Final rubro-negra
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Final rubro-negra

Final rubro-negra

Autor: Luiz Henrique Borges

A trajetória vitoriosa de Abel Ferreira no Palmeiras sofreu uma interrupção na última terça-feira. O alviverde tentava ser a oitava equipe sul-americana e a segunda brasileira a jogar três finais seguidas da Copa Libertadores da América. Além de defender o bicampeonato campeonato e manter o sonho de se sagrar campeão mundial de clubes, título que os seus rivais estaduais possuem, era a oportunidade de tirar do tricolor paulista o epíteto de ser o único clube brasileiro que disputou três finais da competição continental consecutivas. Ainda comandado por Telê Santana, o São Paulo decidiu os campeonatos de 1992, 1993 e 1994 e foi o último time do continente que conseguiu tal proeza.

Após ser derrotado pelo placar mínimo na capital paranaense, o alviverde precisava vencer o Athletico, preferencialmente por mais de um gol de diferença, evitando assim o drama das penalidades máximas. O início foi muito auspicioso para os palmeirenses. O gol de Gustavo Scarpa, logo nos minutos iniciais, poderia alterar a estratégia de jogo dos visitantes, além de gerar uma possível desestabilização emocional. Nada melhor para quem precisa fazer o resultado, não é mesmo?

Animado, o Palmeiras manteve a pressão e aos oito minutos Scarpa entendeu porque a torcida do Athletico chama o seu goleiro de São Bento. Foi a sua primeira grande defesa ao longo do duelo. Sem se afobar e demonstrando muita tranquilidade, o clube paranaense, mesmo sem ameaçar no ataque, equilibrou o confronto.

Nos minutos finais da primeira etapa ocorreu o fato capital. Murilo, zagueiro do Palmeiras, chegou atrasado em um lance em que o jovem atacante Vitor Roque, do Furacão, tinha o domínio da bola. O árbitro uruguaio, Esteban Ostojich, marcou a falta e puniu o defensor com o cartão amarelo. Entretanto, o árbitro de vídeo, o colombiano Nicolás Gallo, solicitou a revisão da jogada ao árbitro uruguaio. Bastaram alguns segundos em frente ao VAR para Ostojich trocar a cor do cartão e o zagueiro do Palmeiras terminou expulso.

Eu gostaria, neste momento, de fazer uma ressalva. Em jogada anterior, o jogador do rubro-negro do Paraná, Alex Santana, deixou o cotovelo no rosto de Rony. O árbitro amarelou o jogador do Athletico e não foi chamado ao VAR para analisar a jogada. Eu realmente não entendo os critérios. Se houve a cotovelada, de forma proposital, ocorreu uma agressão e o cartão correto a ser apresentado era o vermelho. Se o choque foi acidental, e não me pareceu dessa forma, o atleta não deveria ter sido punido.

Apesar da expulsão, o Palmeiras deu bons indícios no início as segunda etapa.  Em uma imperdoável falha defensiva, Gustavo Gómez resvalou de cabeça para encobrir o goleiro do Athletico após cobrança de lateral de Marcos Rocha. No entanto, em decorrência dos ajustes defensivos que Abel Ferreira foi obrigado a fazer, Gustavo Scarpa, o principal articulador do Palmeiras, passou a jogar mais recuado e Dudu se viu sem um companheiro para dividir suas investidas.

A comissão técnica do Athletico, por sua vez, inteligentemente, tirou de campo no intervalo os seus atletas que estavam amarelados, em particular Alex Santana. As substituições realizadas também deixaram a equipe mais ofensiva. Passados os primeiros quinze minutos, Pablo entrou no lugar do volante Erick e diminuiu o placar em uma de suas primeiras jogadas. Aos 39, Terans, que entrou no intervalo, marcou o gol de empate após a bola chutada desviar no defensor do Palmeiras tirando qualquer possibilidade de defesa de Weverton.

O Palmeiras, com um jogador a menos, não teve forças para reagir e o Furacão, clube muito organizado e que já há alguns anos é um dos gigantes brasileiros, manteve o empate e irá disputar a final rubro-negra da Libertadores da América.

Após construir uma imensa, praticamente intransponível, vantagem contra o Vélez Sarsfield no primeiro jogo, o Flamengo, em um Maracanã eufórico e lotado, não foi brilhante, mas venceu por 2X1 o seu adversário. Dorival Júnior, apesar da seriedade com que tratou o jogo, mas ciente de que o seu clube só não estaria em Guayaquil, na final da competição, somente se uma catástrofe de proporções épicas, daquelas que só ocorrem a cada cem mil anos, caísse sobre o Maracanã, poupou Gabigol e Thiago Maia, atletas pendurados e que não poderiam atuar no último jogo caso tomassem um novo cartão amarelo.

Apesar do discurso de respeito e de que nada estava ganho proferido pela comissão técnica e também pelos atletas, é natural que os jogadores entrem em campo, até inconscientemente, mais relaxados. De forma alguma faltou vontade e empenho dos atletas do Flamengo, mas as jogadas não fluíram com a mesma naturalidade e intensidade de outros jogos. O clube carioca, particularmente no primeiro tempo, errou muitos passes e, sem a compactação necessária, especialmente quando subia a marcação, cedia espaços para o seu adversário.

Jogo muito morno até os 21 minutos. Neste momento, Arrascaeta foi desarmado na intermediária, Janson avançou pela esquerda e cruzou para Pratto jogar para o fundo das redes. Um levíssimo sopro de esperança atravessou o rio da Prata e bafejou os torcedores do Vélez. Como qualquer crença religiosa, torcer não é um ato que prima pela racionalidade e pela lógica, torcer é acreditar no impossível, torcer é fé, a mais inabalável e inquebrantável fé.

Após o gol, o Flamengo melhorou um pouco, mas ainda cometia muitos erros e não sufocava o time argentino. Com a aproximação do intervalo o Vélez dava pinta que iria para o vestiários com o placar favorável.

No entanto, quem conta em seu elenco com um atacante iluminado como o Pedro não tem apenas a fé ao seu lado. Ele sabe que o seu time é o diretor do enredo e que a qualquer momento o rumo da história pode se alterar completamente. Após o cruzamento de Everton Ribeiro, o atacante flamenguista saltou com a leveza de um pássaro e a precisão de um sniper para vencer, de cabeça, o goleiro do Vélez. Medina tentou pressionar o adversário na etapa final e, como em Buenos Aires, despovoou o meio campo. As mudanças favoreceram o clube carioca que marcou o segundo gol após Marinho detonar mais um de seus “mini mísseis aleatórios”.

O último capítulo da série “Libertadores 22” só será conhecido em 29 de outubro. Eu não gosto desses lapsos temporais. Fico com a sensação que eu tirei a embalagem da balinha e fiquei dias com ela na mão antes de degustá-la. Não será apenas uma final rubro-negra, será também uma final que não ocorre desde 2006, de equipes brasileiras dirigidas por treinadores brasileiros. Na época, o Internacional de Abel Braga superou o São Paulo de Muricy Ramalho. Agora, Scolari ou Dorival? Façam suas apostas.