‘Lulinha paz e amor’ x ‘Bolsolove’: campanha do presidente tenta convencê-lo a adotar tom ‘paizão’ na reta final da campanha
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‘Lulinha paz e amor’ x ‘Bolsolove’: campanha do presidente tenta convencê-lo a adotar tom ‘paizão’ na reta final da campanha

Presidente já foi apresentado a pesquisas qualitativas que evidenciam que a truculência afasta os eleitores, principalmente mulheres

 

Acossada pela curva ascendente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) fará uma espécie de última tentativa para convencê-lo a deixar sua versão belicosa de lado e se apresentar de modo mais afável nos últimos dias antes do primeiro turno das eleições, no dia 2 de outubro. A ideia é emplacar o que vem sendo chamado internamente de “Bolsolove”, para rebater a declaração dada pelo petista em entrevista ao “Programa do Ratinho”, no SBT, quando anunciou que o “Lulinha paz e amor voltou com tudo”, em referência ao termo criado em 2002, quando ele se elegeu presidente.

Nos planos do QG bolsonarista, o presidente usaria uma faceta mais leve e sensível nos programas de TV, mais longos, e deixaria os ataques mais incisivos a Lula para as inserções a que tem direto durante o intervalo comercial. O temor, porém, é que Bolsonaro tenha novos rompantes de agressividade, que podem ser fatais na reta final da corrida presidencial, a exemplo do que ocorreu hoje de manhã.

Em comício na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais, ele voltou a subir o tom e afirmou que botará um “ponto final” no “abuso” que existe em “outro Poder”. Não especificou se falava sobre o Supremo Tribunal Federal, mas usou o mesmo discurso que costuma adotar ao atacar a Corte.

— Vocês sabem que estão tendo cada dia mais a sua liberdade ameaçada por um outro Poder, que não é o Poder Executivo. Nós sabemos que devemos colocar um ponto final nesse abuso que existe por parte de outro Poder — afirmou, antes de complementar: — Em havendo a reeleição, todos, sem exceção, jogarão dentro das 4 linhas da Constituição. Ninguém é dono de nada aqui.

Integrantes da campanha já vinham pedindo ao chefe que ele adotasse uma postura de “paizão” dos brasileiros, com o objetivo de diminuir a alta rejeição. Segundo a pesquisa do Datafolha divulgada na quinta-feira, o presidente é rejeitado por 52% dos eleitores e Lula, por 39%. O petista lidera as intenções de voto com 47%, 14 pontos à frente do atual titular do Planalto, que soma 33%, segundo o mesmo levantamento.

Bolsonaro já foi apresentado a pesquisas qualitativas que evidenciam que a truculência afasta os eleitores, principalmente mulheres. Na tentativa de modulá-lo, aliados argumentaram que a população está fragilizada e carente de atenção, sobretudo após passar a pandemia da Covid-19, que matou mais de 600 mil brasileiros. Nessa mesma esteira, ele foi aconselhado a deixar transparecer o perfil mais amoroso e “chorão”, que, segundo aliados, tende a despertar empatia.

Na outra ponta da trincheira, Lula tem explorado o temperamento explosivo de seu adversário. Em seus discursos, o petista costuma sustentar que, em vez de governar, pretende cuidar das pessoas. Em entrevista ao Ratinho, o ex-presidente disse que Bolsonaro é “bruto”, “ignorante” e “chucrão”.

O chefe do Executivo, que atacou a jornalista Vera Magalhães durante o debate da Band, no início deste mês, chegou a ensaiar um recuo na semana passada, em entrevista a um podcast, quando ele admitiu que “deu uma aloprada”. A “mea culpa” se referia à declaração dada no início da pandemia, ocasião em que disse que não era “coveiro” ao ser questionado a respeito das vidas ceifadas pela doença. Ao podcast, disse que se arrependia e argumentou qu o seu comportamento mudou no último ano e que a cadeira da Presidência da República é um “aprendizado”.

A versão mais ponderada, porém, esbarrou na própria verborragia do presidente. Na mesma entrevista, ele disse que racismo “não existe da forma como falam” no Brasil. Recentemente, encerrou uma entrevista abruptamente em Londres ao ser perguntado sobre o uso eleitoral de sua viagem para o funeral da Rainha Elizabeth II.

Fonte: O Globo | Foto: Evaristo Sá/AFP