Autor: Danilo Sili Borges
Eleito senador pelo Paraná, poderá a participação de Sergio Moro, como apoiador explícito de Bolsonaro nesta parte final da campanha do 2º Turno, turbinar a votação do presidente ao ponto de conduzi-lo à vitória?
O ex-juiz sofreu por todos os lados, a começar por ações do “gabinete do ódio”, sediado no próprio sistema a que servia, quando saiu do governo, batendo forte no presidente que obviamente o fritava, por razões diversas, que aqui não cabe especular. Moro sofreu e tem padecido de intensas e ininterruptas violências por parte de todos os envolvidos de algum modo nas sabidas maracutaias, desde os apanhados nos crimes, dos delatores (hoje arrependidos) por estarem convictos que se tivessem feito jogo duro estariam em melhor situação, até de políticos, menos arrojados, que se viram inibidos, receosos de insistirem em participar das benesses dos caixas 2 das “empresas amigas”, usadas para custear campanhas, para enriquecimentos ilícitos e mesmo para o sustento de amantes exigentes.
Advogados criminalistas sentiram-se prejudicados em suas relações com clientes e passaram, assim que foi possível, a colar pechas de descrédito no juiz. Aqui uma questão comercial. Moro acumulou inimigos e desafetos poderosos, até entre ministros do Supremo, que não perderam oportunidade de participarem ativamente do linchamento que sobre ele se tem promovido. O encerramento da operação Lava Jato, de interesse tanto do governo, quanto do mundo político e da fração comprometida do empresariado foi parte do mesmo artifício de destruir lembranças.
Por encomenda, a PGR tomou as medidas administrativas para eliminar com os vestígios da operação que sediada em Curitiba tornou-se orgulho para o brasileiro e exemplo para o mundo. Mas, como diziam os velhos fatalistas de outrora, “O mundo dá muitas voltas”. E deu! E está agora dando cambalhotas.
Adotando a máxima de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, Moro incorpora-se a campanha de Jair Bolsonaro (mesmo pontuando divergências existentes entre eles, o que até fortalece seu discurso) e pode fazer a diferença neste final que antecede o 30 de outubro.
Apesar da guerra que lhe foi movida, a imagem de Juiz austero e corajoso que colocou atrás das grades figurões da política e dos negócios, coisa “antes nunca vista nesse país”, ainda está na memória do povo que há menos de quatro anos o saudava nas ruas como herói nacional. A desconstrução de imagens públicas, como foi o caso, é notável em nosso país, principalmente quando não há quem defenda o cristo e prefira soltar barrabás ou qualquer outro ladrão.
Com certeza, o Juiz cometeu erro estratégico ao abrir mão da sua carreira vitoriosa na magistratura ao aceitar participar como ministro do governo Bolsonaro que se iniciava e ao qual emprestou credibilidade e eficiência. Vaidade e busca de vaga no STF? Pode ser!
Sua popularidade não foi bem aceita, nem entre os parceiros de governo, que a viam como ameaça presente e futura. O deixaram desguarnecido no episódio das gravações dos celulares.
A sete dias do segundo turno das eleições, a participação de Moro na campanha de Bolsonaro: chamando à baila os casos apurados de corrupção, envolvendo as figuras de Lula e de outros próceres do seu partido, que os levaram a condenações, que nunca foram revertidas, poderão potencializar e levar o presidente à reeleição? Esta é a pergunta que vale milhões ou a uma reeleição.
Não se pense que por estar Moro no seu primeiro mandato como senador, que ele entrará tímido e inseguro na concha emborcada da Praça. O tema corrupção que tem sido posto embaixo do tapete, voltará à pauta. O simbolismo das presenças de Sergio Moro e de Deltan Dallagnol, como deputado Federal, dará foco ao tema, e arrastará outros bons parlamentares em sua esteira. É de se prever comportamento mais inibido e cauteloso dos contumazes ladrões do dinheiro público.
Uma outra vertente em que o senador Moro poderá ter protagonismo será na necessária recuperação dos poderes do legislativo que vêm sendo sistematicamente usurpados pelo judiciário. O mundo político se unirá num primeiro momento para recuperar o protagonismo que lhe foi tomado pelo ativismo do judiciário, principalmente nos últimos tempos, pondo em risco o indispensável equilíbrio institucional.
Em poucos dias saberemos quem será o eleito. Ambas as campanhas tiveram que caminhar para o perfil de centro, isolando as franjas radicais dos seus apoiadores extremados. A população brasileira é francamente adepta da democracia, da liberdade de expressão, da imprensa livre, sem regulações e sem censura.
Novos líderes se consolidam no horizonte político nacional, alguns já passados pela têmpera da fornalha da injúria e do vilipêndio, como Moro e Dallagnol. Outros como Zema e Tarcísio, vão se impondo pela austeridade, franqueza e competência.
Agora já consigo ver uma tênue luz no fim de um novo túnel de quatro anos, que teremos que atravessar, qualquer que seja o eleito em 30 de outubro.
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges – Out.2022
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