É comum escutarmos a expressão “A sétima arte” quando alguma produção se refere ao cinema. No entanto, foram identificadas, anteriormente, mais seis formas de manifestação cultural: música, dança, pintura, escultura, teatro e literatura. A dança, a “segunda arte”, surgiu através da resposta do corpo humano a uma sequência de batuques, de maneira ritmada, que produziam um som particular. Os primeiros registros dessa expressão corporal estão ligados à pré-história, quando foi possível observar, por meio de pinturas rupestres, indicativos de que o corpo era utilizado como instrumento para a emissão dos sons.
Arte milenar e com intuito de servir não apenas como uma expressão de fé ou atividade de lazer, a dança também desenvolve papel importante para o bem-estar. Em crianças, esses efeitos podem ser sentidos na promoção de mudanças na autoestima, do comportamento individual, coletivo e nos processos sociais e de aprendizagem.
Foi o que observou a licenciada em Dança pela Uesb, Julia Nascimento, ao pesquisar o impacto da dança em crianças de 6 a 11 anos do Ensino Fundamental – Anos Iniciais. Segundo a professora, é a partir dessa faixa etária que os jovens começam a ter autonomia, compreender a necessidade de partilhar suas coisas, tornar-se acessível a outras pessoas e sua forma de falar vai sendo modificada. Ou seja, as suas capacidades cognitivas apresentam desenvolvimento e progressão no modo como as crianças se relacionam com o meio.
A pesquisa “E se fosse toda semana? A potência da dança na formação de crianças do Ensino Fundamental – Anos Iniciais” foi desenvolvida em uma escola de Jequié e apresentada na conclusão do curso de Dança, no campus de Jequié. No período de coleta, Julia atuava como professora e conta que foi revelador as respostas que os corpos das crianças davam durante as aulas. “Alunos que apresentavam comportamento taxados de bagunceiros agiam de forma totalmente diferente nas aulas e nos ensaios de dança. Tudo isso os atraia, fazia com que eles se conectassem consigo mesmos e experimentassem o aqui e agora”, relata.
Outro ponto observado pela pesquisadora foi a falta de conhecimento corporal por parte dos alunos. Porém, com o tempo, foi possível notar avanços significativos no desenvolvimento das crianças. Afinal, quando não há uma imposição de técnicas, as aulas têm muito a contribuir com o desenvolvimento corporal, ensinando e reconstruindo a sala de aula como um espaço prazeroso e interativo de aprendizagem em várias áreas. Assim, despertando ainda mais a criatividade e explorando a afetividade dos jovens.
Limitações e impactos geracionais – Embora possua potencial de aprimorar o processo de aprendizagem, a dança encontra-se de maneira superficial na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o que gera uma preocupação no modo como as crianças irão compreender os seus conteúdos. A professora acredita que, se essa arte fosse mais presente no currículo das escolas, “teríamos crianças conscientes de seus corpos e suas movimentações seriam mais espontâneas. Veríamos mudanças nelas, consequentemente, seus reflexos quando adultos”.
A partir da experiência trazida na pesquisa, por exemplo, Júlia conta que o trabalho de dança se limitava a festivais, já que ministrava aulas que apareciam como “Arte” no componente curricular. Dessa forma, a dança aparecia em momentos pontuais de apresentação. Mas foi nas preparações para esses festivais que ela recebeu feedbacks positivos das aulas. “A maioria queria saber quando seria o próximo evento dançante. Eles amaram o processo de criação, acharam que não iriam conseguir, porém, ao verem o resultado, ficaram muito felizes, não só pela estética, mas por facilitar a vivência e a relação com a dança. As aulas faziam com que quisessem manter a assiduidade todos os anos”, lembra.
Outro impacto observado pela é a mudança como a nova geração encara a dança, especialmente crianças e jovens que estão presentes na rede social TikTok. Para Júlia, a larga expansão do aplicativo pode transformar a arte de dançar em algo simplista e instantânea. “Não que a dança não seja, mas vai além de apenas sequências de passos. Quando a proposta é mostrar uma dança onde temos que ter um estudo sobre o tema, pensar de forma significativa a cada passo, criar uma história, trazer um roteiro coreográfico, muitas das vezes o público tem uma resistência, por ser um processo longo. A ‘Geração Z’ quer tudo muito prático e imediato”, analisa a professora.
Fonte: Da Redação/UESB | Foto: Divulgação