Pela primeira vez, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu oficialmente a existência de um cenário de fome extrema na Faixa de Gaza. Segundo comunicado divulgado nesta semana, cerca de 500 mil palestinos — aproximadamente 23% da população do território — estão em uma “situação catastrófica”, marcada por desnutrição aguda, mortes evitáveis e falta de acesso a alimentos.
O alerta foi feito em nota conjunta pela FAO (agência de agricultura e alimentação da ONU), Unicef, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Programa Mundial de Alimentos (WFP), com base na nova análise da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC). As entidades reforçam a necessidade de uma resposta humanitária imediata e em larga escala.
“As mortes associadas à fome estão aumentando, a desnutrição aguda se agrava e centenas de milhares de pessoas passam dias sem comer”, informaram as agências. A ONU afirma que a fome em Gaza é “totalmente provocada pelo homem” e poderia ser revertida. A IPC prevê que, além da Cidade de Gaza, as regiões de Deir el Balah (centro) e Khan Yunis (sul) serão gravemente afetadas até o fim de setembro.
Tom Fletcher, diretor do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), disse que a crise poderia ter sido evitada. “A comida se acumula nas fronteiras devido à obstrução sistemática de Israel. É uma fome em 2025, uma fome do século 21 vigiada por drones e pela tecnologia militar mais avançada da história. (…) É uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra”, afirmou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, cobrou ação rápida da comunidade internacional. “Chega de desculpas. A hora de agir não é amanhã — é agora. Precisamos de um cessar-fogo imediato, da libertação imediata de todos os reféns e de acesso humanitário pleno e irrestrito”, escreveu nas redes sociais. Para ele, o quadro é resultado do “colapso deliberado dos sistemas necessários para a sobrevivência humana”.
Guterres destacou que, como potência ocupante, “Israel tem obrigações claras perante o direito internacional, incluindo o dever de garantir alimentos e suprimentos médicos para a população”.
O governo israelense reagiu às declarações. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou a posição da ONU como “uma mentira descarada” e disse que “Israel não tem uma política de fome, mas de prevenção da fome”. Já o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que o país seguirá com ações militares. “Aprovamos os planos das Forças de Defesa de Israel para derrotar o Hamas em Gaza. Em breve, os portões do inferno se abrirão sobre os terroristas até que aceitem as condições de Israel: a libertação de todos os reféns e o desarmamento do grupo”, disse.
Fonte: Metro1 | Foto: Divulgação/Freepik