O líder da Associação Sociedade Espírita Brasileira Amor Supremo (Sebas), Kleber Aran Ferreira e Silva, foi condenado a 50 anos, 16 meses e 25 dias de prisão pelos crimes de violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
A nova sentença, que deve ser cumprida em regime fechado, foi ampliada após um pedido do Ministério Público da Bahia (MP-BA). O órgão solicitou o redimensionamento da pena inicial de 20 anos e cinco meses de prisão, estabelecida em primeira instância, em novembro de 2024.
Kleber Aran foi condenado por violação sexual mediante fraude contra três fiéis que frequentavam a associação espírita. A condenação também previa uma indenização de R$ 50 mil por danos morais, que devia ser paga a cada vítima.
Na época, a denúncia foi oferecida por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Salvador e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), após investigação instaurada em 2021.
Na nova decisão, os desembargadores reconheceram que uma das vítimas estava em estado de vulnerabilidade, decorrente de uma embriaguez induzida pelo acusado. Na análise da 1ª Turma da Segunda Câmara Criminal do TJ-BA, o fato configura crime de estupro de vulnerável. O documento também enfatiza o padrão de manipulação psicológica e espiritual exercido pelo réu sobre as vítimas.
Relembre o caso
Kléber Aran Ferreira da Silva diz incorporar o espírito do médico alemão Adolph Fritz, conhecido popularmente como Dr. Fritz. As investigações apontam que ele se aproveitava da fragilidade de fiéis para cometer os abusos.
Segundo o MP-BA, ele operava um “esquema de abuso de poder e manipulação psicológica”, atraindo seguidores em busca de cura e orientação espiritual. O homem utilizava a posição de líder para assediar mulheres vulneráveis, convencendo as vítimas de que manter relações com ele era necessário para fornecer “energia sexual” para as entidades.
As vítimas, conforme o MP, relataram que eram coagidas a consumir bebidas alcoólicas durante os encontros, o que facilitava os abusos por parte do líder espiritual.
Ao decidir pela condenação em primeira instância, a 4ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Salvador destacou a gravidade das ações, ressaltando que o homem explorava a fé e o lado emocional das seguidoras para satisfazer seus desejos, e que os abusos foram praticados por um longo período e de forma reiterada.
Denúncias surgiram em 2020
A denúncia contra Kleber Aran foi oferecida à Justiça pelo Ministério Público da Bahia, por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Salvador e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que instauraram uma investigação própria a partir de notícias de abusos encaminhadas à Ouvidoria do Conselho Nacional do Ministério Público pelo projeto “Justiceiras”, que atua na proteção dos direitos de mulheres e no combate à violência de gênero.
Em setembro do 2020, o órgão recebeu relatos de quatro pessoas, das quais três eram mulheres — todas da capital baiana. A polícia e o MP não confirmaram se essas três pessoas são as mesmas que procuraram o órgão estadual há pouco mais de quatro anos.
Na época, a defesa de Kléber Aran disse que as acusações eram falsas.
Em abril de 2021, o MP-BA cumpriu mandados de busca e apreensão na “Operação Cristal”, desencadeada por meio de atuação conjunta do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e da 24ª Promotoria de Justiça de Salvador. O objetivo era complementar as provas das práticas ilícitas relatadas pelas vítimas.
Na época, o MP-BA divulgou que elas eram levadas a participar de rituais supostamente religiosos, mas que serviam, na verdade, para “satisfação dos desejos libertinos” do investigado. O órgão detalhou que o suspeito conseguia o silêncio das pessoas por meio de ameaças à integridade física e mental.
Durante as investigações, foram apresentados pelas vítimas ao órgão estadual arquivos de áudio extraídos de conversas de aplicativo de mensagens, revelando “as ações de Kléber Aran para submetê-las à sua lascívia, após criar a ilusão de que teriam sido escolhidas para serem as guardiãs do Cristal”.
Ainda conforme informações do MP, essas pessoas eram cercadas de uma atmosfera de confiança e apreço, levadas a acreditar que a conduta do investigado partia de necessidades espirituais. Após a concretização dos crimes, ele submetia as mulheres a “situações de humilhação e subserviência, permeadas por forte violência espiritual, psicológica, sexual e até financeira”.
Fonte: G1 BA | Foto: Alan Oliveira/G1