Aumento de internações de crianças pode estar associada a variante mais transmissível da covid-19?
Corona Vírus Saúde

Aumento de internações de crianças pode estar associada a variante mais transmissível da covid-19?

Autor: Crescer | Foto: Divulgação

A segunda onda de casos do novo coronavírus em Manaus, entre dezembro de 2020 e janeiro deste ano, levou à descoberta de uma nova variante da covid-19: a chamada P.1. E ela parece ser mais transmissível. Mas será que ela afeta mais facilmente as crianças – que não eram alvos tão frequentes da doença até então?

Segundo estudos conduzidos pela Universidade de São Paulo em colaboração com o Imperial College London e a University de Oxford, a nova linhagem é provavelmente mais transmissível do que outras variantes e pode ter a capacidade de escapar da imunidade adquirida, levando a casos de reinfecção.

“Nós descobrimos que a variante P.1 tem diferenças notáveis ​​em comparação com as cepas que circulavam anteriormente em Manaus. Estimamos um aumento de 1,4 a 2,2 vezes na transmissibilidade e uma capacidade de escapar entre 25 e 61% da imunidade natural gerada pela infecção com cepas anteriores. Também houve evidência de um aumento no risco de mortalidade, mas se isso é devido ao P.1 ou ao colapso extenso do sistema de saúde que Manaus experimentou permanece incerto”, diz o Dr. Thomas Mellan, do Imperial College London.

E essa alta taxa de transmissibilidade pode estar levando ao aumento de casos de coronavírus entre as crianças – assim como nas demais faixas etárias.

Segundo dados do Ministério da Saúde, do início da pandemia ao dia 27 de fevereiro (último dado disponível), 8.774 crianças de 0 a 5 anos foram hospitalizadas por covid-19 no Brasil. No último boletim de 2020 (de 27 de dezembro a 2 de janeiro), esse número era de 7.566 – o que significa que 1.208 hospitalizações foram registradas apenas em 2021.

O que ocorre, porém, é que as internações por covid-19 no Brasil aumentaram em todas as faixas etárias, e não apenas entre as crianças. Se compararmos os dados de internações das crianças com a população em geral, é possível afirmar que o percentual de crianças internadas segue de cerca de 1%: 594.587 pessoas foram internadas por covid-19 em 2020, dentre as quais 7.566 tinham de 0 a 5 anos (o que equivale a 1,27%). Neste ano, segundo o Ministério da Saúde, 114.817 pessoas já foram hospitalizadas por conta do coronavírus, dentre as quais 1.208 crianças (1,05%).

“Não vejo que a covid-19 esteja acometendo as crianças desproporcionalmente. Os números até agora não mostram mudança no perfil etário. As crianças continuam correspondendo a cerca de 1,5 a 2% dos casos, e 0,3 a 0,4% dos óbitos, sendo que elas são 25% da população brasileira, então não acho. A gente está vendo mais vírus respiratórios, com a flexibilização, volta às aulas, mais bronquiolite, então tem mais crianças doentes, mais crianças hospitalizadas, mas por covid eu não acredito que esteja havendo alguma mudança importante, nem aqui nem fora do país”, explica o pediatra e infectologista Renato Kfouri à CRESCER.

A chamada P.1 já foi identificada em mais de 20 países em todo o mundo e continua a se espalhar, incluindo vários casos confirmados recentemente no Reino Unido. “Os esforços globais de colaboração no sequenciamento rápido do genoma do vírus estão nos permitindo identificar linhagens de preocupações do SARS-CoV-2 em tempo quase real. No entanto, há incertezas nas formas do SARS-CoV-2 está mudando e as implicações para o projeto de vacinas exigem muito mais sequenciamento e análise de genomas de vírus em todo o mundo”, explica o professor Ester Sabino, da Universidade de São Paulo.

De olho em outra variante: a britânica

O epidemiologista americano Eric Feigl-Ding compartilhou em suas redes sociais posts com dados que apontam um aumento significativa nos casos de covid-19 entre crianças de 0 a 9 anos, devido a uma outra variante, chamada B.1.1.7 – circulando majoritariamente na Europa. A cepa seria mais transmissível e capaz de causar mais mortes, segundo estudos recentes citados pelo especialista.

“Definitivamente há algo acontecendo com a variante # B117 (que é totalmente dominante no Reino Unido) e crianças. Essa nova tendência pediátrica esquisita já foi vista na Itália, Israel, Dinamarca e em muitos outros lugares. A liderança da Itália deu o alarme recentemente sobre o B117 e as crianças”, escreveu, em 4 de março.