A mobilização nacional reclama o pagamento de salários, tíquetes e outros direitos trabalhistas em atraso
Autor: Correio | Foto: Divulgação
Passageiros da Viação Itapemirim viram a viagem ser interrompida no meio do trajeto, em rodoviárias baianas, na quinta-feira (10), por conta de uma paralisação nacional iniciada pelos funcionários da empresa. O movimento tem previsão de durar 72h, exige o pagamento de salários, tíquetes alimentação e outros direitos trabalhistas que estão atrasados.
Na Bahia, uma das cidades afetadas foi Vitória da Conquista. De acordo com reportagem da TV Bahia, os passageiros foram obrigados a parar lá, mesmo tendo outros destinos.
O estofador Anderson Barbosa, que saiu de Ubá, em Minas Gerais, reclamou da situação. Ele pretendia ir para Salvador, mas precisou parar em Vitória da Conquista, a cerca de 500 quilômetros da capital, por causa da manifestação dos trabalhadores.
“Eles trancaram o ônibus, todo mundo se escondeu e ninguém fala nada. O guichê da empresa está trancado. Ninguém dá uma satisfação se vai remanejar a gente para outro ônibus”, contou à reportagem.
Também foi interrompida a linha do Rio de Janeiro para a capital. A dona de casa Aurora Fernandes saiu daquele estado para visitar o filho no município de Jequié, sudoeste do estado. Ela também se queixou da falta de informações da empresa. “É uma coisa triste, revoltante, porque a gente sai, paga a passagem e acontece uma coisa dessas. Eles têm que ter responsabilidade”, apontou ela. Antes de chegar a Salvador, o ônibus faz paradas em Conquista e Jequié.
Os guichês da empresa na rodoviária de Salvador também tiveram as atividades suspensas, segundo a reportagem. O CORREIO tentou contato com a Viação Itapemirim, mas não obteve respostas até o fechamento desta reportagem.
Em nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que acompanha a situação em terminais de passageiros e garagens da empresa. Disse também que “está trabalhando para que não haja descontinuidade do serviço, e também, para mitigar os efeitos dessa paralisação junto aos passageiros da empresa”.
O órgão afirmou também que está realocando passageiros em outras transportadoras e que os que não conseguiram embarcar ou concluir viagem têm direito a reembolso imediato, que pode ser solicitado no site da Itapemirim.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários em Vitória da Conquista, Álvaro Souza, acompanhou a paralisação na rodoviária da cidade. “São quase dois meses sem receber salários e também há quase cinco meses sem receber o tíquete alimentação deles. Então não é uma paralisação que é exclusiva de Vitória da Conquista, é de várias partes do Brasil. Outros sindicatos também estão fazendo essa mesma ação, como forma de pressionar a empresa a honrar os compromissos com seus trabalhadores”, pontuou ele à TV Sudoeste.
Para encontrar uma solução, o presidente pede que os clientes entrem em contato com a ANTT: “É compreensível a revolta dos passageiros, mas nós sempre recomendamos a todos os que se sentem prejudicados a entrar em contato com a ANTT, para que a agência tome uma providência mais severa com relação à empresa”.
A empresa
A Viação Itapemirim protocolou pedido de recuperação judicial na 13ª Vara Cível Especializada Empresarial de Vitória em março de 2016. De acordo com a empresa, a decisão foi tomada pela conjuntura financeira e econômica do país na época.
Um ano antes, na tentativa de dar continuidade aos negócios, a Viação Itapemirim vendeu cerca de 40% de sua frota de veículos e transferiu mais da metade das linhas em operação para a Viação Kaissara.
No total, foram repassadas à Kaissara 68 das 118 linhas que eram operadas pela empresa. Depois dessa operação, a Itapemirim permaneceu operando em 50 trechos.
O grupo Itapemirim atualmente enfrenta um longo processo de recuperação judicial. Segundo a administradora judicial EXM Partners, a empresa devia cerca de R$ 253 milhões aos seus credores em setembro, além de R$ 2,2 bilhões em dívidas tributárias.
Lançamento da companhia aérea
Mesmo com a recuperação judicial da Viação Itapemirim, o grupo Itapemirim lançou, em maio de 2021, sua companhia aérea, a Ita. Em 2020, a empresa anunciou a contratação de cerca de 600 profissionais, entre pilotos, copilotos, técnicos de aeronave e comissários de bordo.
A crise na Ita começou seis meses após seu lançamento, quando a empresa aérea passou a atrasar salários e benefícios de funcionários, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e pagamentos de fornecedores. Além disso, o plano de saúde da equipe foi suspenso desde o início de dezembro, informou o Sindicato Nacional dos Aeronautas.
No dia 17 de dezembro, a Ita Transportes Aéreos suspendeu todas as suas operações, causando uma série de transtornos aos clientes e passageiros que aguardavam embarque em aeroportos. À época, o grupo informou que a decisão não afetaria o serviço de transporte rodoviário da Viação Itapemirim.