“[Tarcísio] não apenas colaborou com interesses estrangeiros em detrimento da economia nacional, mas também afrontou o dever de lealdade institucional que seu cargo exige”, informa o protocolo, assinado pelos deputados estaduais Carlos Giannazi, Ediane Maria, Guilherme Cortez, Mônica Seixas das Pretas e Paula da Bancada Feminista.

O Psol afirma que Tarcísio praticou crime de responsabilidade ao supostamente articular a ida do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para os Estados Unidos para negociar o fim da taxação e ao incentivar e exaltar a conduta de Trump.

Em 9 de julho, o presidente dos EUA anunciou a tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil a partir de 1º de agosto. Trump destacou entre as justificativas para a medida sua insatisfação com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e com a ação penal em que Bolsonaro, aliado de Tarcísio, é réu por tentativa de golpe de Estado.

Horas depois do anúncio, Tarcísio, em suas redes sociais, atribuiu a responsabilidade pelo tarifaço ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sem manifestar-se sobre os possíveis impactos à economia do Estado de São Paulo – um dos mais afetados pela nova política tarifária. No dia seguinte, Tarcísio ponderou sobre o efeito negativo para São Paulo, disse que daria início a tratativas com empresários, mas manteve críticas ao STF e ao governo Lula. O governador é cotado para disputar a Presidência em 2026 no lugar de Bolsonaro.

O anúncio de Trump desencadeou uma crise diplomática e a preocupação do impacto econômico entre os setores mais afetados, como o agronegócio. O governo federal classificou a medida como chantagem e que a família Bolsonaro traiu o Brasil em busca de anistia para o ex-presidente. A postura de Tarcísio também foi condenada por ministros.

Para a bancada do Psol, a conduta do governador ignorou o respeito à soberania nacional, ao livre exercício dos Poderes e ao setor produtivo paulista. O partido relembrou no pedido as manifestações de apoio de Tarcísio a Trump, ainda anteriores ao tarifaço, como o vídeo em que aparece colocando um boné com o slogan usado pelo presidente americano. Lembra também que, antes do anúncio da tarifa, Tarcísio endossou texto de Trump dizendo que Bolsonaro sofria “caça às bruxas” no Brasil.

“Saltou aos olhos a opção do governador, diante de um ataque direto à soberania do seu país, em justificar a medida apresentada por Donald Trump, mantendo sua posição em defesa dos Estados Unidos em detrimento dos interesses brasileiros”, diz o partido sobre a primeira manifestação de Tarcísio após o anúncio das novas tarifas.

O Psol também inclui entre as justificativas para a abertura de um processo a suspeita de que Tarcísio tenha procurado ministros do STF para pedir a liberação do passaporte de Bolsonaro para que ele pudesse negociar com Trump o fim das tarifas. A informação foi publicada pela colunista Mônica Bergamo, da “Folha de S.Paulo”, e negada pelo governador.

O partido afirma que a atuação pública do governador revela subserviência por parte de Tarcísio e um alinhamento ideológico que superam os interesses nacionais e do Estado. “Em um cenário de acirramento geopolítico e tentativa de ingerência estrangeira em assuntos internos do Brasil, tal conduta ultrapassa os limites da liberdade de expressão e se configura como apoio tácito a uma agenda que compromete o bem-estar da população brasileira e a soberania nacional”, diz o pedido.

Oposição é minoria na Alesp
É a terceira vez que integrantes do Psol protocolam um pedido de impeachment contra Tarcísio. O primeiro, em ato conjunto ao PT, foi feito em outubro de 2024 em razão de declarações contra o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), então candidato a prefeito de São Paulo. Em julho desse ano, a deputada Ediane Maria também havia acionado a Alesp pelo endosso de Tarcísio à publicação de Trump pelo fim do processo contra ele no STF. Meses antes, em março, movimentos sociais e entidades da sociedade civil também pediram o afastamento de Tarcísio e do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, em razão de práticas de violência policial denunciadas à época.

A bancada do Psol é composta por cinco deputados. O governador tem maioria na Alesp, que tem ao todo 94 parlamentares. Entre os aliados de Tarcísio está o presidente da Assembleia, André do Prado (PL), responsável pela análise inicial dos pedidos de impeachment.

O governo paulista foi procurado, mas não se manifestou sobre o pedido do Psol até o momento.

Fonte: Valor Economico | Foto: Vinicius Rosa/Governo do Estado de São Paulo