Por:Luiz Henrique Borges
Cuiabá, capital de Mato Grosso, sediará no domingo, às 16 horas, a final da Supercopa do Brasil 2022. Se enfrentarão na Arena Pantanal, dois dos principais clubes do futebol brasileiro, rivais de longa data: Atlético Mineiro e Flamengo.
A Supercopa do Brasil é uma competição que foi jogada em 1990 e 1991. Depois de quase três décadas, ela foi retomada em 2020. A taça é disputada entre o Campeão Brasileiro e o Campeão da Copa do Brasil do ano anterior. Como o alvinegro de Minas Gerais venceu as duas competições, o Flamengo, vice-campeão brasileiro de 2021, garantiu seu lugarzinho na final e, com isto, tentará o tricampeonato. O rubro-negro é o único vencedor da competição depois que ela foi ressuscitada.
Os duelos entre os finalistas de domingo costumam ser memoráveis. Na minha adolescência, em 1980, assisti as finais do Brasileirão entre os dois esquadrões. As duas partidas foram inesquecíveis. Na Libertadores da América do ano seguinte, competição que ainda não havia sido inflacionada com tantos clubes, os únicos representantes do Brasil eram o Flamengo e o Atlético. A fase de grupos era composta por 4 equipes, sendo duas de um país e as outras duas de outro país. Os brasileiros enfrentaram os paraguaios Cerro Porteño e Olímpia. Apenas o líder do grupo avançava de fase.
Após os confrontos, o alvinegro mineiro e o rubro-negro carioca tinham 8 pontos ganhos e campanhas semelhantes, duas vitórias e quatro empates. Pelas regras da competição na época, a vaga para as semifinais, que eram em formato de triangular, teria que ser decidida em um jogo extra. A partida ocorreu em Goiânia, no dia 21 de agosto de 1981.
O Atlético, como ocorreu para a final da Supercopa, reclamou da escolha do local que sediaria o confronto definitivo. Mas, a principal crítica foi a designação do árbitro carioca, José Roberto Wright, para apitar o confronto. Claramente nervoso, o juiz distribuiu seis cartões amarelos, sendo cinco deles para jogadores atleticanos, nos primeiros trinta minutos de jogo. Não vou narrar de forma pormenorizada as confusões que se seguiram após a expulsão de Reinaldo, principal jogador do Atlético, o que nos interessa é o resultado. O juiz, antes do final do primeiro tempo, expulsou seis jogadores atleticanos, além de quase todo o banco de reservas, impossibilitando a continuidade do confronto.
Em campo, o placar foi de 0X0. Em julgamento realizado pela Conmebol, o Flamengo foi declarado vencedor por W.O. e continuou sua caminhada rumo ao seu primeiro título da Libertadores e, posteriormente, o Mundial contra o Liverpool.
A história relatada acima aumentou minha expectativa em relação ao confronto do próximo domingo. Além de avivar minha memória, eu esperava que ele tivesse ocorrido em pelo menos uma das competições eliminatórias de 2021. Na Libertadores, o Palmeiras desclassificou o Atlético e na Copa do Brasil o Athletico Paranaense eliminou os cariocas. Ficou para um campeonato secundário.
Mesmo que a competição não tenha o mesmo brilho ou importância da Libertadores ou da Copa do Brasil, de estarmos no início da temporada e dos dois clubes terem novos treinadores, ou seja, ainda estamos na fase dos experimentos, acredito que assistiremos uma partida de bom nível técnico. São dois elencos qualificados, que gostam de propor o jogo e de pressionar o adversário.
Também será interessante para realizarmos uma ridícula comparação. A diferença entre os principais clubes do Brasil e os da Europa. Entendo que a final do Mundial de Clubes não é capaz de ser o termômetro adequado. Retornarei nesse ponto.
Na terça-feira, dia 15, só assisti os melhores momentos de PSG X Real Madrid. Mas, na quarta-feira, comecei a gozar os meus dez dias de férias. No final da tarde assisti ao confronto entre Internazionale de Milão e Liverpool.
O futebol apresentado pelas duas equipes foi uma clara demonstração de que o jogo atualmente é o confronto entre quem é capaz de pressionar de forma mais efetiva o seu adversário e de quem consegue suportar e superar melhor a pressão que lhe é imposta. O jogo foi elétrico, alucinante, intenso, físico e técnico. O nível de concentração dos atletas ao longo dos 90 minutos foi impressionante. Os dois times marcavam alto o oponente, buscando dificultar ao máximo a saída de bola. A velocidade do jogo era impressionante. Se o jogador demorasse meio segundo a mais em sua tomada de decisão, dois ou três marcadores encostavam e a bola era roubada.
O primeiro tempo foi muito equilibrado. Na etapa final, a equipe italiana voltou melhor. Neste momento foi possível perceber a importância de um grande técnico. Jürgen Kloop, percebendo que o Liverpool perdeu a sua força e era dominado pela Inter, trocou três jogadores de uma só vez aos 14 minutos. Os ingleses voltaram a equilibrar o duelo. Cabe aqui um adendo: o nível do plantel do Liverpool. Na tripla troca de jogadores, saíram Fabinho, Elliot e Mané e entraram “somente” Henderson, Keita e Luis Diaz. É de dar inveja.
O treinador do clube de Milão, Simone Inzagui, talvez por não ter um elenco tão forte, demorou para realizar as suas mudanças. Contando com jogadores descansados, o Liverpool equilibrou o jogo. Sempre letal, os ingleses se aproveitaram das duas falhas defensivas de seu adversário e venceram o confronto. Merecido? Se o futebol fosse o espaço da justiça, o placar correto seria o empate. No entanto, em partidas de altíssimo nível técnico, a efetividade é uma virtude e os ingleses foram virtuosos. Sim, foi merecido!
Falei uns parágrafos acima que a final do Mundial Interclubes não mensura adequadamente a distância entre os clubes brasileiros e os europeus. No sábado assisti Palmeiras X Chelsea. Comparando ao jogo de quarta-feira, Inter e Liverpool, elaborei duas teorias. Ou os times europeus jogam realmente com o freio de mão puxado no Mundial, certos de que vencerão no momento em que resolverem apertar um pouco o acelerador, ou os times brasileiros conseguem dificultar o confronto atuando da mesma forma que as equipes pequenas jogam quando enfrentam os grandes. Montam um ferrolho atrás, freiam a velocidade do adversário, marcam alucinadamente e tentam encaixar o contra-ataque rápido e salvador. Pensando melhor, acho que é a mistura das duas coisas.
Pensando em competitividade, o Mundial é o torneio mais inútil que existe atualmente. Não há como competir com equipes que são verdadeiras seleções internacionais. Vamos fazer uma simples comparação, apesar de serem jogos distintos, entre as substituições feitas por Kloop e por Abel Ferreira. Este é o termômetro que mensura a diferença entre os clubes europeus e brasileiros: Firmino, Henderson, Keita, Luis Diaz e Milner entraram no time inglês. Atuesta, Jailson, Wesley, Rafael Navarro e Deyverson entraram no Palmeiras. É de chorar…