Estratégia é tentar levar sigla com mais recursos e maior tempo de TV para a campanha à reeleição do presidente
O Palácio do Planalto entrou em campo para forçar o presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), a retirar o partido do grupo que tenta viabilizar um candidato de terceira via na eleição presidencial. A ala governista da legenda tem recebido sinais de que perderá cargos, caso a sigla oficialize a coligação com MDB, PSDB e Cidadania. O recado partiu da Casa Civil, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira.
O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), tem sido o principal articulador da candidatura própria de Bivar. O objetivo é enfraquecer a terceira via e evitar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) perca votos para o grupo que se batizou de “centro democrático” e levar a legenda com maior recurso eleitoral e maior tempo de TV na campanha para apoiar a reeleição.
Elmar tem muito a perder em eventual rompimento. Ele controla a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a “estatal do Centrão”. Interlocutores dos quatro partidos do bloco contam que o deputado já foi avisado de que perderá a influência na companhia.
É dele a indicação de Marcelo Moreira Pinto para a presidência do órgão, onde se notabilizou a utilização do orçamento secreto em troca de apoio político para o governo, revelado pelo Estadão. O líder da bancada também chegou a indicar o irmão, Elmo Nascimento, para a superintendência de Juazeiro (BA). Hoje, o cargo é de outro aliado, José Anselmo Moreira Bispo.
A superintendência de Bom Jesus (BA) da Lapa é do correligionário Arthur Maia (BA), que apadrinhou Harley Xavier Nascimento. O parlamentar acaba de ser eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Arthur Maia sucede a bolsonarista Bia Kicis (PL-DF) no colegiado que é estratégico para a tramitação de matérias de interesse do Poder Executivo.
Elmar Nascimento e Arthur Maia são deputados de perfil governista, que protagonizaram uma debandada no antigo Democratas, em 2021, na disputa para a presidência da Câmara. Numa virada, eles passaram a apoiar o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), então candidato favorito de Bolsonaro ao comando da Casa.
Mágoas
O episódio deixou mágoas e desconfiança até hoje. Na ocasião, eles abandonaram e acabaram por enfraquecer a candidatura de Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, que contava com apoio não só do DEM, mas de outros partidos que agora tentam construir a terceira via, como PSDB e Cidadania.
Uma nova reunião com a cúpula de MDB, PSDB e Cidadania está prevista para a próxima quarta-feira. Segundo a equipe de Bivar, ele deve tomar uma decisão somente após esse encontro.
O presidente do partido criado a partir da fusão de DEM e PSL vinha sinalizando um deslocamento do grupo desde o início do mês. Em 6 de abril, em uma das reuniões da terceira via para estreitar as opções de candidaturas, ele anunciou que a legenda incluiria um nome nas conversas para formação da chapa. O União é o partido ao qual o ex-juiz Sérgio Moro se filiou após deixar o Podemos. Ele chegou a ser lançado pré-candidato à presidência da República pela ex-sigla, mas não se viabilizou. Bivar tem usado o nome de Moro em conversas como um possível cabeça de chapa. O ex-juiz diz não ter definido a qual cargo vai concorrer.
Enquanto isso, porém, o Planalto segue na ofensiva sobre Bivar e Antônio Rueda, outro homem de confiança dele no União Brasil. O assédio para tirar o União Brasil – e seu cofre de quase R$ 1 bilhão em verbas públicas – da terceira via e atraí-lo para a campanha presidencial é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), chefão da campanha do pai. Bivar, Flávio e Rueda sempre tiveram boas relações. Como Bivar está em viagem ao exterior, nos Estados Unidos, Rueda tem sido seu interlocutor.
Ao Estadão, Bivar disse que não faz sentido a tese de que seu partido trabalha para fortalecer Bolsonaro. Segundo ele, a legenda tem um projeto de País e defende as instituições e a democracia. Ele minimiza o fato de seus correligionários controlarem cargos importantes no governo Bolsonaro, mas confirma que mantém conversas com o senador Flávio Bolsonaro.
Resistência no União Brasil
Assim que assumiu posição de destaque no comitê do pai, após a filiação do PL, Flávio disse ao Estadão que o União Brasil era um dos partidos que tentaria atrair para a órbita de aliados do presidente. A resistência, segundo auxiliares do senador, segue sendo de caciques do Democratas, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, secretário-geral do partido e pré-candidato ao governo da Bahia.
Nos bastidores, parlamentares do União Brasil já tiveram sinal verde de Bivar para apoiar o presidente Jair Bolsonaro e candidatos dele nos Estados, se tiverem base eleitoral com afinidades.
A confirmação da saída de Bivar e do União Brasil do bloco de Centro marcaria uma derrota para o grupo que vinha apostando na senadora Simone Tebet (MDB-MS) como cabeça da chapa presidencial. A terceira via enfrenta dificuldades para se consolidar e os principais presidenciáveis não decolam nas pesquisas. Além disso, o União Brasil tem o maior fundo para campanha e o maior tempo de TV.
Outra frente de enfraquecimento da terceira via é patrocinada pelo PT. Lideranças emedebistas próximas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm trabalhado para fazer a cúpula do MDB desistir de lançar a candidatura de Simone Tebet.
Com isso, lideranças como o senador Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) estariam livres para apoiar o petista e vislumbrar espaços em eventual novo governo Lula. Ambos têm defendido que o lançamento de Simone mesmo com as pesquisas mostrando grande desvantagem seria prejudicial ao partido.
União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania haviam prometido anunciar uma chapa para a disputa à Presidência até 18 de maio.
Fonte: Estadão | Foto: Dida Sampaio/Estadão