Confinamento em hotel e muitos testes: brasileiros relatam como Bundesliga prepara para voltar
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Confinamento em hotel e muitos testes: brasileiros relatam como Bundesliga prepara para voltar

Jogadores explicam detalhes das medidas de prevenção aplicadas no futebol do país e como foram treinos no período: “Estamos quase seguros 100%”, diz atacante Raffael

Autor: Daniel Mundim e Rodrigo Lois, GE | Foto: AFP

O último jogo disputado no Campeonato Alemão foi o empate por 1 a 1 entre Mainz e Fortuna Düsseldorf no dia 8 de março. No próximo dia 16 de maio, este sábado, Borussia Dortmund e Schalke 04 vão marcar o retorno da competição. Nesse intervalo de mais de dois meses houve isolamento, treinos individuais, muitos testes e um rígido combate ao coronavírus imposto pelo governo alemão que faz com que haja pouca insegurança antes de a bola rolar. Quem garante são os jogadores. No país desde 2008, o meia Raffael, de 35 anos, resume:

“O campeonato vai voltar de uma forma segura para todos, equipes e jogadores. Não tenho motivos para me preocupar, para ter receio com a volta do futebol e a volta do contato físico”

Desses dois meses sem bola rolando, um foi inteiramente de confinamento e o seguinte com um regime diferenciado de treinos. Antes da reestreia, todos os times passaram por três sessões de testes na última semana. O protocolo ainda prevê concentração e isolamento das delegações em hotéis por sete dias até a data do jogo de cada equipe.

O GloboEsporte.com conversou com alguns dos 11 brasileiros que atuam na Bundesliga, para saber como foi esse período e qual a expectativa para a volta do Campeonato Alemão. Eles estão convivendo com o que deve ser a nova realidade do esporte por muito tempo.

– Uma situação totalmente nova e que temos que nos adaptar ainda. Treinos em grupos pequenos, não poder usar o vestiário, não almoçar no clube… nós jogadores gostamos do ambiente interno. Do vestiário, da resenha. Um período de adaptações e aprendizados – comentou o atacante Matheus Cunha, do Hertha Berlin.

Matheus Cunha e sua família passaram todo isolamento em hotel de Berlim — Foto: Reprodução/Instagram
Matheus Cunha e sua família passaram todo isolamento em hotel de Berlim — Foto: Reprodução/Instagram

Recém-chegado do RB Leipzig e um dos destaques do Brasil no Pré-Olímpico, ele enfrentou a quarentena em um hotel da capital alemã, junto da família. No início de abril os treinos eram individuais e foram assim mantidos nas primeiras atividades no CT do Herta.

À medida em que o governo alemão flexibilizava as regras de isolamento social, graças à efetividade das ações sanitárias e o comportamento colaborativo da população, os trabalhos dos times da Bundesliga também evoluíam. Troca de roupa, banho e refeição, só em casa.

“É muito complicado. Mas acredito que não podemos reclamar. Estamos tendo a possibilidade de voltar a fazer o que a gente ama e, pela situação do país, de maneira segura”

Jogadores do FC Union Berlin estão chegando ao treino com máscara — Foto: Getty Images
Jogadores do FC Union Berlin estão chegando ao treino com máscara — Foto: Getty Images

Um novo ambiente para treinar
A Liga de Futebol Alemã (DFL) realizou até o início de maio 1.724 testes de Covid-19 em atletas, treinadores, fisioterapeutas e outros profissionais envolvidos nos treinamentos dos times da Bundesliga 1 e 2. Apenas 10 pessoas tiveram resultado positivo – incidência de menos de 0,6% do total.

O lateral-esquerdo Wendell, do Bayer Leverkusen, fez três exames, todos negativos. Ele retomou as atividades com todo o grupo há duas semanas, em trabalhos com campo reduzido e outros normais.

– Quando chegávamos ao clube para treinar, todas as portas estavam abertas para não ter que usar o nosso cartão com o chip e precisar abrir as portas, o que evita que você encoste a mão onde outra pessoa encostou. Além disso, pegávamos a roupa na área da zona mista, onde é mais aberto, e nos trocávamos separados. Usávamos quatro vestiários e não podia ter aglomeração. Os cuidados são, basicamente, tudo o que os órgãos de saúde têm pedido à população mundial – destacou Wendell.

