Em dia de julgamento do Marco Temporal, indígenas protestam na Bahia
Justiça Poder Protesto

Em dia de julgamento do Marco Temporal, indígenas protestam na Bahia

Indígenas moradores de várias cidades da Bahia se manifestam, nesta quarta-feira (7), contra a aprovação no Supremo Tribunal Federal (STF) do marco temporal, que demarcará terras indígenas a partir da data da Constituição. O julgamento desta quarta foi suspenso por, pelo menos, 90 dias, após pedido de vista do ministro André Mendonça e ocorre uma semana após o tema ser aprovado na Câmara, por 283 votos a 155.

Manifestações na Bahia aconteceram nas cidades de Salvador, Camacã, Porto Seguro, Ibó, e em vários pontos das BRs que cortam o estado, de acordo com o coordenador-geral do Mupoiba, Agnaldo Pataxó Hã-Hã-Hãe.

“Os protestos são pacíficos, e já foram discutidos com as polícias regionais com antecedência para protestarmos contra o retrocesso e o genocídio que essa aprovação pode representar para nossas populações”, diz. “E o marco não vai ter impacto só na vida dos indígenas, mas de todos, porque libera desmatamento, exploração mineral, e isso terá um impacto ecológico na atmosfera global”, reforça a liderança. No dia da aprovação do texto na Câmara, três indígenas foram baleados em uma invasão às terras no sul da Bahia, em Eunápolis, e um deles morreu. Os indígenas atribuem os tiros a seguranças de fazendeiros e produtores rurais da região, que, com essa ação, teriam recuperado a posse da Fazenda Matozinho.

Uma das manifestações foi na BR-101, na altura da aldeia Nova Esperança, entre Itamaraju e Itabela, no sul da Bahia, organizadas por lideranças dos três territórios: Barra Velha do Monte Pascoal, Comexatiba e Coroa Vermelha. As pistas eram momentaneamente fechadas por manifestantes, e abertas em seguida. Em Salvador, protestos aconteceram por volta das 11h, no Campo Grande.

Manifestantes em Brasília

De acordo com a diretora da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), Claudia Correia, um ônibus com indígenas da etnia Pataxó, que se localizam no extremo sul da Bahia, chegou a ir para a sede dos Três Poderes, em Brasília, para integrar protestos, que aconteceram em todo o país.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, acompanhou o julgamento no plenário. Também havia cadeiras reservadas para 50 indígenas. Do lado de fora do STF, um telão transmitiu o julgamento para cerca de dois mil indígenas que estavam na Esplanada.

O texto ainda precisa passar pelo Senado, mas o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a deliberação da matéria será tratada com “cautela” e “prudência”.

A discussão é se a data da promulgação da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, deve ser adotada como marco temporal para definir a ocupação tradicional da terra por indígenas. Até o momento, foram proferidos dois votos: o do relator, ministro Edson Fachin, que se manifestou contra o marco temporal, e o do ministro Nunes Marques, a favor.

Fonte: Correio24hrs | Foto: Anai