Autor: Luiz Henrique Borges
O futebol brasileiro tá ficando muito chato e repetitivo. Entra e sai semana e o Flamengo, com o agora denominado “Time das Copas”, é assunto para a nossa crônica semanal. Tenho saudade dos tempos em que dezenas de grandes times disputavam os títulos e o predomínio de alguns em detrimento de muitos era algo muito raro por estas bandas.
O meu saudosismo não significa, de forma alguma, defender o retorno das mazelas e da falta de profissionalismo que afetaram como os clubes brasileiros se viram dirigidos por décadas. O problema é que, nos novos tempos, quanto maior é a demora para reformar os clubes, ajustar as contas e afastar os dirigentes que ainda possuem a mentalidade patrimonialista e politiqueira, mais difícil, penoso e, talvez, em um futuro muito breve, impossível, será a recuperação.
A globalização, que afetou e modificou as mais diversas áreas da vida humana, também atingiu em cheio o futebol. O seu detonador ocorreu no início dos anos 90, acelerando o processo de mercantilização do esporte que significou, dentre outras consequências, o fim da era das administrações amadoras e patrimonialistas. A grande dificuldade foi os nossos históricos dirigentes perceberem que a barca estava afundando e que o maná não era infindável.
O patrimonialismo, tão comum no espaço político nacional, não poderia deixar de estar presente no futebol, afinal os grupos que conduzem os rumos do país também se confundem com aqueles que dirigem o principal e mais popular esporte do Brasil e do planeta. O patrimonialismo se caracteriza por entender o bem “público”, seja ele do povo ou do torcedor, como algo que pode ser apropriado de forma privada e utilizado em proveito próprio. Se tal forma de conduzir o futebol era possível e até viável há alguns anos, hoje é o caminho certo para o fracasso.
Atualmente, a reversão aos danos causados pela má gestão, em um mundo cada vez mais conectado e competitivo e, no futebol, um esporte que apresenta cifras monetárias gigantescas, se tornou um desafio muito maior e difícil de ser superado. A dificuldade dos chamados grandes clubes é ainda superior, afinal os torcedores, muitas vezes já machucados com os rebaixamentos, com as derrotas, com a ausência de grandes conquistas, não querem passar pelo complicado, porém necessário, processo de reestruturação.
O Flamengo é figurinha carimbada nas crônicas, até de forma cansativa, porque ele fez o seu dever de casa. Se eu torcesse para o rubro-negro eu iria erigir uma estátua para o Eduardo Bandeira de Mello. Seus anos na presidência foram duros, sem títulos de grande vulto, no entanto, o competente administrador conseguiu equacionar as dívidas do Flamengo e transformar um clube deficitário em superavitário.
O seu trabalho foi “facilitado” na medida em que ele contou com uma torcida imensa e que sempre esteve ao lado do clube. O seu número capacita o rubro-negro carioca a obter os patrocínios mais vultosos, cotas de televisionamento mais interessantes e até na Loteria Esportiva o Flamengo, historicamente, contou com valores mais polpudos. Mesmo que não seja, hoje, a principal fonte de recursos, os torcedores lotam os estádios e além do dinheiro da “bilheteria”, sempre bem-vindo, eles empurram o clube em direção das milionárias conquistas o que retroalimenta todo o processo.
O único aspecto que eu considero curioso, é o Flamengo não ser o clube nacional com o maior número de sócios-torcedores. No último levantamento que li, realizado em julho deste ano, o Corinthians havia superado o Atlético Mineiro na primeira colocação. Internacional, Palmeiras e Flamengo, na ordem, completam o top 5 do momento no futebol brasileiro.
Também percebo a busca do rubro-negro pela internacionalização de sua marca. Apesar de ser um celeiro de excelentes atletas, o Flamengo vende, por bons valores é preciso ressaltar, diversas promessas e adquire jogadores, muitos deles mais velhos, no entanto, com renome internacional aumentando, desta forma, a sua visibilidade fora do país e se transformando também em um atrativo para atletas estrangeiros e para os brasileiros que querem retornar ao Brasil.
Será mera coincidência que os clubes mais estruturados e bem administrados ocupem a parte de cima da tabela do Brasileirão e decidam as Copas? O tempo das grandes zebras e surpresas ficaram para trás. Não importa o formato da disputa, só os mais bem preparados, organizados e competentes irão triunfar.
Vamos aos resultados da semana. Comprovando como é efêmero o sucesso e o fracasso, a alegria e a tristeza no futebol, o Palmeiras que havia sido eliminado na Libertadores da América pelo Athletico Paranaense, deixando sua torcida infeliz na quarta-feira, dia 07/09, foi acalentada no domingo seguinte com a ampliação de sua já confortável vantagem, após vencer o Juventude, na briga pelo título do Brasileirão. É o título nacional que falta para a galeria de Abel Ferreira.
Após vencer o São Paulo no Morumbi, o Flamengo fez um jogo seguro contra o tricolor e obteve um novo triunfo, agora por 1X0. A passagem para a final da Copa do Brasil já garantiu aos cofres do rubro-negro a bagatela de 25 milhões de reais. O tricolor paulista, de volta a sua realidade, terá a oportunidade de conquistar a segunda divisão continental, a Copa Sul-Americana, contra o sempre perigoso Independiente del Valle. Além disso, ele terá ainda como missão, concentrar as suas forças para se afastar definitivamente das posições mais baixas do Brasileirão.
O Corinthians demonstrou mais uma vez que a Neo Química Arena é a sua fortaleza. Nós últimos três jogos pela Copa do Brasil, o alvinegro paulista marcou 11 gols. Contra o Santos, no primeiro jogo, praticamente garantiu sua classificação ao vencer por 4X0. Na rodada seguinte, reverteu a derrota para o Atlético Goianiense ganhando por 4X1 e, finalmente, após empatar no Maracanã contra o Fluminense, realizou ótima partida no jogo de volta e classificou-se para a final vencendo pelo confortável placar de 3X0.
A ordem dos jogos que decidirão a Copa do Brasil nos dias 12 e 19 de outubro ainda não foi definida. O Corinthians, que demonstrou muita força no seu estádio, enfrentará o rubro-negro carioca que também assusta quando joga fora de casa, lembrem-se, meus amigos leitores, de seus triunfos contra o Athletico do Paraná, Vélez e São Paulo. Eu espero dois grandes espetáculos e, certamente, mais uma crônica na qual o Flamengo aparecerá como personagem. Se será o principal ou o coadjuvante, saberemos no dia 19.