Autor: Luiz Henrique Borges
Inicio a crônica amarrando-a ao tema da semana passada que abordou a Seleção Brasileira Feminina. Eu assisti diversos jogos da Copa América de futebol feminino disputada na Colômbia e percebi que a Seleção Brasileira está mais sólida defensivamente, a equipe não tomou um único gol durante a competição, mas ela perdeu parte do seu encanto ofensivo. Sinceramente, vejo também um certo desconforto das atletas com o esquema tático desejado pela treinadora sueca. Além do desconforto, não vi variações táticas ao longo dos jogos. Finalmente, mas não menos importante, estamos falando de um grupo em processo de renovação e, talvez, isto explique algumas dificuldades enunciadas na crônica, além do claro nervosismo das brasileiras no jogo final contra as donas da casa, as colombianas.
O oitavo título continental, em nove disputados, veio depois de uma magríssima vitória por 1X0, de pênalti, contra a matreira Colômbia. Mais do que o placar, me preocuparam dois aspectos que se encontram entrelaçados: o número excessivo de erros de passes e as pouquíssimas situações de perigo criadas. O resultado foi um jogo sofrível e ruim tecnicamente. A falta de experiência na competição, a torcida contrária e a disposição das adversárias certamente contribuíram para o fraco futebol apresentado pelo Brasil na decisão. Mantivemos a hegemonia continental, no entanto com muito mais sofrimento. Há muito trabalho a ser feito, mas devemos parabenizar as atletas por mais uma conquista.
Na Libertadores da América, quase uma filial do futebol brasileiro, ocorreram as partidas de ida das quartas de final. Os confrontos começaram nos presenteando com um jogo espetacular na terça-feira. Eu esperava que o Corinthians, equipe pragmática, competitiva e muito forte quando joga em Itaquera, conseguisse fazer frente ao revivido Flamengo. O clube paulista até equilibrou as ações durante os primeiros quinze ou vinte minutos. Depois disso, a Neo Química Arena tornou-se um salão para o desfile carnavalesco Vermelho e Preto.
Com uma atuação tática consistente e contando com o brilho individual de seus jogadores, o clube carioca ignorou o Corinthians, venceu por 2X0 e deu um passo gigante para se classificar para as semifinais da competição continental. No Maracanã, veremos mais um episódio do filme “Missão Impossível”. Para transformar o muito improvável em realidade, os paulistas terão que encarnar o herói da série, com os seus planos quase sobrenaturais e os seus malabarismos fantásticos, para enfrentar o exército de torcedores rubro-negros capitaneados por um time que se mostra maduro, organizado e muito forte tecnicamente.
Como a troca do treinador português, Paulo Sousa, por Dorival Júnior, fez bem ao Flamengo! Por sinal, após a avassaladora onda de valorização dos treinadores estrangeiros, o fluxo da água volta, aos poucos, ao seu lugar. Jorge Jesus foi um ponto completamente fora da curva, mas criou a ilusão de que bastava ter um passaporte europeu para fazer sucesso no “modesto” e “pouco qualificado” mercado de treinadores brasileiros. Não é bem assim!
Paulo Sousa, acredito, é um estudioso e entende de futebol, no entanto, em suas mãos o motor não funcionou, as peças não encaixaram e, certamente, para complicar ainda mais a sua vida, ele perdeu o grupo. No futebol é preciso conhecer os caminhos táticos para ganhar a confiança dos jogadores e para surpreender o adversário, mas é fundamental, condição sine qua non, ser um eficiente gestor de grupo. O português falhou nos dois lados, errou nas escolhas táticas e técnicas e não geriu de forma adequada o grupo.
Na quarta-feira, o Atlético Mineiro deixou escapar ótima oportunidade de construir uma boa vantagem contra o atual bicampeão da América. Jogando em casa, o alvinegro abriu 2X0 e deu a pinta de que findaria com a longa série invicta do Palmeiras na competição. No entanto, o alviverde mostrou muita resiliência e concentração para, mesmo jogando mal, buscar o improvável empate e salvar o time de uma noite que poderia ter sido desastrosa.
O Galo, retornando ao estilo que o caracterizou em 2021, marcou de forma agressiva o seu oponente colocando-o em apuros. O Palmeiras sentiu muito a falta de Rony, jogador muito rápido e que encaixa perfeitamente em jogos baseados na transição. Ele é a válvula de escape para os contragolpes do Palmeiras. Dudu, mais cerebral e habilidoso, não tem a mesma velocidade de Rony e, além disso, jogou mais taticamente auxiliando a marcação. Ainda assim, foi decisivo!
Ao se aproximar do intervalo, o placar inalterado parecia ser uma benção para o Palmeiras. No entanto, um pênalti infantil de Marcos Rocha sobre Jair, praticamente no derradeiro minuto do primeiro tempo, permitiu que Hulk colocasse o Galo em vantagem.
A etapa final começou promissora para o time comandado por Cuca. Ligado, o Atlético ampliou o placar aos 2 minutos. Keno tabelou com Jair pelo lado direito da defesa palmeirense, invadiu a área e cruzou forte. A bola bateu no zagueiro Murilo, que corria em direção ao seu gol, e acabou no fundo das redes.
O futebol é capaz de transformar em pouquíssimos minutos o algoz em herói. Vejamos a história. Quando as coisas não estão dando muito certo, a bola parada pode alterar completamente o cenário e o ânimo de uma partida. Aos 13 minutos, Scarpa cobrou de forma quase perfeita uma falta. Quase perfeita porque a bola bateu na junção da trave e travessão. No rebote, Murilo, o então algoz, quase no susto, empurrou para dentro do gol.
Apesar do Palmeiras não ter melhorado significativamente após reduzir o placar, o seu adversário sentiu a pancada. A pressão arrefeceu e o Atlético acabou cedendo mais espaços ao seu adversário que passou a ficar mais tempo com a bola. Aos 37 minutos, Dudu teve uma boa oportunidade de empatar o jogo, mas chutou para fora.
Já aos 46 minutos, quando a derrota por 2X1 não poderia ser entendida como um resultado muito ruim para o Palmeiras, a equipe paulista conseguiu um escanteio. A bola parada, mais uma vez, foi o diferencial. Scarpa bateu o escanteio, o baixinho Dudu, na segunda trave apareceu como um foguete, jogou-se na direção da bola e tocou de cabeça para Danilo marcar dentro da pequena área.
Quando Abel Ferreira chegou ao Brasil para comandar o Palmeiras, no longínquo 2 de novembro de 2020, ele assistiu, naquele dia, a última vitória do Palmeiras sobre o Atlético Mineiro. O alviverde, ainda comandado pelo interino Andrey Lopes, derrotou com facilidade os mineiros por 3X0. Daí em diante, já sob o comando do treinador português, o seu time nunca venceu o Atlético Mineiro. Foram sete jogos, duas vitórias do Atlético e os últimos cinco confrontos terminaram empatados. O duelo continua em aberto, mas o empate da resiliência na quarta-feira significou que Abel Ferreira poderá, caso o seu time empate no tempo normal e vença nas penalidades o confronto em São Paulo, manter o seu jejum de vitórias contra o Galo mas, feliz da vida, classificado para as semifinais da Libertadores.