A voz de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aparece numa gravação em áudio realizada na semana passada, em algum momento após ele depor à Polícia Federal em 11 de março. O tenente-coronel afirma nos áudios revelados pela revista Veja que teria sido coagido a delatar o ex-presidente e critica o ministro Alexandre de Moraes, do STF, dizendo que o magistrado tem poderes absolutos para mandar prender ou soltar quem ele quiser.
A revista, que publicou os áudios, não explicou como os obteve. A defesa de Cid comentou os áudios e afirmou que se trata de um desabafo captado em gravação clandestina.
Os áudios dão a entender que Cid se sentiu pressionado a revelar como se deram reuniões e conversas no final de 2022 na alta cúpula do governo Bolsonaro. Na delação, há relatos de oficiais militares de alta patente tendo contato com Bolsonaro para discutir a possibilidade de decretar estado de sítio cujo fim, segundo a Polícia Federal, seria impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Eis a transcrição dos áudios com a voz de Mauro Cid:
“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração está muito boa’. Tipo assim, ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você’.
“Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”.
“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”.
“Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de prisão]. Porque eu estou em vacina, eu estou em jóia”.
Nota da defesa de Mauro Cid:
“A defesa de Mauro César Barbosa Cid, em razão da matéria veiculada pela revista Veja, nesta data, vem a público afirmar que:
“Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador. Aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”.
“Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”.
Fonte: BNews | Foto: Geraldi Magela/Agência Senado