Crônicas da Madrugada
Autor: Danilo Sili Borges
A poucos dias do primeiro turno das eleições, assisto, entre curioso e divertido, o esforço de um dos candidatos para conquistar parte expressiva do eleitorado feminino, que pelo que se entende das pesquisas, não lhe é muito sensível. Essa é a parcela que falta para tornar o pleito mais emocionante.
Os adversários tentam apresentar o concorrente como um incorrigível misógino e trazem com grande recorrência episódios em que nosso personagem não teria usado da adequada delicadeza ao lidar com as representantes do chamado sexo frágil. A bem da verdade, o estilo rude, direto, tantas vezes mal-educado não é reservado com exclusividade a senhoras e senhoritas, é um estilo, para alguns inoportuno, do presidente. Com homens e mulheres, Sua Excelência é do mesmo jeito. Nem defeito nem virtude, uma característica.
A seu favor, devo dizer que os destemperos – nunca ouvi dizer – tenham ido além do palavrório que o tem prejudicado na campanha eleitoral em curso.
Esta não é uma crônica política! Aproveito esse fato público de repercussão para fazer algumas reflexões que no entender de homem casado, já elucubrando no mimo a ser oferecido a minha mulher ao completarmos as Bodas de Diamante (60 anos de casados), possa servir para aplainar o relacionamento entre os dois sexos extremos da palheta hoje tão colorida. Indica a liturgia que a prenda traga a pedra comemorativa da data. Venho economizando para o diamante desde os 50 das de Ouro.
Com um único casamento, não me aventuro como expert nesse tipo de relacionamento pela variedade. Como engenheiro, no início das atividades, o convívio profissional era de quase 100% masculino, mas como professor vi a transformação das mulheres ingressando nas engenharias, como em todas as demais profissões chegando hoje a participações igualitárias.
A primeira aluna da minha escola foi Telma, lembro-me bem do seu primeiro dia ao chegar com os outros 99 calouros que ingressavam. O evidente contraste era agradável, mas era uma invasão indevida, pensávamos, os veteranos, aos nossos domínios, rudes e desprovidos de sutilezas.
Os primeiros tempos foram difíceis para nós, penso que muito mais que para ela, que se ia impondo pela naturalidade no contato com aquela tribo de 500 ou mais de “desajustados” sociais, mas que por educação de berço sabiam que lhe mereciam o mesmo tratamento que davam a suas mães, irmãs e namoradas. Mas ela era uma intrusa no “nosso templo!”
A aproximação da colega a algum grupo com frequência interrompia a conversa, quando mais não fosse para mudar o vocabulário chulo. Havia, claro, constrangimento da nossa parte, nada imposto pela jovem, moderna e de trato superior.
Culta, praticante de teatro amador, pianista, viajada, a garota moderna não nos ignorava, mas desconhecia nossas fraquezas e idiossincrasias e não dava importância às tolices que inadvertidamente ouvia.
Pelos mais ousados, vieram as primeiras tentativas de conquistá-la, nada feito. Superioridade absoluta da menina, que transitava entre nós, com desembaraço total. Ao fim do primeiro trimestre, os veteranos que viviam a maior parte de suas vidas no Diretório Acadêmico, decretaram: “Passou para a Escola é Homem”.
Se há alguma observação que possa fazer a homens jovens ou mesmo de idade, como o candidato que hoje se debate em busca do sufrágio feminino, é quanto à memória seletiva que essa maravilhosa metade da espécie humana tem para coisas que os homens dizem e que de alguma forma as tocam, quer pessoalmente, ou a todas elas, como minoria social que ainda são. Até os elefantes, famosos por suas memórias, esquecem de algumas coisas, as mulheres nunca.
Lembrar-se-ão para sempre de uma florzinha que você lhe ofereceu no início do namoro, colhida no jardim público, após o primeiro beijo roubado (na minha época era assim), que ela guardou no livro da missa, como gravou em granito uma expressão rude que você usou, mesmo que fora de uma discussão, mas que ela não gostou, e que 30 ou 40 anos depois de proferida, volta maturada com toda mágoa, numa mesa do domingo, em que vocês estavam comemorando o almoço do neto mais velho.
Elas são assim, maravilhosas, imprevisíveis e nunca esquecem. Não caia nessa de que as mulheres modernas são diferentes. O que está impresso nos seus DNA, necessitarão de milênios para serem alterados. Não tenha esperanças. Cuidado com o que você fala com elas, isso sempre voltará.
Dicas complementares:
Se no debate da Band, o Candidato ao invés de ter dito, com rudeza: Vera Magalhães, “você,.”, tivesse dito: “Verinha, fico feliz, de coração, tenho certeza de que você quer o melhor para o país. Como presidente sei que estou sempre nos seus pensamentos. Sei que você compreende as dificuldades da tomada de decisões, como pessoa sensível e inteligente que é…”(É preciso ser verdadeiro, sentir o que diz, conquistar!)
Todos nós, humanos, gostamos das sutilezas que têm duplos sentidos, levemente maliciosos, aceitamos bem quando isso não vem acompanhado de cantada. A mais pudica freirinha do claustro mais fechado do mundo ouvirá uma observação desse tipo sem enrubescer, isso é próprio da nossa natureza.
Fale rindo, coloque suas “impropriedades” com delicadeza, sensibilidade e carinho, abra seu coração e tudo será aceito. Seja um sedutor!
E nas relações de amor, em qualquer idade, uma boa dose de erotismo dissolve mal-entendidos ancestrais!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Set. 2022
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O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA