A Montanha-Russa, nas cordas do ringue e a Bicicleta: teve de tudo na Copa do Brasil
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A Montanha-Russa, nas cordas do ringue e a Bicicleta: teve de tudo na Copa do Brasil

Autor: Luiz Henrique Borges

Atualmente, torcer para o Corinthians é como andar em uma daquelas montanhas-russas gigantescas, com subidas lentas, íngremes e angustiantes, seguida de quedas praticamente verticais que tiram o fôlego e chegam até a suprimir os gritos para, de imediato, nos lançarem aos loops maravilhosamente assustadores. Eu sinto grande atração por este brinquedo nos parques. Curiosamente, no momento em que o carrinho parte e inicia, debochadamente lento, a sua subida para depois despencar em seu primeiro “abismo”, minha consciência, em pânico, pergunta: “O que você tá fazendo aqui?”. A vertiginosa queda é acompanhada por uma injeção de adrenalina e a mesma consciência, até então crítica e covarde, se enche de valentia, diverte-se e ao final do “passeio”, ela se manifesta: “Vamos dar mais uma volta!”.

Por que estou realizando a comparação? Porque o torcedor do Corinthians vive um caldeirão de emoções por não sabe o que esperar da sua equipe. Talvez eu seja injusto em dizer que suas atuações são irregulares, afinal, ao longo do ano, o time fez um número bem alto de partidas modorrentas, demonstrando ter uma regularidade não muito auspiciosa. No entanto, quando ele entra no modo exceção, é como completar a montanha-russa em êxtase e, ao final, o torcedor, já tomado pela felicidade, quer vivenciar mais uma vez a experiência.

Em Goiânia, na partida de ida da Copa do Brasil, o Corinthians foi engolido pelo seu adversário, o Atlético Goianiense. O Flamengo, na Copa Libertadores da América, não tomou conhecimento da equipe paulista na Neo Química Arena e no Maracanã. William, a contratação mais badalada, deixou o clube sem deixar muita saudade. E, finalmente, o alvinegro perdeu um daqueles jogos que sempre causa abalos, o clássico para o Palmeiras.

O frio na barriga, a boca seca e a incerteza do que ocorrerá quando o carrinho da montanha-russa parte para sua jornada era o sentimento para o jogo de volta da Copa do Brasil. O rubro-negro de Goiás iniciou o confronto com a vantagem de dois gols construída em Goiânia. Em outras palavras, o ofensivamente econômico Corinthians teria que, ao menos, devolver a diferença para ir para os pênaltis ou, situação muito mais desejável, vencer por três ou mais gols para garantir a classificação e o “dinheirinho” novo no bolso. Os clubes que passaram para a semifinal embolsaram um pix de oito milhões.

Na última quarta-feira, o Corinthians demonstrou porque é um dos gigantes do futebol brasileiro. O clube sempre se notabilizou por superar eventuais dificuldades técnicas com garra, com determinação, exigências de sua apaixonada torcida. Mas, quando essa receita ganha novos temperos, como a qualidade técnica, parar o Corinthians, empurrado pelo “bando de loucos”, é como interromper a queda do carrinho no meio da descida mais íngreme da montanha-russa. Não há a menor possibilidade.

Vitor Pereira, desde sua chegada, gostaria de ver seu time jogando no receituário dito moderno: pressionando incessantemente o seu adversário com ou sem a bola. Poucas vezes, nestes seis meses de trabalho, ele conseguiu concretizar a sua filosofia de jogo. No entanto, talvez no momento mais tenso da temporada, após tantos resultados negativos, o Corinthians atuou em sintonia com a cartilha do treinador português.

O que se viu na Neo Química Arena foi o time paulista buscando o resultado desde o apito inicial. Ele sufocou o seu adversário que, apenas aos 17 minutos da etapa final, conseguiu realizar a sua primeira finalização. O jovem e recém-chegado Yuri Alberto, com poucos jogos pelo clube paulista, mas já muito cobrado, foi o “dono da noite”, marcou três dos quatro gols que deram a vitória e classificação ao seu time por 4X1.

Seu próximo adversário, o Fluminense, classificou-se com muitas dificuldades ao empatar, no Maracanã, por 2X2, com o Fortaleza. A equipe cearense, derrotada em casa pelo placar mínimo, esteve muito próxima de avançar para a semifinal ao fazer 2X0 no primeiro tempo.

Como um boxeador quase nocauteado, permanecendo em pé com o auxílio das cordas, o Fluminense se aproveitou da atmosfera de um Maracanã com mais de 60 mil torcedores para se aprumar e, demonstrando muita força de vontade, mesmo longe de ser brilhante, empatar o confronto e garantir sua classificação para enfrentar o alvinegro paulista.

O time dirigido por Fernando Diniz, que estava apresentando um futebol muito vistoso, caiu de produção nos últimos jogos e fiquei com a impressão que os adversários do tricolor encontraram uma forma de dificultar e até anular o seu ponto mais forte, as envolventes triangulações.

Em clássico de tamanha grandeza e tradição, é muito raro podermos apontar um amplo favoritismo para um dos lados. Não irei me aventurar em águas tão perigosas. No entanto, o desafio do Corinthians é conseguir, no mínimo, manter, e se possível, aprimorar, o bom futebol apresentando contra o Atlético Goianiense. Já o Fluminense, precisará criar novas alternativas táticas que surpreendam os seus oponentes.

No momento, quem não causa muita surpresa, é o Flamengo. Você entenderá o sentido da afirmação ao final do parágrafo. Apesar do empate sem gols no Maracanã, o rubro-negro do Rio de Janeiro dominou o rubro-negro paranaense. No dia do jogo de volta, na última quarta-feira, me dirigia para a Faculdade União de Goyazes, em Formosa, para participar da mesa de abertura do curso de Direito da instituição. No caminho, o brilhante advogado Adalberto Viana, ao lado de seu irmão, o Juiz Federal Frederico Viana, me perguntou o que eu esperava do jogo. Respondi que a minha dúvida é como o Athletico Paranaense iria se apresentar, uma vez que o Flamengo jogaria pressionando o seu adversário independente de atuar na Arena da Baixada. A dificuldade não é saber como o Flamengo vai atuar, mas como criar os mecanismos capazes de anular as inúmeras valências do clube da Gávea.

O clube paranaense, muito bem montando e dirigido, mesmo com o apoio de seus torcedores, não foi capaz de parar a fortíssima equipe do Flamengo. O gol de Pedro foi uma pintura. Até o contestado Rodinei resolveu jogar o fino da bola sob a direção de Dorival Júnior. O cruzamento por ele efetuado para a bicicleta do atacante flamenguista foi perfeito. Se o Flamengo não tivesse proibido o seu jovem atacante de atuar nos Jogos Olímpicos, além da medalha de ouro no peito, certamente ele já teria tido muito mais oportunidades na Seleção Brasileira e, não tenho dúvidas, o seu passaporte já contaria com o carimbo rumo ao Catar.

Pedro, ao meu ver, é um exemplo de atleta. Apesar de sua indiscutível capacidade técnica e dos muitos gols que fazia ao entrar nos jogos, demorou para garantir sua titularidade. No banco de reservas sempre foi profissional e soube, com respeito, paciência e muita dedicação, ganhar o seu espaço. Resta muito pouco tempo para a Copa do Mundo, mas o que ele vem jogando o credencia para a lista final de Tite.