Pesquisadores da UFRB revelam reservas de Terras Raras no interior baiano e cobram atenção do governo
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Pesquisadores da UFRB revelam reservas de Terras Raras no interior baiano e cobram atenção do governo

Uma discussão reacendida pela disputa global é a busca por Terras Raras — elementos que hoje movem a tecnologia global, de celulares a carros elétricos — e que estão ali, silenciosamente guardados. O Brasil é o segundo na lista de países com maior número de reservas, porém exploradas, na maioria por outros países. No caso da Bahia, esse padrão não é diferente: parte do interior baiano possui reservas exploradas por empresas, sobretudo em municípios como Belmonte, Jequié, Ubaíra, Jiquiriçá e Prado.

As chamadas “Terras Raras” são um grupo de 17 elementos químicos, incluindo os lantanídeos, além do escândio e do ítrio. Apesar de o nome sugerir escassez, esses elementos estão presentes em diversas regiões do planeta — o verdadeiro desafio está em localizá-los em concentrações que viabilizem a exploração econômica.

“Apesar do nome, Terras Raras não são assim tão raras [no nosso estado]. O problema é que estão, na maioria das vezes, dispersas na crosta terrestre e exigem processos sofisticados para separação e purificação”, explica o professor Jorge Menezes, que lidera o Grupo de Materiais Fotônicos da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia).

Atualmente, a China domina a produção mundial, com mais de 270 mil toneladas extraídas em 2024, enquanto o Brasil, apesar de ter a segunda maior reserva do mundo, segundo o U.S Geology Survey 2024 (cerca de 21 milhões de toneladas), produziu apenas 20 toneladas no mesmo ano.

Veja em gráfico:

Na Bahia, pelo menos seis municípios estão na mira de projetos de mineração com participação de empresas estrangeiras do Canadá, Austrália e Estados Unidos, conforme informações do Grupo de Materiais Fotônicos da UFRB. Como em depósitos de monazita em minerais pesados nas praias históricas do Extremo Sul Baiano, especialmente na região de Cumuruxatiba em Prado e partes de Alcobaça.

Para o professor Jorge Menezes, os benefícios podem ser significativos, desde que a Bahia melhore sua estrutura justamente na questão dos materiais.

“Não basta exportar o minério bruto. A Bahia pode e deve pensar em toda a cadeia: da prospecção ao produto final. Isso inclui produção de ímãs, dispositivos fotônicos, motores elétricos e outros materiais estratégicos”, ressalta o pesquisador.

MATERIAIS CRÍTICOS x ESTRATÉGICOS
É preciso explicar uma diferença essencial, entre os materiais críticos e estratégicos. Os chamados “minerais críticos” são essenciais para setores como tecnologia, energia e defesa, e apresentam alto risco de escassez devido à concentração da produção em poucos países e à dificuldade de substituição — como o cobalto, tungstênio e grafite natural.

Já os minerais estratégicos são definidos pelo Estado como vitais para a soberania nacional, segurança e desenvolvimento industrial de determinados países. Enquanto os críticos envolvem análise econômica e de risco, os estratégicos refletem interesses geopolíticos sobretudo em exportação.

Dentro da geopolítica dos minerais, uma distinção importante deve ser feita entre minerais críticos e minerais estratégicos. Entre eles estão: terras raras, nióbio, urânio, manganês, grafite, cobre, fosfato e lítio. Para o grupo de pesquisa ainda é preciso fornecer apoio melhor a questão.

“No Brasil, terras raras são ambas as coisas: críticas e estratégicas. Estão no centro de disputas econômicas globais, mas também representam uma chance de autonomia tecnológica e industrial”, explica o professor.

A UFRB tem buscado o cenário nacional por seu trabalho de pesquisa aplicada voltada às terras raras. O grupo liderado por Menezes desenvolve desde sensores inteligentes até dispositivos ópticos baseados em materiais sustentáveis.

Entre os projetos em andamento estão:

Nanoceluloses dopadas com íons de európio, aplicadas em sensores e embalagens inteligentes;

Filmes finos luminescentes, utilizados em dispositivos ópticos, produzidos por técnicas de baixo custo.

Em entrevista ao Bahia Notícias, o orientador do projeto pela UFRB revela uma criação envolve a criação de uma rede de estudo de Terras Raras com parcerias com instituições como UFBA, IFBA, SENAI Cimatec e universidades internacionais, além de publicações científicas e participação em congressos no exterior.

“O objetivo é claro: transformar conhecimento científico em desenvolvimento econômico e social. A Bahia pode ser protagonista, com tecnologia própria, formação de especialistas e fortalecimento de sua cadeia produtiva”, conta o professor.

Fonte: Bahia Noticias | Foto: Montagem / Bahia Notícias