu muito de produção na etapa final e sofreu para conseguir sua classificação para a decisão. Para mim, o melhor em campo foi o goleiro do “Blues”, como o Chelsea é conhecido. Kepa realizou pelo menos três grandes intervenções no segundo tempo e evitou que os sauditas chegassem ao gol.

Entendo que o Chelsea é favorito para conquistar o título, mas se o peixe é pescado, o jogo também é jogado. Só quem morre de véspera é o pobre do peru. Como bom botafoguense, sou supersticioso quando se trata de futebol. Além das manias, busco também por coincidências e até crio teorias que gerem essas coincidências.

O último título mundial de um clube brasileiro e sul-americano foi o do Corinthians, principal adversário do Palmeiras, no longínquo 2012. O clube superado pelos corintianos foi o Chelsea, agora adversário do alviverde. O Palmeiras pode acabar com o jejum de mundiais contra o mesmo clube que o seu rival derrotou. Isto não é muita coincidência ou sou eu que quero alimentar minha superstição?

Sendo um pouco mais racional, entendo que o Chelsea, apesar de favorito, não é tão predominantemente superior ao seu adversário como as outras equipes europeias foram em edições anteriores. As equipes do velho continente que disputaram as finais entre 2013 e 2020, mesmo que não tenham apresentado o melhor futebol durante a competição, estavam em seu esplendor, angariando títulos. Quem seria capaz de parar o Real Madrid capitaneado por Cristiano Ronaldo que venceu 3 das 4 taças conquistadas pelo clube no período? O Barcelona de 2015, com Messi, Neymar e Suárez, não deu a menor oportunidade para o River Plate. Mesmo o Liverpool, que venceu com alguma dificuldade o Flamengo em 2019, tinha uma equipe incrível e que jogava por música. O que dizer do Bayern de Munique campeão em 2013 e 2020?

A equipe londrina não passa por seu melhor momento. Foram vários tropeços no Campeonato Inglês que o distanciaram bastante do Manchester City. Os números da temporada 2021/2022 não são animadores. Os Blues, apesar da força do elenco, conquistaram, antes do jogo contra o Al Hilal, apenas 68,4% dos pontos que disputaram, foram 22 vitórias, 12 empates 4 derrotas.

Exceto pelo Real Madrid de 2018, já sem o CR7, todas as demais equipes europeias que jogaram e venceram a competição da FIFA apresentavam mais de 70% de aproveitamento na temporada. O Bayern de 2013 tinha incríveis 85,2% dos pontos ganhos. Os números trazem alguma esperança e alento para os alviverdes. Mas, não podemos esquecer da enorme qualidade técnica do elenco do Chelsea. Se compararmos jogador por jogador, obviamente o clube londrino leva vantagem. 

Eu tive a oportunidade de assistir os últimos três títulos mundiais de clubes brasileiros. O Internacional, o São Paulo e o Corinthians. Nestes jogos, sem exceção, as três equipes marcaram muito bem, procuraram minimizar os espaços para os seus adversários e, acima de tudo, souberam aproveitar as pouquíssimas chances criadas. Os nomes que se destacaram naqueles jogos, além dos autores dos gols foram, sem dúvida nenhuma, dos goleiros: Clemer, Rogério Ceni e Cássio respectivamente. Para mim, fizeram os melhores jogos das suas carreiras nestas finais.

A receita para o Palmeiras é parecida. A marcação precisa encaixar perfeitamente, terá que ser cirúrgico e aproveitar as oportunidades, provavelmente escassas, que serão criadas e contar com um momento iluminado do excepcional goleiro que defende o gol alviverde. Se tudo der certo, este ano marcará o fim dos memes do Palmeiras sem copinha e sem mundial.