Sem vice nem aliados, partido estreia convenções partidárias com cenário semelhante ao de quatro anos atrás, e tenta furar polarização
Sem alianças firmadas nem vice definido, o pré-candidato à presidência pelo PDT, Ciro Gomes, vai oficializar a entrada na disputa pelo Palácio do Planalto nesta quarta-feira, durante a convenção nacional do partido, em Brasília. Na véspera do evento, aliados não escondem o pessimismo com as possibilidade de se atrair partidos para o palanque do pedetista.
O PDT vai manter em aberto o posto de companheiro de chapa de Ciro, um trunfo para negociar alianças. Caso o partido não consiga conquistar o apoio de outras legendas, há dois nomes cotados para o posto, que deve ser ocupado por uma mulher: a senadora Leila Barros (DF) e a ex-reitora da USP Suely Vilela.
A convenção marcará a mudança do mote da campanha. O slogan “Rebeldia da esperança”, usado no lançamento da pré-candidatura do pedetista, em janeiro, dará lugar a “Prefiro Ciro”, que já foi veiculado no ano passado, mas havia perdido espaço nas peças eleitorais.
Ambos são de autoria do marqueteiro, João Santana. A estratégia traçada até aqui impulsionou a popularidade do pedetista entre o eleitorado mais jovem, algo almejado pela campanha desde 2018. Segundo o Datafolha, Ciro é apoiado por 10% dos eleitores de 16 a 24 anos. No último pleito, esse índice era de 3%.
No geral, ele aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com 8% da preferência, de acordo com o Datafolha, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 47%, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), 28%. Quatro anos atrás, Ciro chegou à temporada das convenções partidárias com 6% nas pesquisas.
A polarização evidenciada pelos levantamentos de intenção de voto é o maior entrave para que Ciro reforce seu palanque com outras siglas, na avaliação de aliados do pré-candidato, como o secretário-geral do PDT, Manoel Dias:
— Dificilmente se conseguirá outro partido diante da polarização. Ainda estamos tentando negociar, mas não faremos concessões ideológicas. Temos o melhor candidato, o único que tem proposta.
Assédio petista
Ciro vai formalizar sua candidatura no primeiro dia do prazo para as convenções partidárias. O partido aposta que, uma vez consolidado no páreo, Ciro tem mais chances de atrair apoios.
Nos últimos meses, diante do isolamento de Ciro, pedetistas chegaram a ser assediados pelo PT para darem palanque a Lula. Em ao menos dois estados, candidatos ao governo pelo PDT já demonstraram proximidade com o ex-presidente. É o caso do Maranhão, com o senador Weverton Rocha, e do Rio, com o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.
Além disso, havia uma ala do partido favorável a que Ciro abrisse mão da candidatura e endossasse a aliança no entorno de Lula, sob argumento de derrotar Bolsonaro no primeiro turno. Segundo o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), o pano de fundo desse assédio passava pelo receio de a sigla não conseguir eleger candidatos ao Congresso.
Por esse raciocínio, uma aliança com um candidato a presidente mais competitivo, como Lula, poderia impulsionar o desempenho dos candidatos do PDT ao Legislativo. Além disso, sem um cabeça de chapa na corrida pelo Planalto, o PDT disporia de mais caixa para bancar os postulantes ao Congresso.
— Havia um interesse legítimo de cada estado, a gente entende essa angustia — diz Mattos.
Quatro anos depois, pouco mudou
Em 2018, PDT conseguiu atrair o Avante para a aliança de Ciro Gomes. Foi o único partido que endossou o pedetista, e o anúncio do apoio só veio no último dia das convenção, em 5 de agosto daquele ano.
Agora, o partido ainda aguarda resposta de siglas como PSD e União Brasil, que não têm dado sinais positivos a Ciro. O primeiro liberou os membros a apoiarem quem eles quiserem, enquanto o segundo mantém a pré-candidatura de Luciano Bivar.
Na última eleição, a sigla só anunciou que teria a senadora Kátia Abreu (TO) no prazo final das convenções. A parlamentar havia se filiado ao partido em 2018.
O PDT já admite que poderá repetir a estratégia de 2018 e escolher uma correligionária de Ciro como vice. Dirigentes, porém, querem adiar a decisão até 15 de agosto, prazo para o registro das chapas no TSE, ainda à espera de um partido aliado.
Nas três eleições que concorreu, Ciro também chegou às convenções em terceiro nas pesquisas, segundo o Datafolha. Há quatro anos, tinha 6%. Em 2002, 28%, sua melhor pontuação. E em 1998, 7%.
Neste ano, Ciro está no mesmo lugar nas pesquisas, com 8%.
Fonte: O Globo | Foto: Edilson Dantas/ Agência O GLOBO