Sócio da Magic Beans Comunicação aparece como responsável pelo Lulaflix
A Magic Beans Comunicação, cujo sócio é responsável pelo site Lulaflix, deve embolsar ao menos R$ 7 milhões da campanha de Jair Bolsonaro e de seu partido, o PL.
O Lulaflix é um site que reúne conteúdo negativo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que foi impulsionado no Google pela campanha de Bolsonaro, numa prática que —segundo especialistas— fere a legislação eleitoral.
A chapa do presidente contratou a empresa por R$ 4 milhões, mas seu nome já aparecia nas contas do PL desde a pré-campanha, segundo informações disponibilizadas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
Foram três pagamentos realizados pela legenda comandada por Valdemar Costa Neto entre os dias 10 junho e 21 de julho, num total de R$ 3,1 milhões, quitados com dinheiro do fundo partidário.
Pouco antes, no mês de março, a Magic Beans, com sede em São Paulo, passou por uma reformulação. Teve seu capital social turbinado e suas atividades econômicas ampliadas.
A empresa também foi contratada, por R$ 100 mil, pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que tenta retornar à Casa pelo PTB paulista.
A Folha mostrou na quinta-feira (15) que a campanha de Bolsonaro criou e impulsionou o Lulaflix no Google. A equipe de Lula recorreu ao TSE para tentar barrar a promoção da página e retirá-la do ar.
A conduta fere a legislação eleitoral, dizem especialistas. Poderia haver, segundo eles, apenas o estímulo de conteúdo positivo sobre as campanhas dos próprios candidatos, sendo vedado promover material negativo contra adversários.
O Lulaflix foi criado no dia 30 do mês passado e o domínio está registrado no CNPJ da campanha bolsonarista, embora essa informação não conste no TSE.
O nome do responsável é Lucas Allex Pedro dos Santos, 27, sócio-administrador da Magic Beans, que tem endereço no bairro da Água Branca, em São Paulo. Ele também aparece como “contato técnico” de um site oficial da campanha do mandatário, o Pelo Bem do Brasil 22.
Santos e a Magic Beans foram procurados pela Folha, mas não houve resposta. A campanha de Bolsonaro e o PL também não se manifestaram.
Pessoas que conhecem Santos afirmaram, reservadamente, que ele nunca havia trabalhado com campanhas políticas ou políticos. O mais próximo disso foram contratos relacionados a divulgação de políticas públicas.
Segundo esses interlocutores, o empresário comemorou o fato de ter sido contratado por uma campanha presidencial importante.
A Magic Beans atua na produção em massa de conteúdo para a campanha de Bolsonaro e também para o PL, mas não tem ingerência sobre o teor das publicações. Tampouco cuida das redes pessoais do presidente.
Documentos da Junta Comercial da capital paulista mostram que a empresa foi reconfigurada em março. Segundo os registros, ela tinha, até então, o nome de seu proprietário e um capital social de apenas R$ 1.000. Mudou para o novo nome e o capital social foi aumentado para R$ 150 mil.
Também passou a ter como atividades econômicas consultoria em publicidade, suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação, atividades de consultoria em gestão empresarial.
Pouco antes de a Magic Beans ganhar o novo status, outra empresa de publicidade ligada a Santos virou alvo de uma disputa judicial.
Em fevereiro, ele entrou com uma ação contra Edgar Mafra, seu sócio na 380 Volts Comunicação. No processo, os dois trocam diversas acusações.
Santos pede para ser considerado o único sócio da 380 Volts sob a alegação de que Mafra agiu contra os interesses da empresa.
Mafra rebate e diz que Santos costumava contratar familiares e amigos e questiona a justificativa de pagamentos feitos para prestadores de serviço em Brasília, sem conhecimento do trabalho realizado.
Ainda segundo as afirmações feitas à Justiça por seu sócio, Santos passou grande parte do ano de 2021 no Canadá estudando, período no qual ele falhou com a entrega dos trabalhos da empresa, o que causou rompimento de contratos.
Mafra questiona a criação da Magic Beans, por esta atuar no mesmo ramo da antiga empresa e poder ser considerada uma concorrente direta no mercado.
Fundada em 2016, a 380 Volts participa atualmente de um consórcio de empresas que mantém contrato com o BNDES, no valor de R$ 4,5 milhões.
Procurado pela Folha, o banco informou que o grupo (Consórcio Revitaliza) o auxilia na estruturação do projeto de revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre (RS). O contrato foi formalizado em maio do ano passado.
“O consórcio foi selecionado após processo competitivo do qual participaram outros 6 (seis) consórcios de empresas”, afirmou o BNDES.
De acordo com o BNDES, a participação da 380 Volts no consórcio é de 12% do contrato, com a responsabilidade de prestar o serviço de assessoria de comunicação.
“O valor no contrato que cabe à empresa é de R$ 554.899,56. Já foram desembolsados R$ 330.900,00 pelos serviços de comunicação prestados, com último pagamento efetuado em março/22”, afirmou a instituição financeira.
Fonte: Folha de S. Paulo | Foto: Reprodução/FlowPodcast no Youtube