A indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) Gabriel Galípolo como presidente da instituição a partir de 2025 foi aprovada nesta terça-feira, 8, pelo Senado por ampla maioria, pelo placar de 66 a 5. Analistas do mercado financeiro avaliam, porém, que os desafios para o economista não serão pequenos, e podem começar por seu relacionamento com o governo e pelas pressões por juros mais baixos.
Os analistas também apontam como outro grande desafio a ancoragem da inflação. “As projeções para 2024 e 2025 já estão distantes da meta de 3%, e o Banco Central precisará agir preventivamente para evitar a consolidação dessa tendência”, diz a coordenadora internacional do Grupo Fractal, Gabriela Paixão.
“O presidente precisa ter habilidade para ajustar a política monetária, mantendo os preços estáveis e estimulando a economia de forma equilibrada”, concorda o professor da Trevisan Escola de Negócios, André Vasconcellos. “A experiência do Galípolo em liderança e análise técnica rigorosa são essenciais para fundamentar as decisões de política monetária”
Até o final do ano, Galípolo permanece como diretor de Política Monetária da autarquia e participará de mais duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para definição sobre juros. E o mercado projeta novas altas na Selic, com a taxa básica de juros encerrando 2024 em 11,75% ao ano.
Mercado vê sinais de independência em Galípolo
Analistas de instituições financeiras esperam que Gabriel Galípolo dê continuidade ao modelo de gestão do atual chefe da autarquia, Roberto Campos Neto, e continue de fato perseguindo o cumprimento das metas de inflação.
“Ele tem um histórico em relação a coisas que ele já declarou, livros que já escreveu e outros indicadores que mostram que ele tem crenças que não estão alinhadas ao que o mercado gosta e tão pouco alinhadas a como o Campos Neto vinha conduzindo”, comenta o economista Bruno Corano, da Imigre América.
“O mercado se agarra, nas últimas semanas, aos sinais positivos que vieram principalmente da última reunião do Copom”, diz o head de Conteúdo da Faz Capital, Tayllis Zatti. “Foi o primeiro movimento de subida desde agosto de 2022 e em uma decisão unânime, apesar das críticas de Lula.” Zatti vê o movimento como um aceno da independência de Galípolo.
Em nota, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirmou que o setor vê “muito promissor o futuro mandato à frente da autoridade monetária” e destacou a forma “serena e institucional” que vem sendo conduzida a transição.
Sócio fundador da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho destaca o bom desempenho de Galípolo na sabatina. “Retóricas a parte, são às suas atitudes que o mercado irá prestar muita atenção, e ele terá muito êxito no seu mandato se conquistar a confiança dos agentes e não se deixar contaminar pelas pressões políticas.”
Em outro campo, há economistas críticos a Campos Neto que esperam uma virada com a nova gestão. “O controle da inflação pode se dar de diversas formas, inclusive com taxa de juros, mas esse controle não pode de forma alguma asfixiar a economia”, diz Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP). “Galípolo tem essas condições, essa sensibilidade social que vai mudar a forma como o Banco Central age.”
“Só vamos ter certeza em janeiro, na primeira reunião que terá de fato com ele presidindo”, conclui Laatus. A primeira reunião do Comitê sob a liderança de Galípolo no BC será nos dias 28 e 29 de janeiro de 2025.
Fonte: IstoéDinheiro | Foto: REUTERS/Adriano Machado