Autor: Fernando Duarte
Praticamente derrotado no primeiro turno por Jerônimo Rodrigues (PT), o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União), vai lutar até o dia 30 de outubro para conter os eventuais danos à própria imagem, depois de liderar a corrida até a abertura das urnas. O quadro favorável ao petista dificilmente será alterado e os impactos simbólicos dos abandonos serão sentidos apenas após a segunda etapa do pleito. Na guerrilha política, ACM Neto poderá enfrentar um cenário de terra arrasada, com esforços redobrados para juntar os cacos.
Publicamente, o entorno da campanha do União Brasil trabalha com todas as forças para reverter o favoritismo agora colado em Jerônimo. Se antes a campanha “paz e amor” prevalecia, o tom agora subiu e é possível ver que o clima de “já ganhou”, negado na mesma intensidade com que contaminava o entorno de ACM Neto, foi substituído por uma série de batalhas contra o petismo. A guerra final, sabemos, tem data e hora para acabar, no final do mês. Porém é inegável que a bola está com o governista e com a onda vermelha de Luiz Inácio Lula da Silva.
ACM Neto não vai entregar facilmente os pontos. É claro o esforço para tentar colocar o adversário contra as cordas e o empenho dele para a realização de debates é a parte visível dessa equação. Todavia, usando a mesma estratégia do ex-prefeito no primeiro turno, Jerônimo não deve comparecer a qualquer confronto direto com ele. Parte para evitar a fadiga de ter o candidato atacado sem o entourage imprescindível para uma figura fragilizada como o ex-secretário de Educação, parte pelo idêntico clima de salto alto que contaminou o entorno do ex-gestor da capital baiana. Sem os debates, a tão falada democracia fica em segundo plano e a todos os envolvidos cabe aceitar a hipocrisia que foi usar dois pesos e duas medidas, a depender da posição de favoritismo de cada candidato.
Ao terminar atrás de Jerônimo quando as pesquisas sugeriam até mesmo a possibilidade de vitória em primeiro turno, ACM Neto já tinha diminuído o capital político acumulado. Caso se confirme uma derrota geral na eleição, é preciso saber como irão se comportar aqueles aliados que são oposição de fato e não apenas transitória. O fisiologismo vai mostrar quem vai permanecer abraçado mesmo com o barco afundando ou vai pular para um novo navio assim que ele zarpar das urnas. Enquanto isso, a prefeitura de Salvador pode se tornar o último bastião do grupo político, tal qual o foi em 2013, quando o próprio ACM Neto passou a comandar o Palácio Thomé de Souza.
Jerônimo venceu o primeiro turno puxado pelos fenômenos Lula e PT – e em menor medida PSD e Otto Alencar. Também lidou com alguns deméritos da campanha de ACM Neto, que se esforçou para perder o pleito. Agora, uma eventual virada de jogo não depende apenas do desempenho do ex-prefeito. Ele também precisa lidar com um bate-cabeças do grupo petista, algo que não se rascunha no horizonte. Talvez seja importante, nesse caso, já se preparar para juntar os pedaços e pensar no futuro.
Fonte: Bahia Noticias | Foto: Divulgação