Nesta quinta-feira (31), a Polícia Federal ouviu, ao mesmo tempo, oito investigados no caso da venda ilegal de joias presenteadas à Presidência da República em missões oficiais. Entre os depoentes, estavam o ex-presidente Jair Bolsonaro e a mulher, Michelle, que ficaram calados.
Enquanto isso, o ex-ajudante de ordens dele na Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid, prestava um depoimento longo.
Os carros começaram a chegar à sede da Polícia Federal, em Brasília, pouco antes de 10h. O primeiro foi do tenente-coronel Mauro Cid. Foram intimados:
- o ex-presidente Jair Bolsonaro;
- a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro;
- o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid;
- o pai dele, o general da reserva Mauro César Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro na
- Academia Militar das Agulhas Negras;
- dois assessores do ex-presidente: Marcelo Câmara e Osmar Crivellati;
- Frederick Wassef, que declara ser advogado do ex-presidente;
- Fabio Wajngarten, que foi chefe da Comunicação do governo Bolsonaro e atualmente também advogado do ex-presidente.
Foi a primeira vez na história que um ex-presidente e uma ex-primeira-dama prestaram depoimento de forma simultânea. Para evitar combinação de versões, cada um dos convocados ocupou uma sala separada, dentro da Diretoria de Inteligência Policial, que ocupa parte do 5º e 6º andares da torre B do prédio-sede da PF em Brasília. E todos os oito depoimentos começaram na mesma hora.
Lá dentro, uma equipe com delegado, agente e escrivão estava esperando para fazer as perguntas do interrogatório, e os delegados que comandam a investigação ficaram circulando entre as salas. Frederick Wassef foi o único ouvido na Superintendência da Polícia Federal de São Paulo.
O objetivo dos investigadores nesta quinta era esclarecer pontos importantes do inquérito que investiga o caso das joias, aberto há quase seis meses depois que a imprensa revelou a tentativa de integrantes do governo Bolsonaro de trazer, de forma ilegal, joias da Arábia Saudita.
Um kit de diamantes para a então primeira-dama Michelle foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em outubro de 2022. Já um kit com joias masculinas entrou no país sem ser declarado.
Em agosto, uma operação da Polícia Federal revelou a tentativa de venda e de recompra de joias nos Estados Unidos, como um Rolex de diamantes, além de outros presentes. A investigação incluiu novos personagens, como Lourena Cid e Frederick Wassef.
Nesta quinta-feira (31), Marcelo Câmara, Fabio Wajngarten, Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro ficaram em silêncio.
A defesa do ex-presidente alegou que o Supremo não tem competência para analisar o caso, que deveria ser transferido à Justiça Federal de Guarulhos, onde o primeiro kit de joias foi apreendido, e citou a posição da Procuradoria-Geral da República, que defendeu, em manifestação ao STF que o caso fosse enviado para a Justiça Federal de Guarulhos.
Segundo a defesa, os peticionários optam, a partir deste momento, por não prestar depoimento ou fornecer declarações adicionais até que estejam diante de um juiz natural competente.
Em uma rede social, Michelle Bolsonaro afirmou que “não se trata de ficam em silêncio, que está à disposição para falar na esfera competente e que o STF não se mostra o órgão correto para cuidar da presente investigação”.
O ministro do STF – Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, já tinha mantido o caso na Corte. Concordou com a Polícia Federal que a investigação das joias tem conexão com outros inquéritos que apuram a atuação de uma suposta organização criminosa em cinco eixos:
- ataque virtuais a opositores;
- ataques ao sistema eleitoral;
- tentativa de golpe de Estado;
- ataques à vacina e a medidas preventivas na pandemia;
- uso da estrutura Estado para vantagens pessoais.
Mauro Cid, o pai dele, o general da reserva Mauro César Lourena Cid, Osmar Crivellati, e o advogado Frederick Wassef falaram. Wassef, por exemplo, chegou a negar em um primeiro momento ter sequer visto o relógio Rolex que foi negociado nos Estados Unidos e, depois, recuperado. No dia seguinte, o advogado admitiu que participou da recompra.
Nesta quinta (31), na saída do depoimento, Wassef disse que não iria se manifestar porque o caso está sob segredo de Justiça e que está sofrendo perseguição.
“Sobre hoje, eu nada tenho a declarar. Mas estou falando sobre a campanha em massa de fake news que venho sofrendo. Campanha de mentiras, de acusações infundadas, dilações de coisas que não existem”, disse.
Segundo fontes ligadas ao caso, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, está colaborando com as investigações, e desde sexta-feira (25), já prestou três depoimentos no edifício- sede da Polícia Federal, em Brasília, somando mais de 23 horas.
As investigações também avançaram na análise dos celulares apreendidos com Frederick Wassef e o general Lourena Cid, e a PF já usou essas novas informações nos depoimentos desta quinta-feira (31)
Fonte: G1/JornalNacional | Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo