UNIDOS POR PRINCÍPIOS?!
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UNIDOS POR PRINCÍPIOS?!

Crônicas da Madrugada

Autor: Danilo Sili Borges

Retorno a esta crônica após a ausência da semana passada. Confesso que por longos 28 meses guardei-me do encontro com o SARS-CoV-2, que intuía fosse inevitável. Passei pelos desconfortos da fase aguda e ainda vou superando o que chamam de pós-covid, algumas fragilidades orgânicas (e psicológicas) que, pelo que percebo, atingem com intensidade diferente a cada um dos convalescentes.
Nestes longos 20 dias, relaxei o acompanhamento que faço da realidade nacional e mundial pelos meios de comunicação que acesso. Dever de todo cidadão do mundo é formular hipóteses sobre os fatos visíveis do futuro que o alcançará (e a todos) segundo seus prognósticos.
Alguns são mais descansados (ou otimistas) dizem: “deixa pra lá, o futuro a Deus pertence”. Outros, além de perscrutarem o porvir, atitude meramente intelectual, atuam no sentido de moldá-lo ao seu jeito, são os que querem fazer a História. São muitos os jeitos pretendidos, os interesses, os objetivos, daí os conflitos. Estes inevitáveis moldam ao longo do tempo os caminhos da sociedade. Eventualmente formam-se grandes maiorias em torno de objetivos significativos, mormente em situações de grandes riscos sociais, como guerras, por exemplo, ou quando fortes interesses de grupos poderosos estão ameaçados.
Recebi, nesses dias, o terceiro volume da trilogia Escravidão, do jornalista-historiador Laurentino Gomes, que nos tem dado, aos leigos em História, a oportunidade de conhecer importantes fatos da história pátria por meio de obras magistralmente escritas com o rigor científico indispensável. Assim tem sido com os seus conhecidos 1808, 1822 e 1889 e agora com a citada coleção.
Segurei meu ímpeto de aprofundar-me na leitura, fiz o reconhecimento da obra: capas, índices, orelhas e viagem em voo de drone por toda a obra. E aproveitei o cheiro agradável do livro novo. Se você nunca fez isto, experimente!
Preferi, no entanto, retornar aos tomos anteriores e atualizar as avaliações que havia feito durante a leitura – a primeira em 2019, a segunda em 2021 – registradas às margens e aos pés das páginas.
São muitas as janelas pelas quais qualquer fato histórico pode ser estudado. A imbricação da realidade com a particularidade do que se pretende pôr em foco, sempre perde quando o especialista-historiador, para isolar o seu objeto de estudos, se vê obrigado a realizar os cortes para realçar as relações interfronteiras do seu estudo.
Há como contar de muitas maneiras a História de um país. São inúmeros os compêndios da história econômica do Brasil, ou de sua história política, todos segmentados por períodos tão pequenos quanto as lentes que desejemos usar. Até para os leigos como eu, que pretendem um retrato de corpo inteiro de nosso Brasil, a Companhia das Letras publicou, em 2015, Brasil: uma Biografia, das professoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling.
Não há fato que perpasse mais a História do Brasil que a Escravidão. A singular formação étnica do país é o fio condutor que permite deslindar o passado, projetando-o no hoje e no amanhã. A escravidão que persistiu ao longo da quase totalidade da nossa vida, como colônia e como nação independente, deixou marcas e deixa registros diários da sua existência. Afinal, não tão distantes estamos de 1888.
Dos meus registros e da minha memória sei que o Brasil forjou sua riqueza nas minas e nas lavouras pelo braço escravo, e que por isso, a elite de então se fez surda aos clamores humanitários, mesmo no século XIX, contra a Escravidão e contra o tráfico escravo pelo Atlântico Sul. Fomos dos últimos a abolir a escravidão e dos últimos a não fazermos o comércio de escravos. Tudo isso se passava sob o consenso das elites. Isto lhes era conveniente.
Com certeza que eleições livres, garantidas pelo poder constituído, posse dos eleitos pelo voto direto e universal são condições indispensáveis para a democracia. Já vivemos golpes e quarteladas, não as queremos mais. Andam certas as elites em se reunirem e, alto e bom som, afirmarem esses preceitos.
Combate à corrupção com punição dos culpados, independência de poderes, práticas políticas de interesse público, educação e saúde de qualidade…
Não! Não é preciso “ensinar padre a dizer missa”, a sociedade que se mobiliza, em nome da democracia, contra um eventual, hipotético e possível golpe, tem agora diante de si a responsabilidade de fiscalizar o país para que ele siga por caminhos menos tumultuados que aqueles que vem trilhando, por impeachments, lava jatos, prisões de políticos e respectivos indultos ou algo similar. Democracia, mais por convicção, que por interesse!
Os leigos em História esperam melhores lições!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Jul.2022
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O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA