Autor: Luiz Henrique Borges
Começou a Copa do Mundo. O Mundial de futebol é o evento esportivo que eu mais gosto e é o único que me deixa realmente ansioso. Por favor, não perca tempo com contra-argumentos, não vai adiantar. O único esporte que suspende nossas atividades cotidianas é o futebol e ele é um dos elementos identitários mais presentes na minha formação. Na próxima Copa, eu juro, vou marcar minhas férias para assistir pelo menos os jogos da primeira fase.
Separei algumas horas do domingo para ver a partida de abertura da Copa. Apesar de serem duas seleções sem muita tradição, Catar e Equador, eu acompanhei o jogo com interesse, principalmente pelo bolão que fizemos no trabalho e que conta com um “intruso”, o Guilherme, meu aluno do curso de Direito, carinhosamente chamado de “filho do Luiz”.
A organizadora, a Marinna, combinou as seguintes regras: valem todos os jogos da primeira fase. Se acertarmos o resultado, ou seja, quem será o vencedor ou, se apostarmos no empate e ele ocorrer, ganhamos 1 ponto. Se cravarmos o placar são 2 pontos na conta. Nos jogos da Seleção Brasileira os pontos são dobrados. Comecei bem o bolão, marquei Equador 2X0 Catar, ou seja, acertei a vitória do Equador (1 ponto) e o placar (2 pontos), totalizei 3 pontinhos.
Antes do início do Mundial, minha lista de favoritos era formada por Argentina, Brasil, França, Alemanha e Espanha. Os ingleses e os nossos patrícios, os portugueses, duas seleções fortes e com muitos jovens, imaginei-as um pequeno degrau abaixo. A zebra, como de costume, resolveu percorrer os gramados na primeira rodada e atingiu em cheio a Alemanha e a Argentina. As duas seleções sofreram viradas surpreendentes. Os alemães, após um bom primeiro tempo, foram para o vestiário com a vantagem no placar. Eles voltaram determinados a garantir a vitória na etapa final, pressionaram e finalizaram diversas vezes, mas a bola ou terminou na trave ou nas mãos do goleiro japonês.
Atrás no placar, Hajime Moriyasyu, treinador do Japão, resolveu tornar o seu time mais ofensivo. Suas substituições melhoram a equipe e ele foi premiado com uma vitória histórica. No próximo domingo, a tetracampeã do mundo jogará a sua sorte na competição contra a Espanha que vem embalada após golear, implacavelmente, a fraca equipe da Costa Rica. Se o Japão vencer a equipe da América Central e a Alemanha perder para a Espanha, resultados prováveis, os alemães serão desclassificados pela segunda vez consecutiva na fase de grupos.
Eu estava botando fé na Argentina. Depois de sair da fila de títulos com a conquista da Copa América de 2021, competição que o Brasil resolveu desnecessariamente sediar, achei que Messi e seus companheiros iriam deslanchar no Mundial. No entanto, contrariando até a história do futebol argentino, eles atuaram de forma displicente contra a Arábia Saudita. Os hermanos chegaram a abrir o placar, em um pênalti no mínimo discutível, e pareciam jogar com a perigosa certeza, prenúncio de grandes fracassos, de que o segundo gol aconteceria no momento em que eles desejassem. Não é assim que se joga uma Copa do Mundo. Nela, é matar ou morrer, é preciso entrar com a faca entre os dentes e muito sangue nos olhos. Como não atuou desta forma, nossos vizinhos foram castigados nos minutos iniciais do segundo tempo. Apesar do grupo não ser muito forte, os argentinos precisarão ganhar do México para manterem vivas as esperanças de título.
A Espanha e a Inglaterra enfrentaram equipes fracas, Costa Rica e Irã, respectivamente. No entanto, elas fizeram, com sobras, o que se espera quando se joga contra tais adversários, ganha-se com autoridade. As duas renovadas seleções mostraram bom futebol e grande repertório ofensivo. Estou muito curioso para saber como os espanhóis irão se portar contra uma seleção de camisa mais pesada e, como já ressaltei acima, veremos isto no domingo, quando enfrentarão a acossada Alemanha. A Inglaterra caiu em um grupo fraco, mas a partida contra País de Gales, um clássico da Grã-Bretanha, pode trazer alguma dificuldade para os inventores do futebol. No entanto, acredito que os ingleses irão até as fases mais agudas da competição.
A França, apesar dos múltiplos desfalques, demonstrou a força do seu grupo e a habilidade de Mbappé, ao derrotar, de virada, a Austrália por 4X1. A esperança de uma nova zebra, após o gol australiano, durou poucos minutos e a atual campeã do mundo, de quebra, superou um tabu. A partir da Copa do Mundo de 2010, o detentor do título não vencia o seu jogo de estreia. Além disso, outra escrita deve cair: Itália, Espanha e Alemanha, campeãs em 2006, 2010 e 2014, não passaram da primeira fase na Copa seguinte. Os franceses não deverão repetir a história.
Ouvi de diversos jornalistas que o português João Cancelo é o melhor lateral direito atualmente no futebol mundial, sinceramente, não quero conhecer o pior. O atleta português fez um jogo horroroso contra Gana e falhou clamorosamente nos dois gols da equipe africana. Outro que não me passou segurança foi o goleiro, Diogo Costa, que quase entregou a rapadura na última jogada. Resumo da ópera, os nossos patrícios não realizaram um bom jogo. Venceram, mas não convenceram.
Nas linhas que faltam tenho que falar do Brasil. A equipe dirigida por Tite é, sem dúvida alguma, forte candidata ao título. Enfrentou a chata equipe da Sérvia e apesar da escalação ofensiva, os brasileiros tiveram dificuldade na articulação de seus ataques na primeira etapa, sobretudo no último passe. No entanto, o segundo tempo foi de manual, os pentacampeões amassaram o seu adversário. A equipe fez dois gols, jogou duas bolas na trave e criou diversas oportunidades de ampliar o placar. Mesmo com um meio campo com apenas um marcador de origem, o Brasil não sofreu sustos defensivos. Em relação ao Richarlisson, só digo o seguinte, como a camisa amarela cai bem em alguns jogadores.
As substituições realizadas pelo treinador brasileiro, além de dar minutagem para os atletas mais jovens, como Martinelli, Anthony e Rodrygo, demonstraram que eles são capazes de manter o bom nível apresentado pelos titulares e, talvez o mais importante, vejo uma seleção que superou a denominada “Neymardependência”.
Espero que a torção no tornozelo direito de Neymar não seja grave, afinal ele é uma peça diferenciada no time. Contra a Sérvia, apesar da sua importância no primeiro gol, ele não fez uma grande partida, mas tê-lo no time é ter a certeza de que a equipe contará com um atleta que é capaz de desequilibrar um confronto e que pode definir o resultado em uma jogada. Agora é enfrentar o ferrolho suíço e, repetindo a atuação da segunda etapa, certamente nos classificaremos antecipadamente para a próxima rodada.