Nesta quarta-feira (03), a cantora Maria Bethânia foi empossada como imortal na Academia de Letras da Bahia. Por coincidência ou não, a menina dos olhos de oyá ocupou a cadeira de número 18 da instituição no dia que, segundo o candomblé, é regido pela orixá Iansã – que o sincretismo religioso faz relação com Santa Bárbara, de quem Bethânia é devota.
Recebida de pé e sob aplausos, a cantora começou seu primeiro discurso como membro da Academia de Letras da Bahia ressaltando que ainda se recupera de um resfriado que a tirou de compromissos, mas seguiu relembrando seus antecessores na cadeira de número 18 e agradeceu a nomes como o Senhor do Bonfim e a mãe Carmem, ialorixá do Terreiro do Gantois.
“Entro nesta Academia pelo trabalho que faço com a música e com a literatura. Com a palavra. Meu agradecimento em primeiro lugar aos autores poetas e escritores de modo geral (…) Eu sou uma cantora brasileira e seu como a música pode atingir o povo brasileiro”, disse Maria Bethânia durante a sessão solene realizada no Palacete Góes Calmon, no bairro de Nazaré, em Salvador.
Ainda no discurso, Bethânia falou sobre sua família e se declarou para o irmão Caetano Veloso: “Fui criada em uma casa onde poesia e música eram naturais. Caetano sempre foi meu guia e mestre do meu barco”.
A cerimônia teve acesso restrito para pessoas convidadas – familiares, amigos e autoridades – e foi presidida pelo acadêmico Ordep Serra, presidente da Academia de Letras da Bahia.
Maria Bethânia Vianna Telles Velloso foi eleita imortal da Academia de Letras da Bahia em 11 de outubro de 2022. A cerimônia de posse ia ser realizada em dezembro do ano passado, mas foi adiada em decorrência do aumento, à época, no número de casos de covid-19. A nova acadêmica foi recepcionada em discurso pelo músico, professor e acadêmico Paulo Costa Lima. A cadeira número 18 foi ocupada anteriormente pelo historiador, ensaísta e professor, o soteropolitano Waldir Freitas Oliveira.
A nova acadêmica
Nascida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, Maria Bethânia não tem produção literária de destaque, mas é uma grande defensora da literatura de língua portuguesa, tendo gravado diversos álbuns com poemas de grandes escritores como Fernando Pessoa, João Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade.
A Academia de Letras da Bahia, a mais antiga do Brasil, a elegeu em reconhecimento à sua contribuição para a cultura brasileira. “Maria Bethânia é uma grande estrela. Não só da música popular, mas da inteligência brasileira. Ela uma das grandes damas ilustres da Bahia. Aqui recebemos pessoas que demostram excelência na sua área. Temos aqui não só escritores e poetas, mas juristas, jornalistas, filósofos, cientistas sociais. São pessoas que chegam a um reconhecimento muito grande do seu valor e são candidatos naturais da Academia de Letras da Bahia“, ressalta Ordep Serra.
Bethânia ressaltou o laço entre a música e a literatura, respondendo a quem insiste em dizer que uma cantora não devia fazer parte de uma academia de letras: “Esta casa está recebendo em primeiro lugar, uma mulher, está reconhecendo os poderosos laços entre música e literatura, está dignificando um trabalho que não se dá nos livros ou nas universidades, mas nos palcos, nos discos, no rádio, sem pouso, sem repouso, numa bela e mágica corda bamba como se a menina de Santo Amaro tivesse enfim realizado seu sonho: ser trapezista”.
Maria Bethânia é considerada uma das maiores cantoras e compositoras brasileiras, com cerca de 50 anos de carreira. São mais de 50 álbuns lançados. Ainda ativa na música, com shows e lançamentos de novos álbuns, ela atua em projetos sociais, culturais e conhecida por sua atuação política, tendo sido uma das vozes mais ativas na luta contra a ditadura militar no Brasil e a favor da democracia.
Conversa com a imprensa
Logo após ser empossa, Maria Bethânia reuniu a imprensa para uma conversa. Bem humorada, ela conversou e confessou nunca ter imaginado se tornar imortal da Academia de Letras da Bahia: “Totalmente novidade. Eu fico preocupada com repertório, roupa, com luz, com cenografia, como é a linha do espetáculo. Isso sim me preocupa. Hoje foi uma emoção, uma honraria muito grande”.
Fonte: Alô Alô Bahia | Foto: Elias Dantas / Alô Alô Bahia