Autor: Luiz Henrique Borges
A semana, com a disputa da última rodada do Campeonato Brasileiro no domingo, marcará o encerramento das atividades oficiais do futebol pelo Brasil em 2022. A partir de agora, até meados de dezembro, vamos nos concentrar na Copa do Mundo que terá o seu primeiro jogo, pouco atraente a meu ver, entre Catar e Equador, no próximo domingo, dia 20.
Apesar do Palmeiras já ter levantado, com justiça, a taça do Brasileirão, as últimas emoções serão vivenciadas pelos clubes que lutam pela Libertadores da América. Ainda há uma vaga aberta para a fase de grupos e as duas vagas para a denominada Pré-Libertadores. Como a esperança é a última que morre, após as vitórias do Botafogo contra o Atlético Mineiro e contra o Santos, eu voltei a sonhar.
Em relação ao clube da estrela solitária, uma situação muito peculiar ocorreu ao longo de todo o Brasileirão: a equipe atuou muito melhor e conseguiu a boa parte de suas vitórias jogando nos estádios dos adversários. Em casa, o clube perdeu muitos pontos, inclusive para as diversas equipes rebaixadas. Somente contra elas foram 12 pontos desperdiçados, empate contra o Juventude, o Ceará e o Atlético Goianiense e derrotas para o Avaí e Cuiabá. Se a tônica, no próximo ano, não se alterar, o Textor, dono da SAF que dirige o Botafogo, poderia vender todos os mandos de campo e atuar sempre como visitante.
Deixando de lado a brincadeira, entendo que as expectativas da torcida com a reconstrução do Botafogo fragilizaram o clube quando ele jogou em seus domínios. Durante o ano foram montadas praticamente três equipes, sendo as duas primeiras de nível técnico baixo. Apenas na última janela de transferências, o alvinegro conseguiu contar com um elenco mais qualificado.
Ao atuar em casa, a ansiosa torcida queria ver um time protagonista. O treinador e os atletas até se esforçaram na tentativa de satisfazer os torcedores, no entanto, além de não ser um grupo brilhante, havia a dificuldade de entrosamento. Uma equipe que deseja tomar as rédeas do jogo precisa de afinação e isso só é obtido com muito treino. No entanto, quando jogou de forma mais reativa, atuando fora de casa e sem a mesma pressão, os resultados apareceram. Das peladas aos jogos profissionais, no futebol sempre foi mais fácil destruir do que construir. Com a continuidade da SAF, espero que Textor faça os investimentos certos já no início do ano e que use o Campeonato Carioca como um laboratório para as competições nacionais e internacionais que o alvinegro jogará.
A situação vivenciada pelo Botafogo também deve servir de alerta para os vascaínos e a 777 Partners, a condutora da SAF cruzmaltina. Mesmo com os investimentos dos novos proprietários, as contas em dia, os resultados não necessariamente ocorrem de forma imediata. É preciso ter um pouco de paciência e moderar as expectativas.
Falando em Vasco, o seu retorno para a elite do futebol brasileiro foi para lá de emocionante. Após a derrota para o Sampaio Corrêa, em São Januário, comecei a temer que o clube de tantas glórias e história amargasse mais um ano na segunda divisão, afinal jogaria, na última rodada, em Itu, contra os donos da casa, o Ituano. Se a equipe paulista vencesse, ela tomaria a vaga do Vasco da Gama.
O início pareceu muito promissor para a equipe carioca. Logo aos três minutos, após disputa de bola de Raniel com Jefferson Paulino, a bola sobrou para Gabriel Pec que chutou em direção ao gol. O zagueiro Lucas Costa, em desesperada tentativa de evitar a abertura do placar pelo adversário, colocou a mão na bola e foi expulso. Coube ao experiente Nenê cobrar e converter o pênalti. Depois do gol, mesmo com um jogador a mais, o Vasco da Gama não conseguiu se impor e o Ituano pressionou o seu adversário durante todo o primeiro tempo. A etapa final foi mais equilibrada, as duas equipes construíram jogadas de perigo, mas pararam nas boas defesas dos dois goleiros ou na falta de pontaria.
Foi muito sofrido, mas o Vasco, após dois anos na Série B, voltou para a elite nacional. O resultado também deve ter sido muito comemorado pelo STJD e pela própria CBF, afinal transformou o julgamento dos incidentes ocorridos no jogo contra o Sport, na Ilha do Retiro, em algo de menor importância e, talvez, tenha até influenciado na decisão tomada na última quarta-feira que declarou o Vasco vencedor do jogo contra os pernambucanos. Mas, imaginem a situação constrangedora que poderíamos ter vivenciado se o clube paulista tivesse conquistado a vaga no campo e a perdesse por uma decisão no “tapetão”.
Para evitar situações que podem ser judicializadas, além de colocar sob suspeita os campeonatos em suas diversas divisões, trazendo a sensação da defenestrada “virada de mesa”, eu defendo que os julgamentos sejam realizados com a maior celeridade, preferencialmente ainda no decorrer da semana em que os fatos se deram.
Minha expectativa para o Campeonato Brasileiro de 2023 é elevada. O retorno dos gigantes Cruzeiro, Grêmio, Vasco e Bahia trará ainda mais emoção, competitividade e equilíbrio para a Série A. Dentre os campeões brasileiros, apenas Guarani e Sport permaneceram na Série B. Há tempos a Série A não estava tão recheada de clubes que formam a elite do futebol nacional.
A semana também vivenciou a convocação final de Tite para a muito aguardada competição. Dentre os atletas escolhidos, sem surpresas, o único que não faria parte do meu grupo é o Daniel Alves. As justificativas do treinador brasileiro não me convenceram. O envelhecido lateral há muito não demonstra o futebol que lhe credencia para atuar com a camisa amarela.
Não concordo com o colunista do UOL, o jornalista Rodolfo Rodrigues, homônimo do espetacular goleiro uruguaio que brilhou no Santos na década de 80, que afirmou que os jogadores não devem ser convocados para a Copa do Mundo apenas pelo momento. Para ele, a história do atleta, a importância dele para o grupo e sua qualidade técnica são aspectos que precisam ser ponderados.
A Copa do Mundo, competição de tiro curto, é fundamentalmente momento. Não há tempo para a recuperação. Em 90 minutos está tudo decidido. Qualidade técnica é fundamental, mas no presente e não no passado. Daniel Alves fracassou no São Paulo e é muito criticado no futebol mexicano, qual a qualidade técnica que ele atualmente apresenta? Tenho uma posição muito clara em relação ao assunto: se a história e a importância do Daniel Alves para o grupo são tão grandes, que ele faça parte da comissão técnica. Como atleta, ele já deu! O maravilhoso de uma Copa do Mundo é que ao final o cronista pode queimar a língua.