Investigadores da Operação Overclean, deflagrada na última terça-feira (12) pela Polícia Federal (PF) na Bahia e em mais quatro estados, descobriram rastros do esquema de desvios de emendas parlamentares em contratos com o Departamento nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) em pelo menos outros dois municípios do interior baiano, Jequié e Itapetinga, ambos no sudoeste do estado. De acordo com inquérito em que pede à Justiça Federal a prisão de 17 alvos da Overclean, a PF cita indícios de superfaturamento e direcionamento de licitação para obras de pavimentação em povoados e estradas vicinais tocadas pela prefeitura das duas cidades com recursos do Dnocs por indicação de deputados federais da Bahia. Em todos os casos sob a mira da operação, há provas de pagamento de propina e fraudes para beneficiar empresas do empresário Alex Parente, denunciado como líder do esquema e preso preventivamente por ordem do juiz Fábio Moreira Ramiro, da 2ª Vara Federal de Salvador.
Me ajeite que eu te ajeito
Em Jequié, um dos municípios mais populosos do interior baiano, as investigações revelaram que a coordenadora de Projetos, Execução e Controle da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente da cidade, Kaliane Lomanto Bastos, cobrava suborno para liberar pagamentos retidos de contratos públicos superfaturados entre a prefeitura e a empreiteira Allpha Pavimentações e Serviços de Construções, empresa dirigida por Alex Parente e seu irmão, Fábio, outro preso pela Overclean. “Os diálogos entre Kaliane e Alex Parente demonstram a negociação de propina, inclusive, ela reitera a necessidade de receber sua parte para continuar trabalhando na liberação das demais notas, reiterando que já tem três meses de pagamentos pendentes para ela. Finaliza dizendo que, na semana do dia 19 de janeiro de 2024, verificará o andamento do processo e o avisará (Parente)”, destacaram os investigadores, no relatório remetido à Justiça. De fato, a PF descobriu provas de que a servidora, também presa na terça, recebeu ao menos R$ 48,7 mil para favorecer o esquema.
Andar de cima
Em Itapetinga, cidade de 65 mil habitantes, o esquema alcançou o alto escalão da prefeitura. Segundo a PF, o secretário municipal de Governo, Orlando Ribeiro, “atua como um facilitador interno que utiliza o seu cargo para garantir que as empresas do grupo criminoso recebam os pagamentos dos contratos fraudulentos”. “Os elementos colhidos apontam para o recebimento de propina em troca de ações que favoreçam as empresas do grupo criminoso, bem como a relação próxima que mantém com Alex Parente, desenvolvendo estratégias para liberação dos recursos do município, manipulando as decisões em benefício da organização”, destacou o juiz federal Fábio Ramiro, ao citar informações da PF de que Ribeiro recebeu, através de um laranja, R$ 83,5 mil entre os anos de 2022 e 2024, de duas empresas investigadas pela operação, a BRA Tela e a FAP Participações, ligadas ao suposto líder do esquema.
Diga aí!
As investigações sobre os desvios de verbas do Dnocs em Itapetinga respingaram também sobre o vereador reeleito Diego Queiroz Oliveira, mais conhecido como Diga Diga (PSD). Para a PF, as provas coletadas durante os trabalhos de campo indicam que o político servia como um dos intermediários do esquema junto à prefeitura. “A autoridade policial afirma que o referido agente público recebe, frequentemente, pagamentos espúrios realizados por Alex Parente”, emendou o magistrado responsável pela operação no âmbito da Justiça Federal da Bahia.
Xis da questão
Passado o primeiro furacão causado pelo cerco aos desvios no Dnocs, a pergunta que se faz nas rodas de conversas entre políticos baianos é se a ofensiva da PF chegará os prefeitos de cidades onde o esquema operou, bem como nos deputados que indicaram emendas cujos contratos acabaram servindo para dilapidar o erário.
Alerta vermelho
A prisão do ex-diretor-geral da Secretaria Municipal de Educação Flávio Pimenta, exonerado quarta-feira (11) pelo prefeito Bruno Reis, elevou o grau de tensão nos corredores do Palácio Thomé de Souza. Não apenas por causa da robustez dos indícios de fraude em licitações da pasta. Mas, sobretudo, pela influência e pelo trânsito livre de Pimenta no andar de cima do União Brasil na Bahia.
Home da mala
Em conversas reservadas com a Metropolítica, fontes com acesso às investigações sobre os desvios no Dnocs e em contratos com diversos municípios baiano, incluindo a capital, afirmaram que a equipe responsável pela Overclean tem especial interesse em um dos alvos presos pela operação. Trata-se de Clebson Cruz de Oliveira, apontado como responsável pela logística do esquema e pela movimentação de altos volumes de dinheiro em espécie. De acordo com a PF, de 28 de maio de 2020 a 31 de agosto de 2022, Oliveira sacou mais de R$ 1 milhão das contas da FAP Participações e de mais uma empresa envolvida nos desvios, a Qualymulti Serviços, também dos irmãos Alex e Flávio Parente. Oliveira chegou a cair no radar do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), por ter movimentado valores incompatíveis com sua renda declarada entre setembro de 2022 e março de 2023.
Faz-tudo da propina
Em manifestação á Justiça a PF apontou Clebson Oliveira como integrante do núcleo operacional do esquema, “fornecendo apoio logístico à organização criminosa no âmbito do Município de Salvador e executando tarefas manuais, como por exemplo, entrega de propinas em nome dos empresários e realização de saques em espécie de valores vultosos, cujo objetivo é o pagamento de propina para fortalecer a estrutura do esquema”. Segundo apurou a coluna, a expectativa dos investigadores é que de as provas coletadas durante as buscas e apreensões contra ele liguem pontas soltas, como os reais destinatários do dinheiro ilícito, e forneçam detalhes ainda desconhecidos pela Overclean.
Fonte: Metro1 | Foto: Divulgação/Polícia Federal