Autor:Luiz Henrique Borges
Desde que me entendo por gente, eu gosto de futebol. Na minha tenra infância, em Brasília, eu desejava muito ir a um estádio para assistir um jogo, ali, próximo do gramado e junto de outros torcedores. Meu pai, em outubro de 1975, atendeu a minha vontade e me levou no recém-inaugurado Estádio Governador Hélio Prates, atualmente conhecido como Mané Garrincha, para assistir o Ceub contra o Santos. Foi na última rodada da fase de grupos do Campeonato Brasileiro de 1975. As regras da competição eram completamente distintas das atuais e não vale a pena gastar tinta explicando-as. Para os mais curiosos, uma rápida consulta na internet permitirá entendê-la melhor. O importante de ser relatado, em relação à minha experiência inaugural, foi a euforia que senti ao lado da torcida do Ceub, quando, depois de sair perdendo por 2X0, a equipe de Brasília empatou o jogo.
Mesmo não me tornando um habitué, comecei a ir com alguma frequência aos estádios de futebol. Assisti diversas partidas não só no Mané Garrincha mas também no, hoje demolido, Estádio Edson Arantes do Nascimento, que ficou popularmente conhecido como Pelezão. Meu primeiro encontro presencial com o Botafogo, por exemplo, foi no extinto estádio. Pode parecer loucura, mas quando morei em Formosa, eu preferia ir ao Diogão para assistir a equipe local que disputava o Campeonato Brasiliense do que ficar em casa e, pela TV, ver um jogo do Campeonato Carioca ou Paulista.
Outra consequência das minhas idas dominicais ao Diogão foi acompanhar ainda mais de perto o Candangão. O campeonato do DF, em diversas edições, apresentou uma interessante característica que o diferencia de outros estaduais, a participação de clubes de outros estados, como o Formosa ou o Luziânia (Goiás) e Unaí ou o Paracatu (Minas Gerais). Com os rebaixamentos de Unaí e Luziânia em 2022, o atual campeonato contou apenas com equipes do DF, fato que não ocorria desde 2001.
O Candangão chegou nas suas semifinais e diversos clubes tradicionais não disputarão o título de 2023. O maior campeão do DF, o Gama, com treze conquistas, clube que já foi campeão da Série B do Brasileirão (1998) e jogou por quatro temporadas na Série A (1999 – 2002), não se classificou para as fases decisivas. O Ceilândia, campeão em 2010 e 2012, também fracassou. Por fim, as duas equipes que dominaram o futebol local nas décadas de 1980-1990, lembrando das rupturas existentes em suas histórias, o Brasília e o Taguatinga, foram os dois últimos colocados e terminaram rebaixados.
Se clubes tradicionais e mais antigos fracassaram, outros, mais novos ou menos famosos, exceto pelo Brasiliense, definirão o campeonato. O Real Brasília, sediado na Vila Planalto, mais conhecido pelo exitoso projeto no futebol feminino, foi vice-campeão da segunda divisão brasiliense do ano passado e retornou à elite do futebol candango de forma triunfal. O Leão do Planalto, como a equipe é apelidada, terminou a primeira fase no topo da tabela de classificação e com a defesa menos vazada do campeonato.
A cidade em festa é o Paranoá. Seus “dois” representantes, o Paranoá e o Capital, se classificaram para as semifinais. O Capital, em 2021 se mudou do Guará para o Paranoá e vem se destacando nos últimos anos no cenário brasiliense. Na última edição do torneio, em 2022, o Corujão terminou em um honroso terceiro lugar. Sua missão para alcançar a grande final não será fácil, uma vez que terá que enfrentar um dos clubes mais tradicionais do DF, o Brasiliense que luta para conquistar o tricampeonato. Apesar da goleada sofrida para o Botafogo na Copa do Brasil, por 7X1, e da irregularidade demonstrada ao longo da primeira fase do Candangão, o Brasiliense ainda é o favorito no confronto contra o Capital.
O Paranoá (PEC), que terminou na quarta colocação na primeira fase e garantiu, dessa forma, a última vaga para a fase seguinte, é considerado a maior surpresa da competição. A Cobra Sucuri não chegava entre os quatro primeiros colocados do Candangão desde 2005. Há coisas que só acontecem no futebol de Brasília. O Capital é o time que joga no Estádio do Paranoá e a equipe que tem o nome da cidade optou por levar os seus jogos para o Defelê, Estádio do Real Brasília, na Vila Planalto. Como o Paranoá e o Real Brasília se enfrentarão em uma das semifinais, e o Defelê é a casa do Real Brasília, o jogo de sábado (25/03), marcará a volta do PEC ao seu estádio, o JK, como mandante. Com a melhor campanha e jogando por dois resultados iguais, entendo que o Real Brasília é o favorito no confronto.
No Rio de Janeiro, o Fla-Flu, pela quarta vez consecutiva, consagrará o campeão estadual. No último final de semana, o Fluminense simplesmente massacrou o Volta Redonda por 7X0 e o Flamengo derrotou o Vasco por 3X1. O clássico não foi tão fácil quanto o resultado sugere. Com a vantagem do empate, o rubro-negro saiu na frente com Pedro, eleito o “Rei da América”, mas o Vasco igualou o resultado no final do primeiro tempo com Compasso. Na etapa final, o Cruzmaltino chegou a ensaiar a virada, mas o Flamengo, cirúrgico, conseguiu matar o confronto.
Ao contrário dos últimos anos, a imprensa aponta um leve favoritismo para o Tricolor das Laranjeiras, no entanto, se eu fosse chamado para quantificar a chance de cada uma das equipes em um “palpitomêtro”, apontaria 50% para cada lado. Não estou em cima do muro, entendo que o rubro-negro possui um elenco mais robusto e investimentos bem mais altos, contudo o tricolor sabe, como ninguém, enfrentar e colocar o seu adversário em dificuldade.
Discordo inteiramente de alguns comentaristas que afirmaram que é constrangedor o Água Santa, clube de Diadema, ter alcançado a final do Paulistão. Constrangedor para quem? Para os grandes clubes, com as suas folhas salariais astronômicas e que foram desclassificados no tortuoso caminho, certamente. A equipe de Diadema comprovou a competitividade do Paulistão e a sua presença na final não deveria depor contra o campeonato, mas ser um outro elemento de sua valorização.
A final paulista ainda joga por terra a ideia de que os campeonatos estaduais atrapalham o planejamento dos grandes clubes e apertam negativamente o calendário. Corinthians, Santos e São Paulo ficarão sem jogos oficiais por quase um mês porque foram incapazes de chegar à fase final da competição regional, mesmo atuando com seus times titulares. Elas terão agora bastante tempo para ajustar suas equipes. Resta saber se irão aproveitar o tempo e realizar campanhas convincentes no Brasileirão. Ao meu ver, muito mais importante é colocar em pauta a necessidade de que equipes como o Água Santa, ausentes das divisões nacionais, tenham um calendário anual de competições e que elas não tenham que fechar as portas pelo restante do ano tão logo os seus campeonatos se encerrem.