Diante da repercussão negativa da invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou se desvincular da ação de seus apoiadores radicais, mesmo sem repreendê-los de forma enérgica. “Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos, como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”, escreveu o ex-presidente numa rede social.
Foi uma tentativa de conter danos. Pesquisa Datafolha mostrou que 93% dos entrevistados condenam os ataques às sedes dos três poderes e 55% consideram Bolsonaro responsável pelos atentados, opinião que também é compartilhada por ministros de tribunais superiores que investigarão o caso e determinarão punições aos envolvidos. O clã também colheu prejuízo no campo político. Até governadores oposicionistas, como Tarcísio de Freitas, eleito pelas mãos do capitão para comandar São Paulo, condenaram os ataques e elogiaram Lula pela iniciativa de reunir os chefes de poderes e das unidades da federação para tratar da quebradeira.
A VEJA, um observador privilegiado da cena política, com atuação na Praça dos Três Poderes, afirmou que a ação dos radicais deu a Lula o que ele ainda não tinha na plenitude: credibilidade e legitimidade. O espírito de união nacional em defesa da democracia beneficiou o petista e, de outro lado, representou mais um revés para o adversário derrotado nas urnas. Avaliação parecida é feita por integrantes do Judiciário e do Legislativo, para quem Bolsonaro corre o risco de ver uma debandada de parte dos seus eleitores — a parte, obviamente, que não é fanática.
Como o ex-presidente é seu maior cabo eleitoral, o PL encomendou uma pesquisa para medir o impacto do episódio. O resultado foi desastroso para a imagem do capitão. Numa reunião com senadores, Flávio Bolsonaro até tentou defender o pai, alegando que este estava nos Estados Unidos, e portanto distante do dia a dia no Brasil, e afirmando que tudo caía na conta de Bolsonaro. “Quando ele fala, é culpado. Quando fica em silêncio, também”, argumentou o Zero Um. Ciente do desgaste, o ex-presidente antecipou sua volta dos Estados Unidos. Alguns de seus aliados temem que, em vez de gestos de paz, ele dobre a aposta no radicalismo, como quase sempre fez em seu mandato.
Fonte: veja | Foto: YouTube/Reprodução