Celebração que marca expulsão dos portugueses da Bahia em 1823 tem presença dos presidenciáveis
A celebração da Independência da Bahia, com a presença de quatro presidenciáveis neste sábado (2) em Salvador, teve Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cortejo cívico ao lado da militância petista, Jair Bolsonaro (PL) apartado em motociata em outra região da cidade e trocas de afagos entre Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
Lula, Ciro e Simone caminharam nas ruas do Centro Antigo de Salvador ao lado de apoiadores, mas apenas os dois últimos se encontraram.
Bolsonaro, por sua vez, fez um trajeto de 37 km de moto pelas ruas da cidade acompanhado de sua militância. Ele fez um discurso a apoiadores em que falou de Deus, criticou governadores e prometeu que o Brasil teria “uma dos combustíveis mais baratos do mundo”.
O ato, que acontece faltando três meses para a eleição presidencial, foi encarado como primeiro grande teste da campanha presidencial, com militantes nas ruas e preocupação adicional com a segurança.
O ex-presidente Lula se uniu ao cortejo na altura do Largo da Soledade e caminhou por cerca de um quilômetro, contrariando a expectativa inicial de que não participaria do ato cívico.
O petista estava sob forte esquema de segurança e não foi hostilizado no percurso. Cercado de apoiadores, ouviu gritos de “Lula guerreiro do povo brasileiro” e “Olê, olê, olá, Lula, Lula”.
Durante a caminhada, o petista falou sobre a receptividade e o clima civilizado no cortejo em Salvador.
“A gente está fazendo uma caminhada com milhares de pessoas e não houve um incidente sequer. Ou seja, em uma demonstração de que o povo não só é democrático como gosta de demonstrações democráticas”, afirmou.
Também destacou a importância do 2 de Julho: “Aqui, a Independência foi feita com sangue e com morte de negro, de indígena, de padre, de freira, e do povo trabalhador que lutou para expulsar os portugueses. Então, é isso que você vê: não é um desfile militar, é um desfile do povo. Isso significa Independência”.
Lula andou no cortejo ao lado da sua mulher, Rosângela Souza, do governador da Bahia, Rui Costa (PT), do pré-candidato a governador Jerônimo Rodrigues (PT). Mais atrás, sozinho, veio o pré-candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
A Folha apurou que Lula havia sido desaconselhado de participar do cortejo do 2 de Julho por questões de segurança. O petista, contudo, decidiu participar de um trecho para fazer um contraponto a Bolsonaro, que preferiu se unir a apoiadores em uma motociata.
Geraldo Alckmin comentou a receptividade do petista: “É impressionante o carinho que o povo tem com o Lula, uma confiança enorme. É difícil encontrar no Brasil um líder tão popular, com tanta identidade com o povo brasileiro”.
Mesmo com a segurança reforçada, inclusive por militantes, a servidora pública Cleide Pinho conseguiu furar a barreira para se aproximar do ex-presidente. “Abracei, tirei foto, beijei. Fiz tudo”.
Na subida da Ladeira da Soledade, Lula parou em frente à casa da servidora pública Celiana Borba, 48, para carregar a neta dela, Marina, de 7 meses, vestida de indígena.
O ex-ministro Ciro Gomes, por sua vez, caminhou ao lado da militância do PDT, incluindo a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, e o deputado federal Félix Júnior.
Ele não acompanhou o aliado local ACM Neto (União Brasil), pré-candidato a governador que terá o apoio do PDT, que desfilou sem nenhum presidenciável. O ex-prefeito de Salvador adotou um discurso de neutralidade em relação à eleição nacional.
Em entrevista na saída do cortejo, Ciro destacou as celebrações pela independência e chamou atenção para o cenário de crise econômica e social do país.
“Sangue de brasileiros e baianos foi derramado para construir a nação brasileira e sua Independência. E isso a gente tem que rememorar hoje porque o Brasil está sendo de novo vendido ao estrangeiro. Nosso país está destruído com uma crise econômica e social, a mais grave da história”, disse.
