Acreditar que a existência dos quilombos se limita ao período colonial do Brasil é uma ideia equivocada e datada, já que atualmente estes espaços, originalmente criados por fugitivos da escravidão no período colonial, permanecem resistentes – apesar de ainda sofrerem com a privação de direitos fundamentais. Na Bahia, 711 comunidades estão espalhadas pelo estado, e, segundo o Ministério Público Federal (MPF), todas compartilham de problemas relacionados à escassez de água, dificuldades no acesso à educação, saúde e segurança.
O Quilombo Corcovado, localizado no município baiano de Palmeiras, é uma destas regiões. Para acessar à localidade, os residentes precisam passar por uma estrada, que acumula dejetos despejados a céu aberto, responsáveis por dispersar mau cheiro e atrair animais, como urubus e ratos.“Sem contar que a estrada ainda não foi asfaltada, então os moradores também sofrem muito nos períodos chuvosos. Ficamos impossibilitados de ir e vir na comunidade”, afirmou a agricultora e secretária da Associação Quilombola do Quilombo Corcovado, Milena da Silva.
Apesar disso, os moradores não têm dúvida: eles querem chuva. Porque é só neste período que eles conseguem produzir os alimentos que serão colocados em suas mesas. “A situação melhorou um pouco por causa das cisternas produtivas que chegaram na comunidade, mesmo assim ainda precisamos de mais e dependemos da chuva, porque quando a seca chega sofremos muito com a falta de água”, relatou a líder comunitária.
Há cerca de 350 km de distância dali, o Quilombo Kaonge, no município de Cachoeira, enfrenta uma realidade similar. Uma moradora da comunidade, que preferiu não se identificar, conta que não há coleta de lixo no local. Os despejos resultados do cotidiano dos moradores são queimados e enterrados no entorno da própria comunidade.
A residente do Quilombo Kaonge também revelou que, apesar da principal fonte de renda da região ser a pesca de mariscos, os residentes sofrem com o descarte de resíduos no mar, realizado por fábricas presentes na localidade. “Eles jogam na água os vestígios e sabem que a gente pesca ali. Quando vamos tomar banho, ficamos nos coçando. Não dá para eles chegarem na nossa comunidade, fazer o que querem e sair”, desabafou.
Procurada pelo Metro1, a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi) informou que busca “identificar demandas e encaminhar as solicitações com as demais secretarias e instituições parceiras”, mas afirmou que não havia sido previamente acionada para tratar sobre estes casos e que, agora, investigará as denúncias. “Com base nas informações apresentadas, uma equipe da secretaria será enviada às localidades para ouvir os quilombolas e buscar soluções para os problemas apontados”, comunicou, por meio de nota.
Fonte: Metro1 |Foto: Reprodução/José Cruz/Agência Brasil/Rafael Lage