Há 12 anos, amigos e familiares do técnico agrícola Marcos Antônio dos Santos Costa lutam para provar a inocência dele em um processo que em um processo, que consideram injusto. A batalha começou em um semáforo nas vias de Salvador. Dentro de uma Fiat Uno, Marcos Antônio foi supostamente reconhecido por uma mulher, em uma sinaleira, como alguém que tentou contra a vida dela e da família.
Seu caso foi exposto nesta semana em uma publicação feita na rede social do engenheiro Alex Sá Gomes, amigo e chefe de Marcos. “Há alguns anos, uma senhora da nossa sociedade parou o carro em uma sinaleira, olhou para o lado e viu um negro dirigindo um Fiat Uno vermelho e acreditou ter encontrado a pessoa que, segundo ela, numa noite, atirou contra seu carro. Para ela, aquele agressor, era o Marcos, que nunca viu essa família”, escreveu.
O veículo envolvido no ocorrido estava no nome de Alex, um presente ao funcionário pelo bom desempenho na empresa. O que, na época, fez com que ele também fosse investigado com alguma possível participação no crime.
“A gente comprou e não pôde passar logo para o nome dele. No primeiro momento, dois investigadores foram no meu apartamento querendo saber do carro, eu contei toda a história e disseram pra gente que o carro tinha sido clonado, inventaram uma história. Na realidade, eles estavam investigando a vida da gente, não encontraram nada contra mim, contra a minha empresa e Marcos. Mesmo assim, o juiz mandou prender ele sem nenhuma prova […] ele simplesmente ouviu essa senhora, uma pessoa branca da nossa sociedade. Ela apontar o dedo para um negro e ela condenou”, contou o engenheiro.
Encarcerado
Marcos chegou a ficar preso por quatro dias. Ao Metro1, ele relembrou o momento. “[Policiais] foram invadindo minha casa às 6h da manhã, quase 20 policiais, um monte de gente para me levar. Foi uma cena terrível. E aí eu fui para a delegacia, quando eu cheguei, que eu tomei conhecimento do que tinha acontecido”, disse.
Na delegacia, o técnico agrícola foi informado que estava sendo detido por ter supostamente participado de um episódio ocorrido há pouco mais de um ano. Segundo a versão da mulher que o apontou na sinaleira, ele teria se desentendido no trânsito com ela e o marido, perseguido e atirado contra o carro deles. Marco e Alex acreditam que o fato desta mulher ser casada com um promotor de Justiça tenha contribuiu para que a acusação fosse adiante “mesmo sem provas suficientes”
Por ser formado em administração, ele conseguiu ficar em uma cela com pessoas acusadas de crimes de menor violência, até que Alex e outros amigos conseguissem assistência jurídica para solicitar a soltura. “Se não fosse essa interferência de Alex, amizades e essas coisas, eu poderia ter passado um mês inteiro preso”, disse.
O episódio interfere na vida de Marcos até os dias atuais: “o medo me perseguiu esses 12 anos. Às vezes, dava uma desligada, mas vira e mexe, uma parada de viatura na rua e, aí vinha sempre o caso, me assombrava. Tinha pesadelos com a polícia invadindo minha casa e até hoje tenho. Esse medo não pára nunca, é uma espada na sua cabeça”, lamentou.
O Julgamento
O processo de Marcos segue em aberto com uma audiência marcada para o próximo mês e ele tem expectativas de que a situação finalmente tenha um fim. “Eu vou fazer 60 anos, eu quero paz na minha vida, não quero nenhuma mancha no meu nome. Não tive proteção alguma do Estado perante isso, fui apontado como aquele ‘homem-preto-ameaça’ e eu nunca me pus nesse lugar e eu não quero continuar nesse lugar. Não sou ameaça para ninguém”, relatou.
Assim como ele, seu amigo Alex, que o ajudou com o caso, também considera que houve uma negligência do Estado com Marcos. “Culpado maior não é o casal. É o Estado brasileiro, ele tem que defender o cidadão. Nós vamos processar o Estado, porque foi esse juiz que julgou que a palavra da mulher branca rica valeria mais do que a do negro. Então, foi o Estado que errou com o Marcos, essa mulher errou, mas foi o Estado que não assegurou o direito de Marcos de defesa”, comentou.
Fonte: M1 | Foto: Acervo pessoal