Neurofilósofo Fabiano de Abreu aponta que a pandemia fez a procura por profissionais de saúde mental disparar
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Neurofilósofo Fabiano de Abreu aponta que a pandemia fez a procura por profissionais de saúde mental disparar

Fabiano de Abreu, neurofilósofo e psicanalista, afirma que a pandemia tem colaborado com o aumento dos casos de transtorno mental.

Autor: Da Redação | Foto:Divulgação

Ansiedade, desmotivação, medo, depressão, claustrofobia, TDAH, TOC, e tantas outras enfermidades mentais estão sendo diagnosticadas durante a pandemia do novo coronavírus. Os profissionais de saúde nunca tiveram tanta demanda por seus serviços, neste momento em que o confinamento devido à quarentena está afetando a pelo menos 20% da população mundial, segundo um estudo da Universidad Complutense de Madrid (UCM).

O neurofilósofo, filósofo, neurocientista, neuropsicólogo e psicanalista Fabiano de Abreu é um dos especialistas que concorda com os resultados do estudo espanhol. Ele aponta os motivos para a disparada de casos de transtornos como depressão, ansiedade e transtornos de saúde mental: “É necessário um hormônio neurotransmissor descontrolado para acarretar em diversos outros tipos de doenças ou transtornos, seja de quem não tinha enfermidades, seja de quem tinha propensão a ter, ou de quem já tinha e acentuou-se. O confinamento, o receio econômico, o medo de ser infectado, a preocupação com os mais próximos, tudo isso ativa o alerta de perigo. Veja como nosso organismo responde ao perigo para entender como uma faísca, a ansiedade, pode levar a tantos outros problemas.”

Incerteza gera transtornos

Segundo Abreu, a ansiedade é uma pendência que se caracteriza como consequência da incerteza do futuro: “é o mecanismo de defesa natural para que possamos ter a pulsão necessária, no caso mediante a ansiedade, para agir em busca de uma saída do perigo.
O receio, que é o medo em diferente potência, faz com que o organismo libere o hormônio cortisol, necessário para nos ajudar a sair de uma ameaça, assim nosso cérebro entende o momento, como uma ameaça, derivado do medo, aumenta-se então a produção de cortisol que aumenta a glicose sanguínea e, esta por sua vez, é o combustível, a energia, necessária para a ação.”

Embora o medo tenha sua função biológica, o especialista revela o viés negativo do medo, quando sai do controle em situações como estas: “Isso até então parece ser bom, mas quando esse mecanismo é acionado repetidamente, torna-se prejudicial ao nosso sistema imunológico aumentando a morte celular, os neurônios. Ou seja, a cada vez que nos estressamos ou entramos em estado de pânico, ou quando temos um estresse contínuo, estamos matando os nossos neurônios.”

Adaptação às circunstâncias

O neurofilósofo pontua que o tipo de resposta de cada indivíduo depende, não somente da magnitude e freqüência do evento que leva à ansiedade que promove o estresse como mecanismo de ação, como também da conjunção de fatores ambientais e genéticos: “Assim como a capacidade individual de interpretar, avaliar e elaborar estratégias de enfrentamento são parte da personalidade do indivíduo que é moldada à partir da priori genética de personalidade somando a fatores externos.”

Relação da ansiedade com as doenças

Abreu ressalta que a ansiedade que promove o estresse pode levar a depressão: “a depressão está relacionada ao descontrole nos neurotransmissores devido a traumas e acontecimentos estressores. As chances da ansiedade se tornar uma depressão quando ela é contínua ou acentuada, está relacionado aos fatores genéticos e possibilidades de acordo com o tipo de vida do indivíduo.O comportamento é o melhor mecanismo para não deixar chegar a esta doença.”

Além disso, pessoas que já possuem diagnósticos de quadros clínicos depressivos e outros transtorno, podem ter seus efeitos agravados na pandemia: “Em tempos de pandemia, todos esses fatores podem prejudicar quem já possui o diagnóstico e também pode levar a depressão, quem tem propensão a ela. Transtornos como claustrofobia podem ser acentuados com a condição de permanecer em ambientes fechados, sendo necessário que esses indivíduos possam buscar o meio externo mais vezes, assim como, tratamentos que incluem um melhor controle mental, respiração entre outros métodos que controlem a ansiedade.

Para pacientes com TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo) e TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) a situação da pandemia pode potencializar os sintomas: “Muitas doenças, transtornos e síndromes são relacionadas à ansiedade, sejam doenças em que ela é o fator principal, ou doenças em que ela pode potencializar a ansiedade trazendo maiores consequências e levando a outras enfermidades.”

Ajuda profissional em meio à crise

Devido a isso, segundo Abreu, o número de procura pelos profissionais de saúde mental como psicanalistas, psicólogos, psiquiatras e neuropsicólogos, aumentou muito neste momento de pandemia: “Vivemos um momento em que a atenção para o comportamento torna-se redobrado, e a necessidade de uma auto análise é crucial para evitar danos maiores em nossas vidas, e das pessoas que amamos. Assim como de toda humanidade pois, se grande parte das pessoas não estão bem, elas não serão produtivas e não farão o que é bom e necessário para a sociedade que fazemos parte. Num comboio social em que, um precisa do outro de alguma maneira, precisamos cuidar uns dos outros.”