A senadora Simone Tebet (MDB) também participou do cortejo. Estava acompanhada do presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, e militantes de partidos aliados.
A cerca de 6 km do Largo da Lapinha, Bolsonaro chegou por volta de 9h30 ao Farol da Barra e discursou em cima de um trio elétrico ao lado do pré-candidato a governador da Bahia, João Roma (PL), e da pré-candidata ao Senado, Raíssa Soares (PL).
No discurso, o presidente criticou os governadores dos nove estados do Nordeste e prometeu que o Brasil terá um dos combustíveis mais baratos do mundo.
“Lamento que os nove governadores do Nordeste tenham entrado na Justiça contra a redução de impostos da gasolina. Isso é inadmissível. […] Vamos acreditar que a Justiça não dará ganho de causa a essas pessoas e teremos um dos combustíveis mais baratos do mundo”, disse.
O preço dos combustíveis caiu nos últimos dias, porque entrou em vigor lei que cria teto para o ICMS nesses itens. Governadores de 11 estados e do DF, contudo, acionaram o STF (Supremo Tribunal Federal) contra a medida.
Segundo pesquisa divulgada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), na sexta-feira (1), o preço médio da gasolina comum no Brasil caiu 3,6% nesta semana.
Em junho, ranking Global Petrol Prices mostrou que o Brasil tem a 83ª gasolina mais cara do mundo, dentre 170 países. O preço do litro estava 15% acima da média praticada nesses países
Após a motociata, Bolsonaro falou de novo aos apoiadores. “Pode ter certeza que o preço aqui também vai abaixar. Porque a lei é federal. Governador vai ter que cumprir.”
Em seus discursos na Bahia, o presidente ainda citou a data da Independência da Bahia e fez uma defesa da liberdade em uma referência às eleições.
“O que está em jogo neste ano é o bem-estar e a liberdade de cada um de nós. Tenho certeza que, se preciso, tudo faremos para que a nossa Constituição, nossa democracia, e nossa liberdade venham a ser preservadas.”
No ato bolsonarista, as pessoas usavam as cores verde e amarelo. Ambulantes vendiam bandeiras do Brasil e camisetas do presidente. Adesivos de Bolsonaro com João Roma também estavam sendo distribuídos.
Um apoiador do presidente levou para o Farol da Barra uma placa com o nome “rua Soldado Wesley”, em referência ao policial militar Wesley Soares, morto em março deste ano no Farol da Barra, mesma região dos atos realizados nesta terça-feira.
Na ocasião, o soldado passou quatro horas dando tiros para o alto, gritando palavras de ordem, e foi baleado após atirar com um fuzil contra policiais que negociavam sua rendição. Desde então, ele tem sido tratado como uma espécie de mártir por grupos bolsonaristas.
Na concentração da motociata, nos arredores do Farol da Barra, um homem estendeu uma toalha com a imagem do ex-presidente Lula da janela de um prédio. Foi xingado e vaiado por bolsonaristas.
O ponto de partida da motociata foi alterado na última semana para evitar possíveis conflitos entre bolsonaristas e petistas.
O ato estava previsto inicialmente sair das imediações da Arena Fonte Nova. Mas a concentração foi mudada para o Farol da Barra após uma coincidência de data e local com um evento de Lula, que aconteceu dentro do estádio.
Data cívica máxima da Bahia, o 2 de Julho celebra a expulsão das tropas portuguesas de Salvador em 1823, quase dez meses depois da Independência do Brasil.
Diferentemente da maioria dos estados, onde a Independência aconteceu sem luta armada, na Bahia ela foi precedida por batalhas entre tropas aliadas a Portugal e tropas formadas por brasileiros.
A data é celebrada todos os anos em um cortejo no qual participam bandas de fanfarra, de percussão e grupos folclóricos, com a celebração das figuras do caboclo e da cabocla, que representam o surgimento da nação e lembram a miscigenação brasileira.