Nas águas de março
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Nas águas de março

Autor: Luiz Henrique Borges

Nas águas de março, fechando o verão – me perdoe, Tom Jobim, pelo plágio mal elaborado –, o calendário do futebol brasileiro também alcança a primeira de suas fases decisivas. Os principais campeonatos estaduais já se aproximam do fim e fatos inusitados já podem ser destacados. Por exemplo, contar com apenas um dos grandes na semifinal do Estadual mais badalado do Brasil, o Paulistão, é muito raro. Tomando como base o longínquo ano de 1937, quando o Campeonato Paulista passou ser jogado em liga única, apenas uma vez, três, dos quatro grandes clubes, ficaram de fora da fase semifinal do Paulistão. Aconteceu em 1985, ou seja, há quase quatro décadas e quem se beneficiou da ausência dos rivais foi o tricolor paulista que passou para a história do futebol como os “Menudos do Morumbi”.

Ao ler o apelido, que se vincula ao grupo musical “Menudos”, formado por jovens porto-riquenhos que ganharam projeção internacional na década de 1980, relembrei a indignação musical que sentia toda vez que a minha irmã, a Bia, como todas as jovens da época, apaixonada pelo grupo e seus integrantes, capazes de reunir em um único show, como aconteceu na cidade do México, 500 mil pessoas, afirmava categoricamente que: “Os Menudos são melhores que os Beatles”. Até hoje tenho arrepios com a frase herética que apenas aqueles que sofrem de alguma disfunção cognitiva extremamente séria ou se encontram cegos pela paixão podem proferir. De volta ao futebol, por contar com diversos jogadores novos e talentosos, como o Müller, o Silas e o Sidney, a imprensa apelidou o elenco, dirigido por Cilinho, com o nome da banda que fazia tanto sucesso na época.

Hoje, é o atual campeão paulista, o Palmeiras, o único representante dos grandes na semifinal. O Verdão, de Abel Ferreira, irá encarar o Ituano na próxima fase e, passando, enfrentará ou o Red Bull Bragantino ou o Água Santa na grande decisão. Considero pouco provável que a equipe de Itu supere o Palmeiras, mas é preciso lembrar que a vaga para a final é decidida em jogo único, ou seja, não há espaço para equívocos e posterior recuperação. Por ter feito a melhor campanha, a equipe da capital terá a vantagem de jogar em seu estádio, o Allianz Parque. Depois de assistir à classificação do Ituano contra o Ceará, nos pênaltis, pela Copa do Brasil, tenho convicção de que a equipe rubro-negra jogará muito fechada, buscando uma falha do adversário para fazer o gol e, se não for possível, levar para as penalidades. Minha aposta é que o Palmeiras irá para a final.

No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, o final de semana definirá os seus respectivos finalistas. O Flamengo conseguiu inverter a vantagem vascaína depois da vitória por 3X2 e o Fluminense, derrotado pelo perigoso Volta Redonda, terá que vencer o seu adversário. No Rio, tudo está em aberto. O rubro-negro ainda não mostrou um futebol convincente nas mãos de Vítor Pereira e o Vasco, com os reforços da SAF e a empolgação natural com os investimentos que estão sendo feitos, pode derrotar o seu rival e avançar para a final. O Fluminense jogou muito mal em Volta Redonda, mas se repetir o futebol que apresentou contra o Flamengo pela Taça Guanabara, o tricolor defenderá o bicampeonato estadual.

Em Minas Gerais, o Atlético Mineiro, que atuou com o time reserva pensando no jogo eliminatório da Libertadores, perdeu para o Athletic da histórica cidade de São João del-Rei. O novo e decisivo encontro entre o Galo e o Esquadrão de Aço será no sábado, dia 18/03, no Independência. Sem a necessidade de poupar os jogadores, Coudet deverá escalar a equipe principal e, animado com a classificação obtida para a fase de grupos da Libertadores, entendo que o Atlético é favorito para o confronto. Na outra semifinal, o América Mineiro, clube que se estruturou nos últimos anos e conta com um bom elenco, venceu o Cruzeiro em Sete Lagoas por 2X0 e abriu uma importante vantagem em relação ao seu adversário. Se, no Rio de Janeiro eu evitaria apostar nas duas equipes que decidirão o campeonato, em Minas Gerais, peço desculpas aos amigos cruzeirenses, eu colocaria minhas fichas em Atlético e América.

O Galo, se realmente quiser jogar a final do estadual, só não pode atuar contra o Athletic como aconteceu no primeiro tempo contra o Millonarios da Colômbia. Não sei se os atleticanos, por causa do uniforme extremamente parecido do clube colombiano com o do Cruzeiro, pensaram que estavam enfrentando o seu maior rival ou se era a tensão do jogo decisivo, tiveram muita dificuldade nos primeiros 45 minutos, inclusive as melhores chances, é bem verdade que foram poucas, pertenceram à equipe visitante. No entanto, as mudanças promovidas por Coudet transformaram o time no segundo tempo.

Muito mais envolvente, veloz e determinado, o Atlético, na volta do intervalo, não tomou conhecimento do Millonarios. O clube colombiano praticamente não ameaçou o goleiro do Galo na etapa final e, mesmo o seu gol de honra, com a partida já definida, foi decorrente de uma falha clamorosa de Otávio que recuou a bola nos pés do atacante adversário.

A noite foi iluminada para Paulinho, o camisa 10 do Galo. Ele marcou os dois primeiros gols de sua equipe, ambos de cabeça. Destaco a tabela que resultou no segundo gol, ela foi de rara felicidade e beleza. O gol de Hulk, o terceiro, para mim de voleio, para alguns de meia-bicicleta, também foi muito bonito, mas, meu amigo, confesse, o goleiro do Millonarios deu uma boa colaborada. O ponto negativo para o clube mineiro foi o ridículo cartão amarelo tomado pelo Hulk, que anda muito reclamão, repleto de caras e bocas ao longo do jogo, e que irá suspendê-lo da primeira partida na fase de grupos da competição continental.

Não poderia finalizar a crônica sem falar do meu Botafogo. Depois da desastrosa campanha no Campeonato Carioca, o clube sequer chegou entre os quatro finalistas e, por isso, jogará a “incrível” Taça Rio contra Portuguesa, Audax e Nova Iguaçu, o alvinegro conseguiu avançar na Copa do Brasil sem passar pelo sufoco que enfrentou contra o Sergipe. Jogando em Cariacica, Espírito Santo, o Botafogo construiu a sua maior goleada na história da competição. Derrotou o Brasiliense por 7X1. Ainda sobre a Taça Rio, apesar do “campeão” conseguir uma vaga para a Copa do Brasil do próximo ano, ela é o tipo da competição que qualquer time grande não tem nada a ganhar caso a conquiste, no entanto, tem tudo a perder se fracassar. Em outras palavras, o Botafogo tem a obrigação de ficar com a taça e com a vaga para a competição nacional.

Depois da folgada vitória, conversando com o Professor Gilson, também botafoguense, ele me lembrou de algo muito importante e que faz total sentido para os supersticiosos torcedores do alvinegro. A última vez que uma equipe de futebol que começa com Brasil… e veste amarelo perdeu por 7X1, o seu adversário conquistou o título daquela competição. Já convicto de que a história se repetirá, conquistaremos a Copa do Brasil e, ao final da competição, não digam que eu e o Gilson não avisamos.