Aparelho mede a temperatura de todos os jogadores antes dos treinos no Bayer Leverkusen, de Wendell e Paulinho — Foto: Divulgação/Bayer Leverkusen
Aparelho mede a temperatura de todos os jogadores antes dos treinos no Bayer Leverkusen, de Wendell e Paulinho — Foto: Divulgação/Bayer Leverkusen
Bayer Leverkusen manteve todas portas de seu CT e estádio abertas para circulação de ar e evitar que pessoas tocassem no mesmo local — Foto: Divulgação/Bayer Leverkusen
Bayer Leverkusen manteve todas portas de seu CT e estádio abertas para circulação de ar e evitar que pessoas tocassem no mesmo local — Foto: Divulgação/Bayer Leverkusen

“Estamos quase 100% seguros”
O sinal verde do governo da Alemanha sobre a retomada da Bundesliga foi aceso no dia 6 de maio. Todos os jogos ocorrerão com portões fechados. Segundo a DFL, cada partida contará no máximo com 300 pessoas envolvidas, entre funcionários dos clubes e dos estádios, além de jornalistas e equipes de transmissão. O governo alemão exigiu que, para que o campeonato seja iniciado, os atletas fiquem em isolamento total por pelo menos uma semana.

Jogadores do Borussia Mönchengladbach treinam em seu estádio, que já está preenchido com avatares de torcedores nas arquibancadas — Foto: Divulgação/Borussia Mönchengladbach
Jogadores do Borussia Mönchengladbach treinam em seu estádio, que já está preenchido com avatares de torcedores nas arquibancadas — Foto: Divulgação/Borussia Mönchengladbach

Porém, nesse meio-tempo, também foi ligado o sinal de alerta, com os casos positivos para Covid-19 no Colônia, no Dresden – que provocou o adiamento de sua reestreia na Bundesliga 2 –, e no Borussia Mönchengladbach, do meia Raffael. O brasileiro não se mostrou preocupado e disse confiar no controle sanitário imposto pelas autoridades alemãs.

– Estamos seguros quase 100%, porque o controle está sendo rígido. Acho que, para jogar futebol, neste momento, esse controle está sendo fundamental para evitar mais contágios. A sensação no grupo é muito boa, todo mundo está querendo voltar a jogar. Vejo um grupo bem animado. Que bom que vai ser possível ir até o final do campeonato – comentou Raffael, que está no Gladbach desde 2013.

A Bundesliga foi paralisada no dia 8 de março, ao fim da 25ª rodada. Restam nove partidas para cada time realizar para a conclusão da temporada 2019/20. O Bayern de Munique era o líder da competição no momento da pausa, com 55 pontos, quatro a mais que o Borussia Dortmund. Leipzig e Mönchengladbach completam a zona de classificação para a próxima Liga dos Campeões.

No domingo passado, a Alemanha registrou 172 casos confirmados de coronavírus, mais 140 recuperados e cerca de 7.500 mortes. Faltando agora poucos dias para o aguardado recomeço da Bundesliga, os jogadores brasileiros ouvidos pelo GloboEsporte.com acreditam que há condições de segurança para a volta do campeonato, como assegura o lateral Wendell:

“Desde o começo, o governo alemão sempre foi muito transparente e passou bastante informação e tranquilidade para a população. Se eles não tivessem plena consciência de que há segurança para o futebol ser praticado, acho que não iriam permitir”

O lateral-direito William, ex-Internacional e em sua terceira temporada no Wolfsburg, vive uma experiência diferente. Com grave lesão no joelho e afastado dos gramados desde fevereiro, ele retornou ao Brasil antes do agravamento da pandemia. O jogador não deve voltar à Alemanha, e dificilmente atuará no restante da temporada. Pelo que percebe e ouve dos colegas de clube, a sensação é de tranquilidade. No entanto, ressalta: será difícil nunca mais ter receio de contágio.

– Os jogadores estão um pouco mais aliviados. O índice de mortes está baixo na Alemanha, e também estão vendo os cuidados que estão tendo para voltar o campeonato – diz o jogador, de 25 anos, complementando:

“Estão mais tranquilos, mas o medo continua. É tudo muito novo, tudo aconteceu muito rápido, então o medo continua. Mas a partir do momento que as autoridades estão fazendo tudo para que isso melhore, os jogadores ficam um pouco mais tranquilos também”