Crônicas da Madrugada
Autor: Danilo Sili Borges
Como devo responder as primeiras inquietações filosóficas do bisneto, quando na pré-adolescência me perguntou:
– Vô, como o Sol e as estrelas apareceram no céu? E nós, Vô, a Terra, quem nos colocou aqui?
Para um avô religioso, o caminho mais óbvio foi o de encaminhar o garoto ao livro sagrado da religião que nossa família professa e afirmar ao jovem, que ali ele encontrará toda a verdade!
Idoso moderno e letrado que sou, temi ao indicar aquele caminho, cuja narrativa tinha sido imaginada por pessoas, por mais inspiradas que fossem, há milênios, que careciam de terem tido a bagagem de informações necessária para entender e explicar o mundo que habitamos hoje.
Surpreendi-me ao saber que antes de me inquirir, o jovem já tivesse consultado as ferramentas digitais disponíveis e encontrado, vindo da ciência, a Teoria do Big Bang que afirma (ou faz acreditar) que tudo começou há 13 bilhões de anos, com a magnífica explosão de uma formidável quantidade de energia, altamente concentrada, e que ali, exatamente, teve início o Universo, com toda sua grandiosidade. E que o que vemos hoje ainda é o resultado dessa explosão em evolução.
Intuitivamente o jovem teria percebido que aquela energia primeva e contida, sabe-se lá como, teve a capacidade de transformar-se em toda a matéria que seus olhos podem ver e toda a que ele percebe existir ao observar o firmamento, o mar e a força da natureza.
A dúvida que nele se instalara ia além do que me havia perguntado. O que lhe interessava saber é se eu conhecia a teoria do Big Bang e o que achava dela, como descobri ao longo da conversa.
E aí veio a segunda e definitiva pergunta:
– E quem criou aquela energia que explodiu no Big Bang? Quando ela foi criada e por quê?
E o vovô não teve saída, a não ser: – Tente encontrar a resposta naquele livro antigo!
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No século XX, os cientistas conseguiram tirar energia da matéria, numa espécie de processo inverso ao do Big Bang. Na verdade, isso não era na realidade novidade, desde sempre as estrelas, como o nosso Sol, vêm fazendo isso, por um processo mais eficiente – a fusão nuclear – do que o utilizado por aqui até agora – a fissão nuclear.
A história da humanidade pode ser escrita com base na maneira com que os humanos vêm usando e dominando a energia, desde os primórdios. Energia foi sempre um insumo difícil de ser conseguido, apesar da prodigalidade com que nos é fornecida pelo sol, utilizando os mais diversos meios: (os fósseis, como o petróleo, o carvão mineral) formados através de eras geológicas; a fotossíntese diária, o calor que evapora as águas, que retornam dando força aos rios e movimentando o ar.
A nossa aventura sobre a Terra é cada vez mais exigente de energia. Máquinas a vapor, de combustão interna, reatores, motores elétricos, equipamentos diversos. Os necessários incrementos energéticos foram sendo obtidos pela inventividade inesgotável dos humanos.
A tecnologia nos coloca no limiar de um mundo com energia abundante, e melhor de tudo, limpa! A energia eólica e a fotovoltaica vão alterando o perfil das matrizes energéticas de muitos países. As condições naturais do Brasil nos colocam em situação privilegiada. A geração fotovoltaica já atinge o 2º ou 3º lugar do total produzido de energia elétrica. Para se ter ideia do que isso representa, a fonte solar nos fornece hoje 26 GW, a Hidroelétrica de Itaipu, a maior da América do Sul, gera de hidroeletricidade 14 GW. A energia eólica 25 GW.
O ensolarado território brasileiro mostra vantagens inigualáveis para o crescimento desse tipo de geração, principalmente pela sua característica de poder ser distribuído pelo território. Cada telhado, cada terraço ou terreno inóspito pode ser utilizado para produzir energia. Os investimentos na sua grande maioria são feitos por particulares que instalam em suas casas ou negócios as placas fotovoltaicas, que hoje têm preços razoáveis com tendência sempre declinante.
A produção dessas instalações produz energia durante o dia, e os utilizadores, à noite, devem receber energia da rede das concessionárias, as quais acumulam os excessos da energia gerada durante o dia e a devolvem à noite. Com o desenvolvimento de baterias para armazenagem do excesso da energia produzida durante o dia, cada vez mais começaremos a ver sistemas autônomos de geração solar, que poderão independer das redes das distribuidoras, que aliás pressionam o governo para aprovarem legislação que desincentiva a geração solar, como a recente Lei 14.300/2022
É razoável que as operadoras da distribuição de energia devam receber pelo serviço que prestam, como um armazenador e fornecedor de energia, valor compatível, mas que cabe aos governantes terem em mente, que o fundamental para o país é a geração de energia abundante, limpa e disponível, pois isso significará importante vantagem comparativa para todas as atividades econômicas do país.
A implantação da geração distribuída propiciada pelas instalações fotovoltaicas, têm custo zero para o governo, estimula a economia e evita investimentos vultosos em outras modalidades de geração como a hidroelétrica ou as poluidoras termoelétricas.
As autoridades devem ser suficientemente responsáveis para terem sempre em mente o bem comum e não se deixarem levar por pressão dos que pretendem queimar óleo indefinidamente para produzir energia, onerando e impedindo o desenvolvimento do país.
Crônicas da Madrugada
Brasíia, março de 2023
Danilo Sili Borges
Membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília