A morte do empresário Henrique Silva Chagas em São Paulo, no mês passado, trouxe à tona um assunto que já vem sendo alertado por profissionais da saúde: os riscos da realização de procedimentos invasivos por profissionais que não são médicos. No caso de Henrique, foi feito um peeling de fenol, pela esteticista Natália Fabiana de Freitas Antonio, dona de uma clínica de estética em São Paulo. Ela não é dermatologista, nem médica, havia apenas feito um curso online para aplicar o composto químico.
Cursos como o feito por Natália são facilmente encontrados na internet. Basta uma busca rápida para encontrar diversas opções, com a carga horária, modalidade (híbrida ou 100% online), material e preços que variam de acordo com cada profissional ou empresa. Alguns chegam a especificar na descrição a necessidade de ser profissional da saúde, entretanto, nenhuma comprovação na área de compras é exigida. O preço dos cursos, vendidos em sua maioria por enfermeiros, dentistas e biomédicos, variam entre R$ 90 e mais de R$5 mil. Alguns deles têm apenas 10h de duração, até mesmo para aplicação de substância por via intradérmica. Chamam atenção também as supostas promessas de lucratividade, como é o caso do curso intitulado “Enfermeiros na Estética”, em que a profissional alega ter faturado “R$ 10 mil ao mês e em menos de 1 ano ter triplicado o faturamento da clínica”.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia define essa busca incessante por procedimentos estéticos via profissionais não médicos como cenário que pode se tornar uma epidemia. Ele alerta que não basta saber realizar o procedimento, é preciso também estar preparado caso dê errado. “Essa coisa de você ir procurar nas redes sociais, você vai ser enganado, igual esse rapaz que perdeu a vida e foi enganado, porque ela [esteticista] não era nem uma pessoa com conhecimento básico de saúde, fez um curso pela internet, um curso de algumas horas, e submeteu uma pessoa a produtos de alta periculosidade”, pontuou em entrevista à Rádio Metropole.
O Brasil realizou a maior quantidade de procedimentos estéticos no mundo em 2022, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo pesquisa global da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). Ao buscar pela palavra “estética”, em uma plataforma de cursos online, com filtros aplicados à Moda e Beleza e Saúde e Esporte, mais de quatro mil opções aparecem disponíveis.
Aplicação de botox, Harmonização facial, ácidos, eletroterapia estética são algumas das possibilidades. A determinação de quem pode atuar na área varia conforme determinações dos conselhos federais de cada profissão, mas há conflitos entres os profissionais da área de saúde justamente pela ausência de regras claras. Na Bahia, o Cremeb recebeu já 46 demandas sobre exercício ilegal da medicina, esse número, no entanto, não diz respeito apenas aos procedimentos estéticos.
Fonte: M1 | Foto: Reprodução/Freepik