CHEGA.
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CHEGA.

Chega de “livre-arbítrio” usado como desculpa pra inércia.
Chega de “redução de danos” que só reduz o incômodo visual, não a dor real.
Chega dessa diplomacia barata que permite que seres humanos apodreçam em praça pública, enquanto o Estado assiste e a sociedade finge empatia em post de rede social.

Quando vamos encarar de frente quem está morrendo?
Cada pessoa largada na rua tem mãe, irmão, alguém que já passou noites sem dormir tentando salvar.
O sistema lucra com a droga vendida, com o tráfico tolerado, com a terapia inacessível mais do que se importaria em bancar um tratamento digno, eficaz e contínuo.

“Não pode internar.”
Então pode enterrar?
“Não pode intervir no livre-arbítrio.”

Livre-arbítrio só existe quando há condições de escolher.
Na dependência química, não há escolha há captura.
A família que decide intervir não é opressora, é sobrevivente.
É quem paga a conta emocional, financeira e, muitas vezes, funerária de um Estado omisso.

Basta.
Basta de hipocrisia de gabinete.
Basta de leis que não chegam à rua, nem ao poste onde alguém injeta pela terceira vez no mesmo dia.
Se o direito é realmente humano, ele tem que ser humano para todos:

– Pra quem luta pra manter o filho vivo.
– Pra quem não sabe mais distinguir o dia da noite.
– Pra quem só quer uma chance, mas encontra burocracia.

A pergunta não é se podemos intervir.
É como justificaremos a omissão quando o próximo corpo cair.
Quantas mortes ainda cabem nas estatísticas?
Quantas manchetes precisam virar luto antes de chamarmos essa tragédia pelo nome: abandono?
Chega de discurso. Quero ação:
– Leito, terapia, internação quando necessário, sem meses de espera.
– Profissionais preparados, pagos e respaldados.
– Continuidade do cuidado após a alta porque a droga espera na esquina .
– Fiscalização de quem lucra com a dor alheia.

Ou fazemos agora, ou colecionaremos urnas, lutos e hashtags vazias.

Por Lucas Chaves