Luiz Henrique Borges
Começaram as semifinais da Copa do Brasil. No Majestoso, nome dado ao clássico entre Corinthians e São Paulo pelo icônico jornalista e comentarista esportivo paulista, Tomasso Mazzoni, no longínquo ano de 1942, o clube do Parque São Jorge saiu na frente ao derrotar o tricolor por 2X1. Fazendo jus ao apelido, a partida da última terça-feira registrou o maior público pagante na história da Neo Química Arena, em jogos com mando do Corinthians, atingindo o total de 46.517 torcedores.
Vale aqui fazer uma homenagem ao idealizador do apelido Majestoso, o jornalista e autor que tive a oportunidade e o prazer de ler durante os meus estudos sobre o futebol brasileiro. Os mais jovens certamente não ouviram falar de Thomasso ou Thomaz Mazzoni. Nascido no sul da Itália, na belíssima Poliganano a Mare, ainda bebê veio com a família para São Paulo. Passou por diversos jornais da capital paulista, até que em 1928 foi contratado por Cásper Líbero para escrever no seu “A Gazeta”. Mazzoni modernizou a escrita esportiva e foi fundamental para o nascimento de “A Gazeta Esportiva”. Seu conhecimento sobre os esportes era tanto que lhe rendeu o apelido de “Olimpicus”. É dele um dos livros mais importantes da historiografia do futebol brasileiro: “História do futebol no Brasil: 1895-1950” e, talvez o primeiro romance do Brasil envolvendo o futebol, “Flô, o goleiro melhor do mundo”.
O clássico paulista foi marcado pelo equilíbrio, mas coube à qualidade técnica de um atleta extremamente gabaritado, Renato Augusto, decidir o confronto. Ele enverga a camisa 8, um número incompreendido no futebol. O jogador que carrega em suas costas o cabalístico número, aquele que representa na tradição da Cabala Judaica a conclusão da criação e o começo de um novo ciclo, está sempre reforçando o ataque, sem ser atacante e, ao mesmo tempo, protegendo a defesa, sem ser um defensor. Nem na genialidade indiscutível, o protagonismo foi dado ao número 8. Em 1958 e em 1962, Didi, um monstro, foi ofuscado por Pelé e Garrincha, respectivamente. Em 1970 foi a vez de Gerson e em 1982 a de Sócrates, coadjuvantes de Pelé e Zico. A ironia é tanta, que no momento em que um camisa 8 levantou a Copa do Mundo, Dunga em 1994, foi Romário, com a sua camisa 11, o principal nome da conquista.
Renato Augusto conseguiu, contra o São Paulo, romper a “maldição” do camisa 8 e se tornou o protagonista da vitória corintiana. Depois de um primeiro tempo morno, o meio campista corintiano chamou a responsabilidade para si e, logo aos três minutos, abriu o placar. O tricolor não se abateu e, minutos depois, Luciano empatou o jogo. Mais perigoso, o São Paulo criou novas oportunidades para virar o resultado. Mas, no final, Renato Augusto, que lê com precisão os espaços deixados pelo adversário, percebeu que Caio Paulista estava mal colocado e se posicionou atrás do defensor do tricolor para receber o lançamento de Murilo, matar a bola e fuzilar a meta defendida por Rafael.
O novo encontro entre tricolores e alvinegros, que definirá o finalista da Copa do Brasil, ocorrerá no dia 16 de agosto, no Morumbi. Contando com o apoio de seus torcedores e, muito provavelmente, do reforço colombiano, James Rodríguez, o São Paulo terá que vencer o seu oponente com dois gols de diferença para se classificar para a decisão da Copa do Brasil. Qualquer triunfo tricolor por um gol de diferença levará o duelo para a marca da cal. Para o Corinthians basta um empate para jogar sua segunda final consecutiva da Copa do Brasil e, provavelmente, contra o mesmo adversário do ano passado, o Flamengo. O Corinthians possui alguma vantagem na corrida, mas a disputa permanece aberta.
O rubro-negro carioca passou com autoridade sobre o Grêmio. Mesmo atuando em Porto Alegre, o clube comandado por Sampaoli dominou o seu adversário e praticamente se colocou na decisão da Copa do Brasil. Apoiado por mais de 50 mil torcedores, o Grêmio iniciou o jogo muito motivado, pressionou a saída de bola do clube carioca e criou suas melhores chances de gol. Mas, após os 20 minutos iniciais, o tricolor gaúcho passou a ser dominado pelo seu antagonista e o que se viu, daí em diante, foi uma avalanche rubro-negra cair em cima do Grêmio.
Os torcedores flamenguistas devem ter ficado apreensivos quando souberam, um pouco antes do início do jogo, que o titular da lateral esquerda, Ayrton Lucas, com problemas no joelho, não atuaria. Se eles desconfiassem, mesmo que ligeiramente, que o seu substituto, Filipe Luís, seria o maestro do time, a apreensão teria dado lugar à euforia. Coube ao experiente lateral tranquilizar o time e se tornar o desafogo para os zagueiros e para o goleiro do Flamengo durante os momentos de pressão da equipe gremista.
A dupla de sucesso, Bruno Henrique e Gabigol, voltou a funcionar. Wesley, o jovem lateral direito, aos 34 minutos, tomou a bola no meio de campo, driblou seu marcador e tocou, de forma açucarada para Bruno Henrique. O atacante poderia ter batido para o gol, mas, de forma generosa, ele preferiu servir Gabigol que corria livre no meio da área. O artilheiro não desperdiçou a oportunidade e colocou a bola no fundo das redes. A situação gremista poderia ter ficado ainda pior se Gabriel Grando não tivesse defendido, ainda no primeiro tempo, a penalidade máxima cobrada por Gabigol.
Muito mais na transpiração do que na inspiração, o Grêmio tentou reagir no início da etapa final. No entanto, a tentativa esfriou por completo com a expulsão de Kannemann, logo aos 14 minutos. Não foram só os jogadores que sentiram a falta do experiente zagueiro, mas os torcedores, órfãos de seu “xerife”, baixaram a guarda quando viram o capitão da equipe deixar o gramado após tomar o segundo cartão amarelo. O atleta já é um desfalque certo do Grêmio para o jogo de volta no Maracanã, no dia 16 de agosto.
Com o resultado favorável e um homem a mais em campo, o Flamengo não demorou para aumentar a sua vantagem no placar. Aos 23 minutos, após bela triangulação pela ponta esquerda, Thiago Maia recebeu de Arrascaeta e bateu cruzado, a bola desviou levemente na defesa gaúcha, saiu do alcance de Gabriel Grando e entrou.
Na base do desespero, alçando bolas na área, o Grêmio partiu para o ataque com o intuito de diminuir o placar. Bem posicionada, a zaga do Flamengo repeliu todas as investidas. Após o jogo, Renato Gaúcho, frustrado, reconheceu a duríssima missão que terá para reverter a vantagem do Flamengo no Maracanã e deixou claro que os objetivos da equipe passaram a ser a classificação para a Libertadores e, apesar da boa vantagem botafoguense, brigar pelo título do Brasileirão. Não tenho dúvida que o Grêmio terá que fazer um jogo espetacular para se equiparar ao Flamengo, com seu elenco forte e que contará com o apoio de seus torcedores, mas a magia do futebol se encontra em sua imprevisibilidade.