Raquel Antunes da Silva, 11 anos, ficou presa entre a alegoria e um poste na dispersão dos desfiles na quarta (20)
Morreu às 12h10 desta sexta (22) a menina de 11 anos que teve uma perna amputada após sofrer um acidente na dispersão do Sambódromo do Rio de Janeiro, no final da noite de quarta-feira (20), na abertura do Carnaval na Marquês de Sapucaí.
A morte foi confirmada pela direção do Hospital Municipal Souza Aguiar, onde Raquel Antunes da Silva estava internada em estado gravíssimo. Ela teve as pernas prensadas entre um carro alegórico da escola de samba Em Cima da Hora e um poste na rua Frei Caneca, já fora do sambódromo.
Uma prima da criança, Edileuza Portelinha, 48, disse à Folha nesta quinta (21) que a menina saiu de perto da mãe e subiu no carro alegórico para tirar fotos. Sem perceber que a criança estava lá, deram partida no veículo, o que acabou causando o acidente.
Minha prima não está em condição de falar. Está todo mundo agitado. A gente está arrasado. Uma criança de onze anos perder uma perna assim. A mãe dela desmaiou diversas vezes quando soube da notícia”, disse ela no dia seguinte ao acidente.
A mãe, Marcela Portelinha Antunes, chegou muito abalada ao hospital por volta das 16h30 e, até aquele momento, disse que não havia recebido nenhuma ajuda da liga que reúne as escolas. A manicure chegou a desmaiar enquanto conversava com os jornalistas.
“Eu estou sem dormir até agora. Não me deram recursos. Ninguém veio me perguntar nada até agora. Isso não pode ficar impune. Ela só tem 11 anos”, declarou na ocasião, antes da morte. A madrinha Brenda Santos, 24, disse que a criança chegou a passar por uma cirurgia que durou cerca de nove horas.
“Ela é uma menina alegre, estudiosa, uma ótima pessoa. Gosta de brincar”, contou então. Não era a primeira vez que ela ia ao sambódromo. “A gente sempre teve esse momento, de ir para ver os carros e curtir, mas a gente nunca imaginou que isso fosse acontecer, essa coisa brutal.”
O desfile das escolas chegou a ser interrompido para a realização de perícia no local do acidente, o que atrasou as apresentações. A Polícia Civil afirmou que abriu investigação sobre o caso e que também está analisando imagens coletadas das câmeras de segurança.
Depois do acidente, a pedido do Ministério Público, a Justiça fluminense determinou que todas as escolas do grupo de acesso, especial e mirins façam a escolta de seus carros até seus barracões. A decisão foi do juiz Sandro Espíndola, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital.
De acordo com a Promotoria, o desfile desta quarta violou normas que haviam sido determinadas pela Justiça com antecedência. Em março deste ano, o MP do Rio diz ter enviado aos organizadores do evento recomendações.
“Providenciar seguranças aos carros alegóricos para evitar que crianças e adolescentes se coloquem em riscos, especialmente, nos momentos de concentração e dispersão das escolas de samba”, diz um dos itens do documento.
O prefeito Eduardo Paes (PSD) publicou que a morte de Raquel “deixa um grande sentimento de tristeza”. “Vamos acompanhar de perto a investigação policial que apura as responsabilidades e estamos, através de nossa secretaria de Assistência, dando apoio aos familiares”, escreveu nesta sexta.
O governador Cláudio Castro (PL) também manifestou em nota solidariedade aos parentes e disse que desde esta quinta o Governo do Rio está prestando assistência psicológica aos familiares da menina por meio da Secretaria de Estado de Assistência à Vítima.
Em 2017, um acidente com um carro alegórico da escola de samba Paraíso do Tuiuti deixou 20 pessoas feridas no Sambódromo, na primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio.
As vítimas foram prensadas pelo último carro alegórico da escola, que abriu os desfiles após subir para a primeira divisão do Carnaval carioca. O veículo avançou sem controle para a esquerda sobre a grade da arquibancada.
As ligas das escolas de samba Liga-RJ e Liesa se solidarizaram com a família e afirmaram, em nota conjunta, que a criança “subiu no carro alegórico fora do sambódromo, na rua Frei Caneca, no Estácio, após deixar a área de dispersão”.
“Equipes das Ligas e da Escola acompanham o caso na unidade hospitalar ao lado da família desde o primeiro instante e também colaboram com as autoridades. Nesse momento, é preciso esperar a apuração da perícia e autoridades para novos esclarecimentos”, afirmaram.
Procurada, a escola Em Cima da Hora ainda não se manifestou sobre o ocorrido.
Fonte: Folha S. Paulo | Foto: Reprodução